terça-feira, 15 de novembro de 2016

QUANDO ESCASSEIA O CRÉDITO BANCÁRIO, ACENDE O SINAL...


E quando o crédito seca até nos bancos públicos? E as empresas?

Por Fernando J.

"Sem consumo de governo (por conta da PEC 55), sem consumo das famílias (por conta do desemprego) e sem o impulso das exportações (por conta da apreciação cambial), de onde viria o crescimento? Da fé cega e da faca amolada dos cortes. Será um desastre continuado, fazendo a economia regredir uma década."

Nos momentos de crise, recessão econômica, compreende-se que a banca privada se retire do mercado de crédito, seja extremamente seletiva e restritiva. Porém, torna-se trágico e desastroso quando o maior banco público faz o mesmo. O BNDES devolve ao tesouro R$ 100 milhões (Nota deste blog: São 100 bilhões), e sinaliza que vai priorizar os financiamentos da desestatização. E o BB, que supostamente atenderia a média e pequena empresa, como fica? Desde 01.11, o Banco do Brasil, que já vinha operando de forma análoga aos bancos privados quanto a restrição creditícia, passou a exigir garantia real (Nota deste blog: Garantia real: hipoteca, penhor...) nas operações com empresas classificadas como risco C, garantia pessoal (Nota deste blog: Garantia pessoal: Com base, em especial, no conceito do cliente) não mais, operações já concedidas permanecem até a liquidação, novas, somente garantia real. Ora, a esmagadora maioria do segmento MPE (Micro e pequenas empresas) está situada no risco C, na prática significa que acabou o crédito.

Acrescente-se a isso que, em cenários de crise, a Diretoria de Crédito dá uma volta no parafuso dos parâmetros de análises de clientes, fazendo com que aquela pequena empresa que nos últimos anos sempre foi risco B, caia para C no atual cenário, ampliando ainda mais a restrição de crédito sobre o segmento empresarial.

PROGER - Programa de Geração de Emprego e Renda - A joia da coroa do BB, linha de crédito exclusiva do BB, com recursos do FAT (Nota deste blog: Fundo de Amparo ao Trabalhador), destinada a financiar investimentos, prazos de até 6 anos, carência de até 6 meses, juros baixos. O BB era "incentivado, motivado" a oferecer a linha de crédito por causa do baixo risco, visto que 80% do risco banco era coberto pelo FGC - Fundo Garantidor de Crédito. Na prática, se uma operação de 100 mil desse chabu, o banco contabilizaria em prejuízo apenas 20 mil, os 80 mil eram empurrados para o FGC. Era. O FGC acabou (não sei quando, mas acabou), e como o Banco do Brasil tornou-se, há muito tempo, adepto da intermediação financeira sem riscos, colocou a linha de crédito no limbo. Acabou-se o "incentivo", acabou a linha. Conheço gerentes de banco que não assinaram uma única operação de Proger nos últimos 24 meses. 

O Proger é uma linha de crédito guarda-chuva, debaixo dela cabe praticamente tudo, atende todos os segmentos empresariais situados na MPE, todos os itens são passíveis de financiamento de longo prazo. Em cenários de crise, fecha-se o crédito, encurtam-se os prazos, elevam-se brutalmente as taxas de juros (risco alto=juros altos) nos bancos privados. Inadmissível que bancos públicos pratiquem o mesmo.

Com o BNDES fora e o BB também fora, será sim um desastre (ferroviário) continuado. 
(Fonte: Aqui).

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Se as micro, pequenas e médias empresas da área comercial estão sendo tratadas nesse nível, o que dizer da área rural? A agricultura familiar e os produtores beneficiários do PRONAF investimento certamente estão com as mãos na cabeça. (Sobre o PRONAF, este escriba já se manifestou neste blog, há um bom tempo atrás). 
Há um judicioso comentário do autor deste post, no seguinte teor:

"...1. Se a atual diretoria do BB for confrontada com esse comportamento, de sair completamente, mas fingir que não saiu do crédito, responderão: "Estamos preservando os capitais do Banco e os interesses dos acionistas". O País? Não vem ao caso;
2. Há dois BBs. Um, o antigo, que não sentia vergonha de ser chamado de "banco público", ao contrário, sentia orgulho. E outro, neoliberal, que surgiu ainda no final do governo Itamar Franco, floresceu durante o FHC I e II, e atravessou incólume os governos Lula e Dilma. Estes, têm horror atávico à expressão "banco público". Querem ser vistos, reconhecidos e percebidos pelo Mercado como "águias do mercado financeiro". Rejeitam toda e qualquer política pública. Fingem aceitar; [Obs. deste blog: É fato, porém cumpre considerar que programas como o PROGER e PRONAF estavam disponibilizados, embora, é verdade, no caso de PRONAF inexistisse estímulo deliberado do BB à sua aplicação. Este escriba 'esteve lá' e se orgulha por haver - por conta própria - estabelecido metas de PRONAF Investimento, sem prejuízo do cumprimento, com bom clima organizacional, das metas 'do Banco'].
3. Com a provável ou já confirmada extinção do MDA - Ministério do Desenvolvimento Agrário, vai para o espaço a última joia da coroa das políticas públicas praticadas pelo BB, o Pronaf, sua área. O BB neoliberal soltará foguetes com a desobrigação de ter de se ocupar com uma enorme "perda de tempo", qual seja, a agricultura familiar;
4. Com a reestruturação que teve início hoje, 14.11.2016, e o gigantesco PDV/demissão que virá em seguida, o BB caminha para se transformar em uma grande Central de Telemarketing."
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Diante dos comentários suscitados (poucos, porém ratificadores do que se contém no post), o articulista arremata: 

"É bom receber esse retorno, senão as pessoas poderiam pensar em exagero da minha parte. Não é. Modéstia à parte, conheço profundamente o BB e sua cultura organizacional, onde entrei em 1975 e saí em 2007. As informações que tenho vêm direto da fonte, de quem está na ativa"). 

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