quinta-feira, 12 de novembro de 2015

MÍDIA CAI NO FATURAMENTO... E EM SI


Virada gramatical tenta curar tiro no pé da grande mídia

Por Wilson Ferreira

Depois de décadas de jornalismo adversativo onde dominavam conjunções como “mas”, “porém”, “contudo” etc. para minimizar impactos negativos e, com os governos petistas como oponentes, inverter o sinal e as adversativas minimizarem impactos positivos, a grande mídia dá uma virada gramatical: adjuntos adverbiais de concessão como “apesar da crise, indústria cresce...” ou “mesmo com a crise, setor de informática vende mais...” passam a se repetir ao ponto de tornarem-se bordões ridicularizados em redes sociais. Por que essa virada gramatical? Depois de 12 anos em uma cavalgada suicida querendo provar que o País está no abismo econômico detonando bombas semióticas da crise autorrealizável, a grande mídia chegou ao limite: a presunção da catástrofe volta-se contra ela própria, com queda de audiência e anunciantes. Depois do tiro no pé a grande mídia parece tentar sinalizar ao mercado: “apesar da crise, anuncie aqui!”.
Lá pelo final do século passado, em plena crise do Plano Real com as maxidesvalorizações logo depois da reeleição presidencial de Fernando Henrique Cardoso, um helicóptero da TV Globo sobrevoava os pátios lotados de veículos das montadoras da região do ABC paulista. A voz ao vivo do repórter aéreo falava em pátios lotados, crise e férias coletivas. Corta para o estúdio. E o apresentador Chico Pinheiro contemporizou: “Mas quem ganhará é o consumidor com os descontos que as concessionárias oferecerão...”.
Essa era ainda a época do jornalismo adversativo. Embora o jornalismo sempre tenha vivido da presunção da catástrofe (o acidente, o bizarro e o endêmico prendem a atenção do espectador), a utilização das conjunções coordenadas adversativas (mas, porém, contudo, todavia etc.) sempre teve duas funções primordiais.
Primeiro, a função existencial – relativizar ou minimizar o impacto negativo é a sua função comercial de entretenimento. Afinal, não importa se as notícias são boas ou ruins. No todo, seja o jornalismo televisivo ou impresso, deve ser uma experiência visual, gráfica e informativa agradável.
Anunciantes não querem associar subliminarmente suas marcas e serviços a experiências desagradáveis. Por exemplo, no dia dos atentados de 11 de setembro de 2001 as redes de TV dos EUA tiveram um prejuízo de US$ 200 milhões com a suspensão de inserções publicitárias. Um ano depois, ao fazer reportagens especiais em horário nobre sobre o evento, a FOX News teve mais prejuízos: anunciantes ficaram relutantes em associar suas marcas à lembrança de um evento tão negativo.
(Para ler o post na íntegra, clique AQUI).

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A miopia deliberada da mídia resultou no agravamento da crise, por superalimentação. Afinal, o pessimismo é 'qualidade' facilmente inflável. A partir de certo estágio, porém, o leitor/espectador começa a se questionar: 'Pô, eu já passo o dia inteiro preocupado com a conjuntura, sufocado, e ainda me submeto a coberturas jornalísticas tão baixo astral, debates tão sombrios e novelas tão pautadas no mundo cão? Melhor acompanhar bobagens nas redes sociais, ou mesmo ficar no ora veja!'

Em resumo: o efeito bumerangue deu o ar de sua graça...


...como se vê no cartum de Duke, que mostramos em julho. É então que a ficha cai, ou não.

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