domingo, 29 de novembro de 2020

AGÊNCIA PÚBLICA APONTA MENTIRA DA LAVA JATO PARA NÃO CUMPRIR DETERMINAÇÃO DO STF

.A agência de jornalismo lembrou várias reportagens publicadas na Vaza Jato que contradizem o argumento de procuradores de Curitiba para não entregar os documentos do acordo da Odebrecht à defesa do ex-presidente Lula  

No Brasil 247 - A Agência Pública divulgou nesta sexta-feira (27) nota em que aponta uma mentira da operação Lava Jato para deixar de aterder à determinação, reiterada, do ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF).   

Para não disponibilizar à defesa do ex-presidente Lula toda a documentação referente aos acordos de leniência da Odebrecht, incluindo comunicações com autoridades dos Estados Unidos e da Suíça, procuradores da Lava Jato afirmaram que “não foi produzida nenhuma documentação relativa a comunicações com autoridades estrangeiras para tratar do acordo de leniência” da Odebrecht.   

No entanto, a Pública aponta, por meio de várias reportagens publicadas no âmbito da Vaza Jato, diversos momentos em que a Lava Jato e autoridades do Departamento de Justiça Americano (DOJ) e do FBI trocaram informações e estratégias sobre o acordo da Odebrecht.   

"Se todo mundo sabe que a Lava Jato negociou com procuradores americanos e o FBI, por que a Força-Tarefa nega? Só há duas respostas – e ambas podem incorrer em crime, partindo de funcionários públicos. Ou os procuradores estão escondendo os registros, e descumprindo a determinação da mais alta Corte, ou eles destruíram todos os documentos relevantes de uma investigação em benefício próprio", diz a nota, assinada pela co-diretora da Pública, Natália Viana. 

Leia a nota na íntegra:   

A Lava Jato mentiu para o STF – e nós podemos provar

  Se o fato passou despercebido ao leitor, respire fundo. A decisão proferida na última terça-feira pelo ministro do STF Ricardo Lewandovski a respeito de um pedido da defesa de Lula à Lava Jato traz o mesmo tom de indignação que sentirá. 

“Não deixa de causar espécie (...) o ostensivo descumprimento de determinações claras e diretas emanadas da mais alta Corte de Justiça do País, por parte de autoridades que ocupam tais cargos em instâncias inferiores”. 

Por que o Ministro está tão exasperado? Porque mais uma vez a Lava Jato se recusou a entregar comunicações mantidas com autoridades americanas, embora diversos juízes tenham ordenado isso. Desta vez, ao descumprir decisão do próprio Lewandowski, os procuradores de Curitiba chegaram ao cúmulo de escrever que “não foi produzida nenhuma documentação relativa a comunicações com autoridades estrangeiras para tratar do acordo de leniência” da Odebrecht. 

Ora, nós da Agência Pública, que é parceira do site The Intercept Brasil na análise dos diálogos vazados, sabemos que houve, e muita, comunicação com os americanos. No dia 13 de outubro de 2015, por exemplo, o procurador Orlando Martello enviou um email para Patrick Stokes, então chefe da divisão que cuidava de corrupção internacional no Departamento de Justiça Americano (DOJ). Ele explicava que o STF não admitiria o interrogatório de delatores por agentes americanos em nosso território, mas sugeria caminhos para contornar isso – seja levando-os para os Estados Unidos, fazendo a entrevista online ou fazendo um “teatrinho” no qual os procuradores brasileiros poderiam abrir a sessão e depois passar para os americanos fazerem perguntas. “Eu pessoalmente não acho que esta é a melhor opção porque haverá alguns advogados, como os da Odebrecht, que vão ficar sabendo deste procedimento (advogados falam uns com os outros, especialmente neste caso!) e vão reclamar”, escreveu Martello, em inglês. 

A troca com os americanos também era discutida com frequência no chat de sugestivo nome “Chat Acordo ODE”.  Uma delas foi uma correspondência por email iniciada em 8 de setembro de 2016 pelo adido do FBI na embaixada americana David Williams ao procurador Paulo Roberto Galvão, oferecendo ajuda para quebrar a criptografia do sistema de propinas da Odebrecth, MyWebDay. “Boa tarde Paulo, e a todos. Se não me engano o assunto de baixo é o mesmo que o Carlos Bruno explicou para mim recentemente na despedida do Adido Frank Dick na embaixada do Reino Unido”, escreveu, cordial e em português, o agente americano. A discussão por email se seguiria por dias. 

Se todo mundo sabe que a Lava Jato negociou com procuradores americanos e o FBI, por que a Força-Tarefa nega? Só há duas respostas – e ambas podem incorrer em crime, partindo de funcionários públicos. Ou os procuradores estão escondendo os registros, e descumprindo a determinação da mais alta Corte, ou eles destruíram todos os documentos relevantes de uma investigação em benefício próprio.  

Lewandowski escreve, e com razão, que o ato é mais grave “porque coloca em risco as próprias bases sobre as quais se assenta o Estado Democrático de Direito”. O ministro determinou, agora, que a Corregedoria-Geral do MPF verifique se de fato não existem documentos sobre as comunicações, o que pode demonstrar, para os advogados de Lula, que a colaboração foi “informal”, e portanto, ilegal.

Natalia Viana, codiretora da Agência Pública   

.A agência de jornalismo lembrou várias reportagens publicadas na Vaza Jato que contradizem o argumento de procuradores de Curitiba para não entregar os documentos do acordo da Odebrecht à defesa do ex-presidente Lula  

A Agência Pública divulgou nesta sexta-feira (27) nota em que aponta uma mentira da operação Lava Jato para deixar de atender à determinação, reiterada, do ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF).  -  (Aqui).

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Comentário Deste Blog


A jornalista Letícia Duarte produziu o livro 'VAZA JATO', contando os bastidores da série de reportagens publicadas pelo site The Intercept Brasil, que revelaram
"as práticas corruptas do ex-juiz Sergio Moro e dos procuradores da força-tarefa da Lava Jato que tanto pregavam o discurso contra a corrupção". 

Em entrevista recentemente concedida a Leonardo Attuch, do Brasil 247, a citada jornalista emite a seguinte opinião:

"Acho que a gente historicamente, e com razões, pinta os Estados Unidos como o malvado tentando influenciar na América Latina, e acho que muitas vezes os Estados Unidos fizeram esse papel. Mas cada vez mais no caso da Lava Jato, para mim, o que dói mais é ver brasileiros contra brasileiros, operação nascida e comandada por brasileiros com seus próprios interesses, em nome dos seus interesses. Não acho que o Sergio Moro estava pensando nos Estados Unidos quando decidiu ser ministro do Bolsonaro ou quando decidiu que tinha que prender o Lula. Tem questões que são tipicamente brasileiras ali. Foi ação de brasileiros em nome de seus próprios interesses ou de convicções do que se imaginava que o Brasil deveria ser. Para mim isso é muito mais relevante”.  (Para conferir o vídeo, clique Aqui).

Mas o caso é mais complexo: a jornalista Letícia Duarte deveria levar em conta que Sergio Moro e Dallagnol (esse com respaldo do então PGR Rodrigo Janot) podem ter recorrido aos EUA à cata de apoio/cooperação (afinal, já havia rumores de que antes disso Tio Sam  havia feito 'diagnóstico' sobre o Pré-Sal e outros temas, à revelia do governo brasileiro), valendo até lembrar que naquele país a Petrobras operava na Bolsa de Valores (com as famosas ADRs), envolvendo, claro, 'n' acionistas e dólares, prato cheio para saciar os 'interesses' de muitos espertalhões. Bastava, assim, fazer as 'articulações' devidas em busca de cooperação - incluindo a de departamentos governamentais. ("Os Avanços da Lava Jato Sobre o Estado Brasileiro", por Luis NassifAqui).

A propósito, quem lembra da "Fundação Lava Jato" (Aqui) - até hoje sob o crivo do ministro Alexandre de Moraes, que 'frustrou os sonhos' de doutos procuradores, deslumbrados ante tanta grana 'generosamente' cedida pelos Departamentos de Justiça/Estado em face de multas pagas pelo Brasil para sustar processos judiciais lá movidos contra a Petrobras?

Mas o fato é que, ao fim e ao cabo, o direito à ampla defesa continuará cerceado ao ex-presidente Lula: decisão monocrática do ministro Lewandowski sobre acordo de leniência da Odebrecht é 'escamoteada'; decisão do plenário, presidido por Fux, pró Lava Jato independentemente do que prescrever a Constituição. Resumindo: Odebrecht e Lava Jato pairam sobre tudo, ponto.

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