Morre aos 68 anos o pernambucano Jayme Leão, ilustrador da coleção Vagalume
O artista gráfico pernambucano Jayme Leão, mais conhecido pelas capas que ilustrou entre os anos 1970 e 1980 para a coleção infantojuvenil Vagalume, da editora Ática, morreu nesta segunda (10), aos 68 anos, em São Paulo, vítima de complicações decorrentes de uma insuficiência renal.
Leão vinha se recuperando de uma cirurgia neurológica pela qual passara no final de janeiro, após sofrer um traumatismo craniano devido a uma queda na escada de casa, no bairro do Mandaqui (zona norte de São Paulo).
Na ocasião, perdeu parte da memória, mas já vinha reconhecendo parentes e conseguindo ler quando, há uma semana, apresentou um quadro de desidratação e voltou da clínica de recuperação onde estava para o hospital Mandaqui.
Nascido no Recife, em 18 de março de 1945, mudou-se para o Rio na infância e, na juventude, instalou-se em São Paulo. Autodidata, tendo cursado apenas a escola primária, começou a trabalhar aos 15 anos para o jornal carioca "Liga", pertencente às Ligas Camponesas.
Com o início da ditadura, passou a trabalhar como alfaiate e começou a ilustrar para a editora Brasil América, produzindo HQs. Em pouco tempo aproximou-se da publicidade, área na qual atuou por vários anos —abandonou a carreira por não suportar a ideia de "ganhar dinheiro mentindo", segundo sua filha Lídice Leão, jornalista.
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Sou Lídice por causa dele (que queria que eu tivesse uma história sobre o meu nome pra contar). Leão por causa dele. Jornalista por causa dele (que me levava para passear nas redações quando eu era criança). Devoradora de livros por causa dele (que me presenteava com livros e álbuns do Asterix desde que comecei a ler as primeiras sílabas). Esquerdista por causa dele (que fazia pôsteres sobre as guerrilhas da Nicarágua e El Salvador e nos levava para ajudar a vendê-los nos atos políticos para enviar o dinheiro para as guerrilhas). Rigorosa com alguns gostos culturais por causa dele (que não nos deixava assistir aos filmes dos Trapalhões e nos levava para assistir aos do Akira Kurosawa). Louca por uma cerveja e uma conversa de bar por causa dele (que nos levava para os bares do Bexiga e juntava as cadeiras para dormirmos quando o sono nos derrubava). Enfim, cresci ouvindo minha mãe dizer: "Essa menina tem o temperamento igualzinho ao do pai dela. Quando está lendo um livro, o mundo pode desabar que ela não vê nada". Pois é. A culpa é dele. Do Jayme Leão. O maior ilustrador desse país e um dos maiores do mundo. O melhor, mais louco e mais autêntico de todos os pais. Nunca mais vamos tomar cerveja juntos, ouvindo Noel Rosa, Vinícius ou Cartola. Vai fazer falta, pai. Muita falta. (Para continuar, clique AQUI).
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Meu comentário, publicado originalmente no jornal GGN (post acima):
Um senhor artista gráfico
A caricatura com que ele me presenteou (sujeito generoso, o Jayme) está no meu livreto de picles 'Filhotes do Pasquim', em meu livro de cartuns/picles 'A Terra não é toda azul', bem como no 'caput' de meu blog domacedo.blogspot.com.
Um fraternal abraço aos familiares e amigos de nosso querido amigo Jayme Leão.
P.s.: Fui informado ontem da morte do Jayme pelo cartunista Dino Alves, dileto amigo. Dino, ora em Teresina, viveu alguns anos em São Paulo, onde por algum tempo trabalhou com Jayme na Editora Ática.
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