Zika vírus e suas complicações
Do Science Blogs
Em um dos posts mais técnicos que não faço há bastante tempo, vamos dar uma olhada no que é o Zika, tanto a febre quanto o vírus. Para acesso rápido ao tópico, basta clicar na lista abaixo.
- O que é o vírus Zika
- De onde vem o Zika vírus?
- Por que o Zika está se espalhando tanto no Brasil?
- Por que os novos sintomas da febre de zika?
- Sobre a microcefalia
- O que fazer para se proteger?
O que é o vírus Zika
O Zika vírus é um Flavivírus, pertence a uma família de vírus que infectam artrópodes (como insetos) e mamíferos. O que quer dizer que podem infectar um macaco ou uma pessoa, infectar o pernilongo ou o carrapato que suga o sangue deles e com isso saltar para outros mamíferos. Outros vírus da mesma família são o vírus da Dengue, da febre amarela, Barkedji, da encefalite japonesa, Kedougu, Koutango e vários outros – se quiser ver como a família se organiza, essa figura pode ajudar. Boa parte deles são pouco conhecidos, circulam em regiões restritas e não infectam humanos.
O Zika também estava restrito e infectava principalmente macacos e só algumas pessoas até bem pouco tempo. Ele foi isolado de um macaco mantido na floresta de Zika, em Uganda, em 1947. Nove anos depois, em 1956, em uma época onde esse tipo de experimento ainda era feito, um voluntário se infectou com o vírus para acompanhamento. Teve sintomas parecidos com os da dengue, com febre. E, o mais importante, quando foi picado por um mosquito Aedes aegypti, o mosquito não passou a infecção adiante. O que quer dizer que nessa época, o Zika vírus provavelmente não estava muito adaptado para infecções em humanos.
De onde vem o Zika vírus?
Até 2007, o Zika continuou causando alguns casos humanos na África e na Ásia, sem grandes consequências. Sabemos de apenas 14 casos, no total. Mesmo circulando entre macacos e mosquitos Aedes silvestres, a maior parte das infecções humanas não continuavam sendo transmitidas. Até 2007, quando a variante asiática do vírus causou um surto na ilha de Yap, na Micronésia, onde se estima que mais de 70% da população da ilha foi infectada. Pela primeira vez surgiram sintomas como conjuntivite, mas não houve manifestações graves que precisassem de hospitalização. O estudo descrevendo a circulação do vírus pela África, em que participei, ainda o tratava como um vírus principalmente silvestre.
De 2007 a 2014, o vírus seguiu pelo Pacífico e Oceania, causando uma epidemia na Polinésia Francesa entre 2013 e 2014 e chegando até a Ilha de Páscoa. Uma das maiores causas para isso parece ser o espalhamento dos mosquitos A. aegyptie Aedes albopicuts, além da otimização do vírus para estes mosquitos e para humanos – mais sobre isso em outro post. Dados os sintomas parecidos com os de febre de dengue, o Zika provavelmente se espalhou por vários outros países mas não foi diagnosticado. Em Abril de 2015, foi detectado pela primeira vez no Brasil, na Bahia, em pacientes com sintomas de dengue que testaram negativos para o vírus da Dengue. E agora em novembro apareceram os primeiros casos na América do Sul e Central, em países como Colômbia, México, Paraguai e Venezuela (ver mapa abaixo).
Por que o Zika está se espalhando tanto no Brasil?
Vivemos uma infestação de mosquitos Aedes no país (e no mundo). O A. aegypti já foi quase expulso do país, como o vídeo sobre dengue abaixo explica, mas voltou para cá com força total. Como se não bastasse, outro Aedes, o A. albopicuts também se espalhou recentemente. Com tantos mosquitos que podem transmitir vírus (chamamos de vetores), tivemos surtos crescentes de dengue nos últimos anos. Não só crescentes como variados, agora temos no país os 4 tipos de dengue conhecidos em humanos, o que quer dizer que ele circula muito bem por aqui, o ano todo. Mas os Aedes não são vetores apenas do vírus da Dengue, também podem transmitir vários outros Flavivírus como o Zika. Além do Chikungunya, que pertence a outra família viral. Era uma questão de tempo até que eles aparecessem por aqui. E, se não controlarmos as populações de Aedes, é uma questão de tempo até que outros como o Barkedji venham.
(Para continuar a leitura, clique AQUI).
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