"A garantia dada pelo ministro da Defesa, general Silva e Luna, de que os militares respeitarão o resultado eleitoral, e o governo dele resultante, recompõe o clima abalado pelas referências do comandante do Exército a possíveis questionamentos à eleição.
A verdade é que não há quem possa dar tal garantia. Em qualquer lugar ou tempo, a garantia provém, ou não, da cultura cívica e da maturidade institucional alcançadas pela comunidade militar. São valores sujeitos a variações e de aferição nem sempre fácil. Em que nível estão aqui, não se sabe.
As palavras do comandante Eduardo Villas Bôas foram logo interpretadas como referência a riscos de ação militar em razão do resultado eleitoral. A dedução não foi estapafúrdia. Nem segura. A falta de clareza do que foi dito e por que foi dito, deficiência agravada por se tratar de tema tóxico, permitia mais interpretações. E mesmo a simples impossibilidade de entender alguma coisa ali. Ainda mais, tendo como fundo um país repleto de conturbações e, no entanto, sem manifestações militares mais significativas do que as insignificantes meias frases de um general Mourão, passaportes para a sua reforma.
Daí não se conclui a inexistência de risco golpista. O apoio a Bolsonaro nas classes de mais alta remuneração, como constatado pelo Datafolha, indica que a um movimento golpista não faltaria nem sequer a adesão civil tradicional. Mas não se sabe como está a caserna. O perceptível é que, não havendo garantia contra o golpismo, também não há (ainda?) o ambiente de golpe, o cheiro de enxofre e desgraça que empesteia o ar. A menos que se chegue muito perto de Bolsonaro e seu pelotão de acólitos. (...)."
(De Jânio de Freitas, em sua coluna de hoje, 23, na Folha de S Paulo, intitulada "Sem garantia", reproduzida pelo site Conversa Afiada - AQUI.
Quando um militar ministro da Defesa contesta publicamente as palavras do comandante do Exército - que acenara com a possibilidade de desrespeito frontal à Constituição -, isto significa que pode até não haver risco golpista, mas é um forte indicador de que algo anda estranho, muito estranho. Razão pela qual soam pertinentes as impressões manifestadas pelo articulista.
O texto completo da coluna em destaque foi descrito pelo blog GGN - AQUI -, com foco no procurador Carlos Fernando dos Santos Lima e em Antonio Anastasia, candidato ao governo de Minas).
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