sábado, 19 de dezembro de 2015
O ANO DA DERROTA DOS PIRATAS
"Este foi o ano em que piratas do Planalto tentaram dar um golpe parlamentar disfarçado de impeachment.
O objetivo era claro: derrubar o governo para dar um novo rumo às investigações da Polícia Federal e à Operação Lava Jato na qual grande parte dos piratas está implicada.
Aproveitando-se de uma base governista frouxa e desnorteada, o plano consistia em atravessar o ano fazendo todo o possível para não deixar o governo governar, [causar o caos econômico], enfraquecê-lo e então dar-lhe a punhalada final com a aprovação do impeachment.
O maior interessado em tomar o poder de Dilma foi, desde o início, o presidente da Câmara Eduardo Cunha, atolado no pântano da Lava Jato. Foi o primeiro a trair a aliança do seu partido com o governo que acabava de assumir, um mês depois das eleições.
Convencido de que a Operação Lava Jato obedecia a ordens do Planalto, o que não condizia com a realidade, ele pintou-se para a guerra tendo por divisa "destruir o governo antes que ele me destrua".
O plano teve um início promissor, apoiado no fato de que grande parte dos deputados, pendurada em processos no STF, precisava da ajuda de alguém, e como o governo não podia atender a todos, Cunha se prestou ao papel. "Vocês me ajudam e eu ajudo vocês".
Obstinado, audacioso, belicoso, empenhou-se em dilapidar a base do governo, derrotando-o seguidamente nas votações mais delicadas, não importando se as consequências fossem nefastas para o país como um todo. Importava destruir o país, deixar o governo no chão.
Cunha contou com a inestimável colaboração de Aécio Neves. Ele foi o primeiro a pedir o impeachment da presidente que mal assumira o segundo mandato, ignorando até mesmo as regras do jogo que não permitem processar o presidente a não ser pelo mandato que vigora. E como alguém pode ter cometido crime de responsabilidade em apenas alguns dias no poder?
Indiferentes a esses detalhes, Cunha e Aécio, cada um com a sua respectiva tropa, obtiveram vitórias cujo efeito ajudou a paralisar a economia devido à incerteza acerca do futuro, rebaixar a nota do país e prometer o caos.
Também embarcaram no navio-pirata três personagens arrebanhados por Aécio: um ex-procurador da Justiça de 93 anos, há muito tempo aposentado e cujo principal feito foi, nos anos 70, processar o Esquadrão da Morte de São Paulo, chamado Hélio Bicudo, desafeto de Lula e do PT; um advogado de perfil tucano chamado Miguel Reale Jr., portanto antipetista de carteirinha, e uma novata chamada Janaína Pascoal, sem história na advocacia brasileira, que em debates costuma justificar o impeachment com o fato de a presidente ter sido presidente do conselho da Petrobrás, como todo mundo viu no mais recente Roda Viva, da TV Cultura.
Tanto os juristas não tinham elementos concretos para sustentar o pedido que refizeram o primeiro documento sob orientação – pasmem – do próprio Cunha, que parece ter mais conhecimento jurídico que eles. Por isso mesmo, ele sabia que não havia fundamento jurídico, mas era o único pedido assinado por duas grifes, o que era o seu trunfo, supunha ele. E blefou mais uma vez, dando o pontapé inicial no golpe cujo biombo era o impeachment.
Quando o governo parecia já estar de joelhos e a vitória dos piratas se desenhava no horizonte, saiu da moita do Jaburu o vice-presidente da República. Ele, que fora eleito com os votos da presidente e jurou governar com ela, esqueceu-se da lealdade que lhe devia e surgiu como o improvável construtor de uma "ponte para o futuro" que na verdade escondia um trampolim de onde a presidente seria jogada ao mar.
Serra, também embarcado com os piratas, terminou o ano melancolicamente, à direita da ruralista Kátia Abreu. Melhor assim. Quando ficaram cara a cara sobrou para ele.
O golpe afundou porque seu principal interessado, mentor e motor foi desmascarado pelos fatos, pela opinião pública, por Rodrigo Janot e pelo Supremo Tribunal Federal, apesar das infelizes participações dos ministros Dias Toffoli e Gilmar Mendes, derrotados na sua pretensão de facilitar a vida dos golpistas.
Não há mal que sempre dure. Durou um ano."
(De Alex Solnik, jornalista, post intitulado "Piratas do Planalto" - aqui.
Convém lembrar que os piratas do Planalto não desistiram de seu intento: a imprensa dá conta - aqui - de que eles tentarão confrontar o STF: "Em reação ao STF, aliados de Cunha e oposição tentam garantir chapa avulsa". Uma observação paralela: a imprensa se preocupa em distinguir 'aliados de Cunha' da 'oposição', como se eles não fossem uma coisa só!
Mas, se os piratas foram malsucedidos em seu propósito escuso, num aspecto eles foram vitoriosos: arrebentaram a economia brasileira ao longo do ano).
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