Steve Bannon, estrategista e conselheiro de Trump
A ascensão do Movimento Alt-Right
O que pensa o polêmico grupo acusado de racismo e antissemitismo que terá representante no alto escalão do governo Trump
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Simpatizantes da direita alternativa vibram com anúncio de estrategista-chefe e conselheiro de Trump
A vitória de Donald Trump trouxe à luz um polêmico movimento nascido no submundo da internet - e que agora poderá ter um representante num cargo-chave da Casa Branca.
Simpatizantes da chamada "alt-right" (abreviação de "alternative right", "direita alternativa", em português) vibraram com o anúncio, no domingo, de que Trump nomearia o executivo Steve Bannon como estrategista-chefe e conselheiro sênior de seu governo.
Já críticos, de diferentes espectros ideológicos, inclusive da direita, dizem que a nomeação deixará o governo americano sob a influência de um movimento racista, antissemita e que acredita na superioridade dos brancos.
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Bannon presidiu o Breitbart News, site de notícias que ele próprio definiu como a "plataforma da alt-right". Deixou a função para ser o estrategista-chefe da campanha de Trump.
O site já comparou o trabalho de uma agência que provê assistência para o aborto ao Holocausto, chamou de "judeu renegado" um comentarista conservador e aconselhou mulheres que se queixam de assédio online a sair do computador e parar de "arruinar a internet para os homens".
Para o Southern Poverty Law Center, ONG que monitora crimes de ódio nos EUA, Bannon é o principal responsável pela transformação do Breitbart News numa "máquina de propaganda etno-nacionalista branca".
Antes tido como marginal, o site ganhou importância na eleição ao apoiar ferozmente Trump em seu embate com o presidente da Câmara dos Deputados, Paul Ryan, após declarações inflamadas do candidato sobre mulheres, minorias e até veteranos de guerra.
"A extrema-direita racista, fascista, estará representada a poucos passos do Salão Oval", escreveu no Twitter John Weaver, assessor do governador de Ohio, John Kasich, que concorreu com Trump pela candidatura republicana.
Reince Priebus, chefe de gabinete de Trump
O chefe de gabinete nomeado por Donald Trump, Reince Priebus, que disputará com Bannon o poder de influência sobre Trump, defendeu a escolha do presidente eleito e definiu Bannon como "uma força do bem".
"Eu não vi nenhuma dessas coisas que as pessoas estão gritando sobre ele. É uma bom time, funciona", afirmou. Ele ainda sugeriu que as pessoas olhassem para ele, o conhecessem antes de emitir uma opinião.
Já o ex-líder da Klu Klux Klan (principal movimento supremacista branco nos EUA) David Duke elogiou a escolha de Bannon e disse que o assessor cuidará do aspecto mais importante do governo: a ideologia. Trump já foi criticado por não se distanciar claramente da KKK.
Identidade europeia X multiculturalismo
A 'alt-right' não tem uma definição única. Já foi chamada de extrema-direita da era digital e agrega grupos distintos com, em comum, uma intensa atuação nas redes sociais, muitas vezes provocadora. Não por acaso o Breitbart News, 'plataforma da alt-right' é o quarto site do mundo em total de comentários, segundo o próprio Bannon.
O termo foi cunhado em 2008 pelo jornalista Richard Spencer, considerado um dos principais ideólogos do movimento. Spencer preside o National Policy Institute, que se define como uma "organização dedicada à herança, identidade e ao futuro de pessoas de ascendência europeia nos EUA".
Formado em filosofia política na Universidade de Chicago, Spencer já declarou que o ativista negro Martin Luther King Jr. (1929-1968) era uma "fraude" e um símbolo da "desconstrução da Civilização Ocidental". Ele também afirmou que imigrantes latinos nos EUA estavam "se assimilando ao longo das gerações rumo à cultura e ao comportamento dos afro-americanos" e lamentou que o país estivesse se tornando diferente da "América Branca que veio antes".
Milo Yannopoulos, editor do site Breitbart News
Um artigo no Breitbart News coassinado pelo britânico Milo Yannopoulos, editor do site e tido como um dos porta-vozes da alt-right, diz que o movimento agrega várias correntes de pensamento unidas mais pelo que querem destruir do que construir.
O principal alvo do movimento é o multiculturalismo, a crença de que povos com diferentes culturas podem conviver harmonicamente num mesmo espaço. "A alt-right acredita que algum grau de separação entre os povos é necessário para que uma cultura seja preservada", afirma o texto.
O movimento, que defende conter a imigração nos EUA para preservar a cultura branca e europeia, abraçou com entusiasmo a candidatura de Trump e sua proposta de construir um muro na fronteira com o México.
Em agosto, a candidata democrata Hillary Clinton citou a alt-right ao acusar Trump de promover o preconceito e a paranoia na campanha. Ela definiu a alt-right como uma "ideologia racista emergente".
Membros do movimento agradeceram a publicidade. "A alt-right sempre se lembrará do dia em que você ajudou a nos tornar a verdadeira direita", tuitou um simpatizante.
Racista ou racialista?
O professor de ciência política do City College of New York Thomas Main, que está escrevendo um livro sobre a alt-right, define o movimento como "racialista".
"Racialismo é uma ideologia, a noção de que a minha identificação política está ligada à minha raça e de que eu buscarei avançar as bandeiras dela, mesmo que à custa de outras raças", ele diz à BBC Brasil.
Main distingue a alt-right de grupos como a Klu Klux Klan e neonazistas. "Esses são grupos violentos, quase criminosos, formados por iletrados. A alt-right não é violenta, não prega a violência".
O professor afirma que o movimento vem ganhando corpo desde o início deste século, período em que ocorreram os ataques de 11 de Setembro, sucessivas guerras no Oriente Médio, o colapso financeiro de 2008 e a eleição do primeiro negro como presidente dos Estados Unidos.
"Esses fatos chacoalharam muitas pessoas na direita, que pensaram que o velho sistema de pensamento conservador não estava funcionando mais, que era preciso buscar outras estratégias, outras retóricas. Isso deu fôlego à alt-right."
Em sua pesquisa para escrever o livro, Main mediu o alcance dos principais sites ligados ao movimento. Ele afirma que, no último semestre, a audiência desses sites - Breitbart News à frente - cresceu 86% por mês e que eles tiveram em média 85 milhões de visitas mensais.
Em comparação, os principais sites da direita tradicional (como os das revistas National Review e Weekly Standard) tiveram 46 milhões visitas por mês e um crescimento mensal de 13,7% na audiência.
Apesar dos crescimento, o professor diz que o movimento ainda é pouco conhecido nos EUA, embora possa ter tido um papel relevante na eleição.
Ele afirma que a alt-right "forneceu ideias e um vocabulário que foram usados por muitos dos apoiadores de Trump, e nesse sentido pode ter sido útil para a vitória dele".
Durante a campanha, simpatizantes da ideologia identificada com a 'alt-right' inundaram as mídias sociais com memes favoráveis ao candidato. Essa atuação intensa nas mídias sociais já levou o movimento a ser classificado de extrema-direita da era digital.
Em agosto, após trazer Steve Bannon para a campanha, o candidato negou manter qualquer laço com a alt-right e disse que "ninguém sabe o que é isso". De fato, a maioria dos americanos desconhece a denominação, mas a chance de já ter se deparado com as ideias expressas por simpatizantes é grande.
O ex-presidente da Câmara dos Deputados Newt Gingrich, cotado para assumir um cargo importante no próximo governo, rebateu as suposições de que a administração Trump será influenciada pela alt-right.
"Donald Trump é um conservador tradicional que quer golpear profundamente a esquerda", ele afirmou na segunda, após as reações negativas à nomeação de Bannon.
Diversão e desafio das normas
No artigo no Breitbart News em que explica o movimento, Milo Yannopoulos diz que, desde os anos 1960, a mídia e o establishment político consideram aceitáveis discursos de movimentos de "mulheres, LGBT, negros e outros grupos demográficos não-brancos, não-héteros e não-masculinos, mesmo quando desembocam em puro ódio".
Por outro lado, afirma que "qualquer discussão sobre a identidade branca, ou os interesses brancos, é vista como uma ofensa herética".
Ele diz que muitos "jovens rebeldes" aderem à alt-right não por serem "instintivamente conservadores" nem por viverem um "despertar intelectual".
Ironicamente, afirma Yannopoulos, esses jovens são seduzidos pela alt-right pelos mesmos motivos que os jovens dos 1960 eram atraídos pela nova esquerda: "porque ela promete diversão, transgressão e o desafio de normas sociais que eles simplesmente não entendem". (Fonte: AQUI).
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