sábado, 15 de setembro de 2018

CONTEXTO? O QUE É ISSO? É DE COMER?


"O texto de hoje é bem curtinho, praticamente um adendo ao texto de ontem, em que eu mostrei como a escolha de palavras propiciam determinados framings (ou enquadramentos) dos candidatos.
Apenas observem as manchetes de hoje:
  1. Governador acusa PT de ‘preconceito’ (Estadão, interna)
  2. PT atrasa pagamento de equipe de TV (Estadão, interna)
  3. Haddad é ignorado por petistas em evento (Folha, Interna)
  4. Haddad: ‘O demônio do país virou o PT’ (Globo, capa)
  5. Haddad: Demonização do PT levou eleitor ao erro (Globo, interna)
O Estadão pinta o PT como preconceituoso e mau pagador (a reportagem informa que a alteração de CNPJ da campanha, com a troca de Lula para Haddad, causou o atraso nos pagamentos). Folha trouxe a manchete que, se feita com mais cuidado, poderia até ser chamada de jornalismo (ainda existe resistência a Haddad dentro do PT, embora a ordem agora seja não externar mais a coisa).
Mas O Globo, ah, o Globo...
Jogou o contexto dentro do carro da Berenice que tá lá rodando e rodando e rodando...
Citou uma fala do Haddad no depoimento ao JN (aquilo que aconteceu no JN ontem não foi uma entrevista) de ontem, não deu o contexto de fala e meteu na boca do candidato petista a afirmação de que seu próprio partido é o demônio. O leitor do Globo tomou um banho de inferências, proposições, metáforas e saiu encharcado de antipetismo – troço que, dependendo da pessoa, demora a secar ou sair.
A manchete interna é mais honesta e mais condizente com o contexto do depoimento de ontem do Haddad.
Mas eu tendo a eleger (4) a manchete mais canalha de toda a eleição. Usei o verbo tender porque sei que ainda temos muito Segura Berenice pela frente – lembrem-se da “capa da Veja week”, que só ocorre na última semana de outubro."



(De Letícia Sallorenzo, a 'Madrasta do Texto Ruim', post intitulado "Contexto? O que é isso? É de comer?", publicado no GGN - Aqui.

Muitos estão escandalizados com o comportamento da grande imprensa relativamente ao ex-presidente e parceiros. Não há razões para tanto. Quem não sabe ou vê que o jogo vem sendo rasteiro há um bom tempo? De qualquer modo, Fernando Haddad, em seu teste mais espinhoso até aqui, soube encarar seus inquisidores. E com uma vantagem sobre outros candidatos que também sofreram alguma pressão: reagiu com elegância, sem destemperos verbais, como fez e vem fazendo o bem articulado Ciro Gomes.

A Madrasta, não obstante, foi precisa: a manchete mais canalha de toda a eleição está por vir: mantida a tradição, ocorrerá na última semana de outubro, quando do segundo turno - onde Haddad, espera-se, estará).

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