domingo, 16 de março de 2014

UCRÂNIA ACIRRA A LENGALENGA

Luojie.

A Guerra Fria e a lengalenga dominante

Por J. M. Nobre-Correia

Ucrânia. Em termos militares e diplomáticos, a Guerra Fria terminou no início dos anos 1990. Mas, no jornalismo, ela continua perfeitamente ativa...

O jornalismo é uma profissão extremamente difícil. Sobretudo se a redação de que o jornalista faz parte for numericamente reduzida e tiver falta de especialistas. Mas a condição de cidadão que procura compreender a atualidade é ainda pior! Porque se confronta então, nos media, com uma enxurrada de banalidades desprovidas do mais elementar conhecimento do assunto. E desprovida sobretudo de todo e qualquer sentido crítico em relação à lengalenga do discurso dominante.

Ora, "os media são americanos", escrevia o sociólogo britânico Jeremy Tunstall no título do livro que publicou em 1977. E a seleção como a fabricação da informação veiculadas no "mundo ocidental" são largamente americanas, no sentido estado-unidense da palavra. Concebidas até ao início dos anos 1990 como armas da Guerra Fria contra a União Soviética. E depois como armas de arremesso contra a Rússia, potência capaz ainda de fazer frente aos EUA.

Manda-se assim para a Ucrânia gente que não fala nem ucraniano nem russo, e cuja "competência" sobre o assunto lhe vem da leitura do International New York Times e da visão da CNN ou da Fox. E que se põe a debitar banalidades. Ignorando tudo da história da Ucrânia e da Crimeia. Insistindo que há uma base russa na Crimeia: e quantas estado-unidenses há na Europa (começando pelos Açores)?
Que há lá soldados russos: e quantos estado-unidenses há na Europa (começando por Bruxelas e Mons, na Bélgica)?

Dizem depois que a Crimeia não pode constitucionalmente separar-se da Ucrânia, esquecendo que pregaram o contrário do Kosovo em relação à Sérvia. Que o referendo na Crimeia é ilegal, quando a Catalunha e a Escócia vão fazer o mesmo. Que a intervenção da Rússia na vizinha Ucrânia será ilegal, como se intervenções sem conta dos EUA em países estrangeiros não o fossem.

Repete-se o que media patrioteiros dominantes dos EUA dizem. E os diretores da informação até esperam que assim seja. Porque, jornalisticamente, não é nada fácil ir a contracorrente da lengalenga dominante... (Fonte: aqui).

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"Que a intervenção da Rússia na vizinha Ucrânia será ilegal, como se intervenções sem conta dos EUA em países estrangeiros não o fossem."

.O Direito internacional não pode ser maniqueístico, tipo "se é americano, é bom, se é russo, é ruim". Estimular a derrubada de governos ou incumbir-se da derrubada é ilegal, pois violenta a soberania do país visado. O Brasil, por exemplo, está obrigado a reger-se, em suas relações internacionais, pelos princípios da  autodeterminação dos povos, da não-intervenção, da igualdade entre os Estados e da solução pacífica dos conflitos, entre outros princípios elencados no artigo 4º da Constituição Federal. Em face disso, o Brasil está agindo corretamente em face da situação observada na Venezuela, não obstante os 'reparos' disparados por colunistas amestrados e políticos subservientes a Tio Sam.

.Em 1962, a URSS tentou instalar base de mísseis em Cuba, no episódio conhecido como Baía dos Porcos. Foi uma brutal comoção, e a coisa felizmente não foi adiante. Agora, diz-se que a Otan cogita 'marcar presença' na Ucrânia. Que implicações advirão?

."Nenhum patriotismo pode servir de alvará para jornalismo enviesado e mentiroso contra a Rússia. A Guerra Fria acabou há 25 anos. É hora de os norte-americanos aprenderem a avaliar objetivamente as ações dos russos, e abandonarmos o prisma estreito do etnocentrismo ocidental." - Palavras de  Dmitry Orlov, engenheiro russo-americano e escritor - aqui.

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