sábado, 17 de janeiro de 2015

SOBRE O PAI DO PLANO REAL

                                      Hjalmar em Nuremberg, julho de 1947: Absolvido.

Hjalmar Schacht, mago da economia e pai do Plano Real

Por Motta Araújo

O Dr. Hjalmar Schacht estudou medicina, filologia e ciências políticas, foi um dos maiores economistas do Século XX. Comissário da Moeda na República de Weimar em 1923, acabou com a hiperinflação alemã em 6 meses, com um plano (Plano Helferich) em que havia quatro elementos, exatamente os mesmos que formaram o Plano Real, que foi literalmente copiado do plano alemão. A tese de mestrado do economista Gustavo Franco foi o plano alemão de 1923, que ele aplicou quando foi um dos economistas formuladores do Plano Real e depois principal operador do Plano quando presidiu o Banco Central.

Hjalmar Schacht nasceu em 1877, em 1903 liga-se ao Dresdner Bank, na Grande Guerra de 1914 foi Comissário da Moeda na Bélgica ocupada pelo Império Alemão; fez negócios escusos com moeda para beneficiar o Dresdner Bank, (sendo) demitido pelo Governador alemão da Bélgica com escândalo, (o que) não impediu Schacht de ser o poderoso Comissário da Moeda de toda a Alemanha em 1923, (quando)  criou o Reichsmark; em 1930 assume a presidência do banco central alemão, o Reichsbank, em 1934 assume o Ministério da Economia do Terceiro Reich nomeado por Adolf Hitler.

Na chefia da economia nazista cria dois instrumentos financeiros que (ensejaram) o rearmamento alemão, os MARCOS DE COMPENSAÇÃO, moeda gráfica que permitia à Alemanha, que não tinha reservas em libras ou dólares, comprar em outros países creditando numa moeda que só poderia ser gasta na Alemanha. O maior parceiro desse mecanismo foi o Brasil, de 1935 a 1938. O segundo instrumento foram os MEFO BONDS, bônus com que eram pagos os fabricantes de armamentos, (em vez) de moeda corrente, e que por sua vez se tornaram meio de pagamento disfarçado.

Schacht apoiava Hitler mas não entrou no Partido Nazista. Brigou com Hitler em 1943 por causa do poder do Marechal Goering sobre a economia na qualidade de Comissário do Plano Quadrienal. Goering era muito mais poderoso do que Schacht , que não podia enfrentar o gordo segundo homem do Reich depois de Hitler.

Acusado no Tribunal Internacional de Nuremberg  pelo seu papel no rearmamento alemão, é absolvido.

Volta à vida civil como consultor e banqueiro, presta serviços à Indonésia e à Síria, países recém descolonizados.

Recupera seu prestígio e fortuna e morre em 1970 aos 93 anos. Schacht tinha relacionamento com banqueiros de todo o mundo. J.P.Morgan foi um dos seus amigos antes da Primeira Guerra; tinha muitas ligações em Londres e Nova York, onde morou na infância e juventude.

Schacht era um economista ortodoxo da linha britânica, mas também era capaz de ser heterodoxo ao extremo com suas gambiarras financeiras para financiar o rearmamento alemão, (sabia) operar com o monetarismo ou com o desenvolvimentismo, dependendo das circunstâncias. Grande responsável pela Segunda Guerra, soube escapar da forca com elegância; valeu-lhe o inglês perfeito e as ligações nos EUA.

Considero Schacht o maior economista OPERACIONAL do Século XX, exatamente porque sabia operar conforme as circunstâncias dentro de um modelo ou de outro. Foi o pai intelectual da ideia de criar um banco de compesação internacional para reciclar os pagamentos das reparações alemãs do Tratado de Versalhes, com o objetivo de fazer voltar para a Alemanha parte do dinheiro das reparações. Nasceu aí o Banco de Compensações Internacionais, conhecido como Banco da Basileia, hoje considerado o Banco Central dos Bancos Centrais.

É evidente que Lord (John Maynard) Keynes é hors concours, um personagem à parte de todos, nem pode entrar em competição.

Parece que Joaquim Levy é também um mix de ortodoxo com heterodoxo; tomara; as circunstâncias atuais da economia brasileira exigem um operador desse perfil no Ministério da Fazenda.

Apesar de sua adesão ao nazismo Schacht demonstrou uma flexibilidade intelectual e operacional rara em um economista, geralmente adeptos de escolas e cartilhas rígidas. Na história econômica brasileira existe um Schacht, alguém que tem exatamente esse caráter FLEX; chama-se Delfim Neto. Mas agora é a vez do Levy; veremos. (Foto: aqui).

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Promovi pequenas alterações no texto, para cadenciar a leitura.
Convém deixar claro que o ministro Mantega entregou o Brasil com inflação dentro da meta, os programas sociais funcionando plenamente e a maioria dos indicadores econômicos em situação positiva. Os gargalos dizem respeito a certos custos que a União vinha bancando, a exemplo das desonerações, como as concedidas seguidamente ao setor automobilístico. O ministro Joaquim Levy certamente focará tais gargalos. 
(Mas paira sobre a economia uma grande incógnita: a dimensão dos impactos produzidos pelos custos de energia elétrica).

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