sábado, 31 de janeiro de 2015
FINANCIAMENTO DE CAMPANHA POLÍTICA: A PETIÇÃO CONTRA A INAÇÃO
Financiamento de campanha política: a petição contra a inação
Neste momento corre uma ação no STF que pode proibir empresas de doarem milhões para candidatos e partidos políticos. Especialistas dizem que esse é o “gene da corrupção” e, para combatê-lo, precisaremos de todos.
95% de todas as doações para campanhas eleitorais foram feitas por grandes empresas — inclusive as envolvidas no escândalo Lava-jato. É assim que as empresas investem para então ganhar em troca acesso ao poder e influência, mas isso está prestes a mudar.
A maioria dos ministros do STF já votou pelo fim dessas doações, mas o processo emperrou nas mãos de um único ministro: Gilmar Mendes.
Ninguém conseguiu convencê-lo ainda — e nessa segunda-feira ele volta ao trabalho. É o momento que precisávamos. Ele sabe que não pode segurar a decisão para sempre, mas sem pressão ele vai levando. Vamos surpreender o ministro na volta das suas férias e mostrar a ele que centenas de milhares de brasileiros se uniram contra o gene da corrupção. Assine para conseguirmos a maior mudança da política brasileira nos últimos anos — depois repasse para todos:
https://secure.avaaz.org/po/o_gene_da_corrupcao/?bqzRbbb&v=52738
Se essa ação judicial da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) no STF for aprovada, nossa Constituição passará a dizer que só cidadãos podem escolher os representantes políticos. Hoje, os principais doadores acabam influenciando as eleições e são recompensados com a lealdade e contratos públicos generosos após seus candidatos serem eleitos. Pesquisas mostram que a cada R$1 doado por uma empresa a um candidato, R$8,50 retornam por meio de contratos públicos — um lucro exorbitante das empresas às custas de nosso voto.
Os que se opõem à mudança dizem que se proibirmos doações de empresas, aumentará o fluxo de dinheiro pelo caixa dois, o que tornará investigações mais difíceis. Mas o caixa dois já existe hoje e pouco se fez para impedir que aconteça! Se empresas não puderem contribuir com candidatos, será mais simples detectar campanhas com muito dinheiro e o caixa dois deve secar.
A lei permite que ministros peçam vista de um processo por apenas 10 dias, mas uma manobra burocrática vem segurando o julgamento já há 10 meses. Há indícios de que ele está esperando deputados que, assim como ele, são favoráveis ao dinheiro de pessoas jurídicas e preferem legalizar as doações de empresas mudando a Constituição de uma vez.
Mas o que Gilmar precisa saber é que o Brasil não pode mais esperar! Junte-se a essa ação urgente agora — vamos engrossar o apelo da OAB com nossas vozes e abraçar essa chance de salvar o país da corrupção:
https://secure.avaaz.org/po/o_gene_da_corrupcao/?bqzRbbb&v=52738
(Avaaz).
AS (OUTRAS) RAÍZES DA CRISE DA ÁGUA
.
"Já tivemos diversas secas e essa era totalmente previsível, antes tivemos o apagão em 2001. Em 1927 tivemos uma seca parecida com essa ou maior." (Ivan Bispo).
....
"(...). O solo é feito principalmente pela decomposição das rochas. rochas diferentes originam a solos diferentes. Tipos de diferentes de rochas tem composição química diferente, dando origem a solos de diferentes fertilidades. O cerrado tem gigantescas variações de fertilidade (...).
No bioma cerrado existem diferentes formações vegetais, inclusive de florestas, porque existem diferentes graus de fertilidade do solo, entre outras coisas. (...).
Os aquíferos tem formação geológica diferente e se comportam de forma diferente. Existem regimes de chuva diferentes dentro do bioma cerrado. É uma área gigantesca, muito heterogênea.
É claro que São Paulo, Rio e BH ficariam sem água se a população cresce e o sistema de abastecimento não. "(Ernesto GMV).
....
"Dramático!
DE repente, nos deparamos com este sábio Professor Altair Barbosa.
Concluí de chofre: tá tudo dominado, já é passado. Agora é: tá tudo consumado. O relógio corre e a vida seca.
Jamais, em toda minha vida familiar, acadêmica, de leitor convicto, de ser humano, tomei conhecimento de tal tragédia irreversível. Jamais!
Brasil, país novo, apenas 515 anos, uma criança. Um bebê! Mas que voracidade! Que avidez!
Auschwitz matou pouco!
Professor Altair, o Sr. me deixou prostrado! Eu já torcia para entrevista acabar. E lá vinha o senhor. 1 milhão de anos... 70 milhões de anos...
- Tem saída? - pergunta o repórter, já com sede...
- Tem.... mas só com muita pesquisa.
Pronto! Fechou o caixão!" (Marco Aurélio Barroso).
................
Os comentários acima foram pinçados entre os alinhados no post "O cerrado está extinto e isso leva ao fim dos rios e dos reservatórios de água", que trata de entrevista concedida (ao jornal Opção, de Goiás) pelo professor Altair Sales Barbosa, da PUC Goiás, uma das maiores autoridades sobre o tema. Para ele, a destruição do bioma é irreversível, o que "compromete o abastecimento potável em todo o País":
Prof. Altair Sales Barbosa.
Uma ilha ambiental em meio à metrópole está no Campus 2 da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás). É lá o local onde Altair Sales Barbosa idealizou e realizou uma obra que se tornou ponto turístico da capital: o Memorial do Cerrado, eleito em 2008 o local mais bonito de Goiânia e um dos projetos do Instituto do Trópico Subúmido (ITS), dirigido pelo professor.
Foi lá que Altair, um dos mais profundos conhecedores do bioma Cerrado, recebeu a equipe do Jornal Opção. Como professor e pesquisador, tem graduação em Antropologia pela Universidade Católica do Chile e doutorado em Arqueologia Pré-Histórica pelo Museu Nacional de História Natural, em Washington (EUA). Mais do que isso, tem vivência do conhecimento que conduz.
É justamente pela força da ciência que ele dá a notícia que não queria: na prática o Cerrado já está extinto como bioma. E, como reza o dito popular, notícia ruim não vem sozinha, antes de recuperar o fôlego para absorver o impacto de habitar um ecossistema que já não existe, outra afirmação produz perplexidade: a devastação do Cerrado vai produzir também o desaparecimento dos reservatórios de água, localizados no Cerrado, o que já vem ocorrendo — a crise de abastecimento em São Paulo foi só o início do problema. Os sinais dos tempos indicam já o começo do período sombrio: “Enquanto se está na fartura, você é capaz de repartir um copo d’água com o irmão; mas, no dia da penúria, ninguém repartirá”, sentencia o professor.
“Memorial do Cerrado” – o nome deste espaço de preservação criado pelo sr. aqui no Campus 2 da PUC Goiás, é uma expressão pomposa. Mas, tendo em vista o que vivemos hoje, é algo quase que tristemente profético. O Cerrado está mesmo em vias de extinção?
Para entender isso é preciso primeiramente entender o que é o Cerrado. Dos ambientes recentes do planeta Terra, o Cerrado é o mais antigo. A história recente da Terra começou há 70 milhões de anos, quando a vida foi extinta em mais de 99%. A partir de então, o planeta começou a se refazer novamente. Os primeiros sinais de vida, principalmente de vegetação, que ressurgem na Terra se deram no que hoje constitui o Cerrado. Portanto, vivemos aqui no local onde houve as formas de ambiente mais antigas da história recente do planeta, principalmente se levarmos em consideração as formações vegetais. No mínimo, o Cerrado começou há 65 milhões de anos e se concretizou há 40 milhões de anos.
O Cerrado é um tipo de ambiente em que vários elementos vivem intimamente interligados uns aos outros. A vegetação depende do solo, que é oligotrófico [com nível muito baixo de nutrientes]; o solo depende de um tipo de clima especial, que é o tropical subúmido com duas estações, uma seca e outra chuvosa. Vários outros fatores, incluindo o fogo, influenciaram na formação do bioma – o fogo é um elemento extremamente importante porque é ele que quebra a dormência da maioria das plantas com sementes que existem no Cerrado.
Assim, é um ambiente que depende de vários elementos. Isso significa que já chegou em seu clímax evolutivo. Ou seja, uma vez degradado não vai mais se recuperar na plenitude de sua biodiversidade. Por isso é que falamos que o Cerrado é uma matriz ambiental que já se encontra em vias de extinção.
Por que o sr. é tão taxativo?
Uma comunidade vegetal é medida não por um determinado tipo de planta ou outro, mas, sim, por comunidades e populações de plantas. E já não se encontram mais populações de plantas nativas do Cerrado. Podemos encontrar uma ou outra espécie isolada, mas encontrar essas populações é algo praticamente impossível.
Outra questão: o solo do Cerrado foi degradado por meio da ocupação intensiva. Retiraram a gramínea nativa para a implantação de espécies exóticas, vindas da África e da Austrália. A introdução dessas gramíneas, para o pastoreio, modificou radicalmente a estrutura do solo. Isso significa que naquele solo, já modificado, a maioria das plantas não conseguirá brotar mais.
Como se não bastasse tudo isso, o Cerrado foi incluído na política de expansão econômica brasileira como fronteira de expansão. É uma área fácil de trabalhar, em um planalto, sem grandes modificações geomorfológicas e com estações bem definidas. Junte-se a isso toda a tecnologia que hoje há para correção do solo. É possível tirar a acidez do solo utilizando o calcário; aumentar a fertilidade, usando adubos. Com isso, altera-se a qualidade do solo, mas se afetam os lençóis subterrâneos e, sem a vegetação nativa, a água não pode mais infiltrar na terra.
Onde há pastagens e cultivo, então, o Cerrado está inviabilizado para sempre, é isso?
Onde houve modificação do solo a vegetação do Cerrado não brota mais. O solo do Cerrado é oligotrófico, carente de nutrientes básicos. Quando o agricultor e o pecuarista enriquecem esse solo, melhorando sua qualidade, isso é bom para outros tipos de planta, mas não para as do Cerrado. Por causa disso, não há mais como recuperar o ambiente original, em termos de vegetação e de solo.
Mas o mais importante de tudo isso é que as águas que brotam do Cerrado são as mesmas águas que alimentam as grandes bacias do continente sul-americano. É daqui que saem as nascentes da maioria dessas bacias. Esses rios todos nascem de aquíferos. Um aquífero tem sua área de recarga e sua área de descarga. Ao local onde ele brota, formando uma nascente, chamamos de área de descarga. Como ele se recarrega? Nas partes planas, com a água das chuvas, que é absorvida pela vegetação nativa do Cerrado. Essa vegetação tem plantas que ficam com um terço de sua estrutura exposta, acima do solo, e dois terços no subsolo. Isso evidencia um sistema radicular [de raízes] extremamente complexo. Assim, quando a chuva cai, esse sistema radicular absorve a água e alimenta o lençol freático, que vai alimentar o lençol artesiano, que são os aquíferos.
Quando se retira a vegetação nativa dos chapadões, trocando-a por outro tipo, alterou-se o ambiente. Ocorre que essa vegetação introduzida – por exemplo, a soja ou o algodão ou qualquer outro tipo de cultura para a produção de grãos – tem uma raiz extremamente superficial. Então, quando as chuvas caem, a água não infiltra como deveria. Com o passar dos tempos, o nível dos lençóis vai diminuindo, afetando o nível dos aquíferos, que fica menor a cada ano.
Em média, dez pequenos rios do Cerrado desaparecem a cada ano. Esses riozinhos são alimentadores de rios maiores, que, por causa disso, também têm sua vazão diminuída e não alimentam reservatórios e outros rios, de que são afluentes. Assim, o rio que forma a bacia também vê seu volume diminuindo, já que não é abastecido de forma suficiente. Com o passar do tempo, as águas vão desaparecendo da área do Cerrado. A água, então, é outro elemento importante do bioma que vai se extinguindo.
Hoje, usa-se ainda a agricultura irrigada porque há uma pequena reserva nos aquíferos. Mas, daqui a cinco anos, não haverá mais essa pequena reserva. Estamos colhendo os frutos da ocupação desenfreada que o agronegócio impôs ao Cerrado a partir dos anos 1970: entraram nas áreas de recarga dos aquíferos e, quando vêm as chuvas, as águas não conseguem infiltrar como antes e, como consequência, o nível desses aquíferos vai caindo a cada ano. Vai chegar um tempo, não muito distante, em que não haverá mais água para alimentar os rios. Então, esses rios vão desaparecer.
Por isso, falamos que o Cerrado é um ambiente em extinção: não existem mais comunidades vegetais de formas intactas; não existem mais comunidades de animais – grande parte da fauna já foi extinta ou está em processo de extinção; os insetos e animais polinizadores já foram, na maioria, extintos também; por consequência, as plantas não dão mais frutos por não serem polinizadas, o que as leva à extinção também. Por fim, a água, fator primordial para o equilíbrio de todo esse ecossistema, está em menor quantidade a cada ano.
Como é a situação desses aquíferos atualmente?
Há três grandes aquíferos na região do Cerrado: o Bambuí, que se formou de 1 bilhão de anos a 800 milhões de anos antes do momento presente; os outros dois são divisões do Aquífero Guarani, que está associado ao Arenito Botucatu e ao Arenito Bauru que começou a se formar há 70 milhões de anos. O Guarani alimenta toda a Bacia do Rio Paraná: a maior parte dos rios de São Paulo, de Mato Grosso, de Mato Grosso do Sul – incluindo o Pantanal Mato-Grossense – e grande parte dos rios de Goiás que correm para o Paranaíba, como o Meia Ponte. Toda essa bacia depende do Aquífero Guarani, que já chegou em seu nível de base e está alimentando insuficientemente os rios que dependem dele. Por isso, os rios da Bacia do Paraná diminuem sua vazão a cada ano que passa.
Então, podemos ter nisso a explicação para a crise da água em São Paulo?
Exato. Como medida de urgência, já estão perfurando o Arenito Bauru – que é mais profundo que o Botucatu, já insuficiente –, tentando retirar pequenas reservas de água para alimentar o sistema Cantareira [o mais afetado pela escassez e que abastece a capital paulista]. Mesmo se chover em grande quantidade, isso não será suficiente para que os rios juntem água suficiente para esse reservatório.
Assim como ocorre no Cantareira, outros reservatórios espalhados pela região do Cerrado – Sobradinho, Serra da Mesa e outros – vão passar pelo mesmo problema. Isso porque o processo de sedimentação no fundo do lago de um reservatório é um processo lento. Os sedimentos vão formando argila, que é uma rocha impermeável. Então, a água daquele lago não vai alimentar os aquíferos.
Mesmo tendo muita quantidade de água superficial, ela não consegue penetrar no solo para alimentar os aquíferos. Se não for usada no consumo, ela vai simplesmente evaporar e vai cair em outro lugar, levada pelas correntes aéreas. Isso é outro motivo pelo qual os aquíferos não conseguem recuperar seu nível, porque não recebem água.
(Para continuar, clique AQUI).
"Já tivemos diversas secas e essa era totalmente previsível, antes tivemos o apagão em 2001. Em 1927 tivemos uma seca parecida com essa ou maior." (Ivan Bispo).
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"(...). O solo é feito principalmente pela decomposição das rochas. rochas diferentes originam a solos diferentes. Tipos de diferentes de rochas tem composição química diferente, dando origem a solos de diferentes fertilidades. O cerrado tem gigantescas variações de fertilidade (...).
No bioma cerrado existem diferentes formações vegetais, inclusive de florestas, porque existem diferentes graus de fertilidade do solo, entre outras coisas. (...).
Os aquíferos tem formação geológica diferente e se comportam de forma diferente. Existem regimes de chuva diferentes dentro do bioma cerrado. É uma área gigantesca, muito heterogênea.
É claro que São Paulo, Rio e BH ficariam sem água se a população cresce e o sistema de abastecimento não. "(Ernesto GMV).
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"Dramático!
DE repente, nos deparamos com este sábio Professor Altair Barbosa.
Concluí de chofre: tá tudo dominado, já é passado. Agora é: tá tudo consumado. O relógio corre e a vida seca.
Jamais, em toda minha vida familiar, acadêmica, de leitor convicto, de ser humano, tomei conhecimento de tal tragédia irreversível. Jamais!
Brasil, país novo, apenas 515 anos, uma criança. Um bebê! Mas que voracidade! Que avidez!
Auschwitz matou pouco!
Professor Altair, o Sr. me deixou prostrado! Eu já torcia para entrevista acabar. E lá vinha o senhor. 1 milhão de anos... 70 milhões de anos...
- Tem saída? - pergunta o repórter, já com sede...
- Tem.... mas só com muita pesquisa.
Pronto! Fechou o caixão!" (Marco Aurélio Barroso).
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Os comentários acima foram pinçados entre os alinhados no post "O cerrado está extinto e isso leva ao fim dos rios e dos reservatórios de água", que trata de entrevista concedida (ao jornal Opção, de Goiás) pelo professor Altair Sales Barbosa, da PUC Goiás, uma das maiores autoridades sobre o tema. Para ele, a destruição do bioma é irreversível, o que "compromete o abastecimento potável em todo o País":
Prof. Altair Sales Barbosa.
Uma ilha ambiental em meio à metrópole está no Campus 2 da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás). É lá o local onde Altair Sales Barbosa idealizou e realizou uma obra que se tornou ponto turístico da capital: o Memorial do Cerrado, eleito em 2008 o local mais bonito de Goiânia e um dos projetos do Instituto do Trópico Subúmido (ITS), dirigido pelo professor.
Foi lá que Altair, um dos mais profundos conhecedores do bioma Cerrado, recebeu a equipe do Jornal Opção. Como professor e pesquisador, tem graduação em Antropologia pela Universidade Católica do Chile e doutorado em Arqueologia Pré-Histórica pelo Museu Nacional de História Natural, em Washington (EUA). Mais do que isso, tem vivência do conhecimento que conduz.
É justamente pela força da ciência que ele dá a notícia que não queria: na prática o Cerrado já está extinto como bioma. E, como reza o dito popular, notícia ruim não vem sozinha, antes de recuperar o fôlego para absorver o impacto de habitar um ecossistema que já não existe, outra afirmação produz perplexidade: a devastação do Cerrado vai produzir também o desaparecimento dos reservatórios de água, localizados no Cerrado, o que já vem ocorrendo — a crise de abastecimento em São Paulo foi só o início do problema. Os sinais dos tempos indicam já o começo do período sombrio: “Enquanto se está na fartura, você é capaz de repartir um copo d’água com o irmão; mas, no dia da penúria, ninguém repartirá”, sentencia o professor.
“Memorial do Cerrado” – o nome deste espaço de preservação criado pelo sr. aqui no Campus 2 da PUC Goiás, é uma expressão pomposa. Mas, tendo em vista o que vivemos hoje, é algo quase que tristemente profético. O Cerrado está mesmo em vias de extinção?
Para entender isso é preciso primeiramente entender o que é o Cerrado. Dos ambientes recentes do planeta Terra, o Cerrado é o mais antigo. A história recente da Terra começou há 70 milhões de anos, quando a vida foi extinta em mais de 99%. A partir de então, o planeta começou a se refazer novamente. Os primeiros sinais de vida, principalmente de vegetação, que ressurgem na Terra se deram no que hoje constitui o Cerrado. Portanto, vivemos aqui no local onde houve as formas de ambiente mais antigas da história recente do planeta, principalmente se levarmos em consideração as formações vegetais. No mínimo, o Cerrado começou há 65 milhões de anos e se concretizou há 40 milhões de anos.
O Cerrado é um tipo de ambiente em que vários elementos vivem intimamente interligados uns aos outros. A vegetação depende do solo, que é oligotrófico [com nível muito baixo de nutrientes]; o solo depende de um tipo de clima especial, que é o tropical subúmido com duas estações, uma seca e outra chuvosa. Vários outros fatores, incluindo o fogo, influenciaram na formação do bioma – o fogo é um elemento extremamente importante porque é ele que quebra a dormência da maioria das plantas com sementes que existem no Cerrado.
Assim, é um ambiente que depende de vários elementos. Isso significa que já chegou em seu clímax evolutivo. Ou seja, uma vez degradado não vai mais se recuperar na plenitude de sua biodiversidade. Por isso é que falamos que o Cerrado é uma matriz ambiental que já se encontra em vias de extinção.
Por que o sr. é tão taxativo?
Uma comunidade vegetal é medida não por um determinado tipo de planta ou outro, mas, sim, por comunidades e populações de plantas. E já não se encontram mais populações de plantas nativas do Cerrado. Podemos encontrar uma ou outra espécie isolada, mas encontrar essas populações é algo praticamente impossível.
Outra questão: o solo do Cerrado foi degradado por meio da ocupação intensiva. Retiraram a gramínea nativa para a implantação de espécies exóticas, vindas da África e da Austrália. A introdução dessas gramíneas, para o pastoreio, modificou radicalmente a estrutura do solo. Isso significa que naquele solo, já modificado, a maioria das plantas não conseguirá brotar mais.
Como se não bastasse tudo isso, o Cerrado foi incluído na política de expansão econômica brasileira como fronteira de expansão. É uma área fácil de trabalhar, em um planalto, sem grandes modificações geomorfológicas e com estações bem definidas. Junte-se a isso toda a tecnologia que hoje há para correção do solo. É possível tirar a acidez do solo utilizando o calcário; aumentar a fertilidade, usando adubos. Com isso, altera-se a qualidade do solo, mas se afetam os lençóis subterrâneos e, sem a vegetação nativa, a água não pode mais infiltrar na terra.
Onde há pastagens e cultivo, então, o Cerrado está inviabilizado para sempre, é isso?
Onde houve modificação do solo a vegetação do Cerrado não brota mais. O solo do Cerrado é oligotrófico, carente de nutrientes básicos. Quando o agricultor e o pecuarista enriquecem esse solo, melhorando sua qualidade, isso é bom para outros tipos de planta, mas não para as do Cerrado. Por causa disso, não há mais como recuperar o ambiente original, em termos de vegetação e de solo.
Mas o mais importante de tudo isso é que as águas que brotam do Cerrado são as mesmas águas que alimentam as grandes bacias do continente sul-americano. É daqui que saem as nascentes da maioria dessas bacias. Esses rios todos nascem de aquíferos. Um aquífero tem sua área de recarga e sua área de descarga. Ao local onde ele brota, formando uma nascente, chamamos de área de descarga. Como ele se recarrega? Nas partes planas, com a água das chuvas, que é absorvida pela vegetação nativa do Cerrado. Essa vegetação tem plantas que ficam com um terço de sua estrutura exposta, acima do solo, e dois terços no subsolo. Isso evidencia um sistema radicular [de raízes] extremamente complexo. Assim, quando a chuva cai, esse sistema radicular absorve a água e alimenta o lençol freático, que vai alimentar o lençol artesiano, que são os aquíferos.
Quando se retira a vegetação nativa dos chapadões, trocando-a por outro tipo, alterou-se o ambiente. Ocorre que essa vegetação introduzida – por exemplo, a soja ou o algodão ou qualquer outro tipo de cultura para a produção de grãos – tem uma raiz extremamente superficial. Então, quando as chuvas caem, a água não infiltra como deveria. Com o passar dos tempos, o nível dos lençóis vai diminuindo, afetando o nível dos aquíferos, que fica menor a cada ano.
As plantas do cerrado são de crescimento muito lento. Quando Pedro Álvares Cabral chegou ao Brasil, os Buritis que vemos hoje estavam nascendo. eles demoram 500 anos para ter de 25 a 30 metros. também por isso, o dano ao bioma é irreversívelQual é a consequência imediata desse quadro?
Em média, dez pequenos rios do Cerrado desaparecem a cada ano. Esses riozinhos são alimentadores de rios maiores, que, por causa disso, também têm sua vazão diminuída e não alimentam reservatórios e outros rios, de que são afluentes. Assim, o rio que forma a bacia também vê seu volume diminuindo, já que não é abastecido de forma suficiente. Com o passar do tempo, as águas vão desaparecendo da área do Cerrado. A água, então, é outro elemento importante do bioma que vai se extinguindo.
Hoje, usa-se ainda a agricultura irrigada porque há uma pequena reserva nos aquíferos. Mas, daqui a cinco anos, não haverá mais essa pequena reserva. Estamos colhendo os frutos da ocupação desenfreada que o agronegócio impôs ao Cerrado a partir dos anos 1970: entraram nas áreas de recarga dos aquíferos e, quando vêm as chuvas, as águas não conseguem infiltrar como antes e, como consequência, o nível desses aquíferos vai caindo a cada ano. Vai chegar um tempo, não muito distante, em que não haverá mais água para alimentar os rios. Então, esses rios vão desaparecer.
Por isso, falamos que o Cerrado é um ambiente em extinção: não existem mais comunidades vegetais de formas intactas; não existem mais comunidades de animais – grande parte da fauna já foi extinta ou está em processo de extinção; os insetos e animais polinizadores já foram, na maioria, extintos também; por consequência, as plantas não dão mais frutos por não serem polinizadas, o que as leva à extinção também. Por fim, a água, fator primordial para o equilíbrio de todo esse ecossistema, está em menor quantidade a cada ano.
Como é a situação desses aquíferos atualmente?
Há três grandes aquíferos na região do Cerrado: o Bambuí, que se formou de 1 bilhão de anos a 800 milhões de anos antes do momento presente; os outros dois são divisões do Aquífero Guarani, que está associado ao Arenito Botucatu e ao Arenito Bauru que começou a se formar há 70 milhões de anos. O Guarani alimenta toda a Bacia do Rio Paraná: a maior parte dos rios de São Paulo, de Mato Grosso, de Mato Grosso do Sul – incluindo o Pantanal Mato-Grossense – e grande parte dos rios de Goiás que correm para o Paranaíba, como o Meia Ponte. Toda essa bacia depende do Aquífero Guarani, que já chegou em seu nível de base e está alimentando insuficientemente os rios que dependem dele. Por isso, os rios da Bacia do Paraná diminuem sua vazão a cada ano que passa.
Então, podemos ter nisso a explicação para a crise da água em São Paulo?
Exato. Como medida de urgência, já estão perfurando o Arenito Bauru – que é mais profundo que o Botucatu, já insuficiente –, tentando retirar pequenas reservas de água para alimentar o sistema Cantareira [o mais afetado pela escassez e que abastece a capital paulista]. Mesmo se chover em grande quantidade, isso não será suficiente para que os rios juntem água suficiente para esse reservatório.
Assim como ocorre no Cantareira, outros reservatórios espalhados pela região do Cerrado – Sobradinho, Serra da Mesa e outros – vão passar pelo mesmo problema. Isso porque o processo de sedimentação no fundo do lago de um reservatório é um processo lento. Os sedimentos vão formando argila, que é uma rocha impermeável. Então, a água daquele lago não vai alimentar os aquíferos.
Mesmo tendo muita quantidade de água superficial, ela não consegue penetrar no solo para alimentar os aquíferos. Se não for usada no consumo, ela vai simplesmente evaporar e vai cair em outro lugar, levada pelas correntes aéreas. Isso é outro motivo pelo qual os aquíferos não conseguem recuperar seu nível, porque não recebem água.
(Para continuar, clique AQUI).
sexta-feira, 30 de janeiro de 2015
O FIASCO DA PRESTAÇÃO DE CONTAS DA PETROBRAS
A prestação de contas desastrosa da Petrobras
Por Luis Nassif
Os jornalões estão incorrendo em um ridículo intencional ao estimar a corrupção da Petrobras em R$ 88 bilhões. Foram auxiliados pela maneira desastrada com que a empresa está calculando e anunciando o “Impairment” no seu balanço.
A Força Tarefa do Lava Jato levantou dois números: a taxa de propina (paga pelos fornecedores) era de 3%; até agora o valor total das propinas foi de R$ 2,1 bilhões. Se aplicar os 3% sobre todos os investimentos do período Paulo Roberto Costa, chega a R$ 4,5 bilhões – quantia elevadíssima mas longe dessa ficção dos R$ 88 bilhões.
Os R$ 88 bilhões do teste do Impairment nada tem a ver com corrupção. Trata-se de um teste estimando o valor real de um ativo calculado em cima da projeção de resultados dele.
***
Um exemplo:
- O sujeito tem uma fábrica de cueca que dá lucro de R$ 100 mil por ano.
- Ele define um prazo de, digamos, 10 anos, e uma taxa de juros compatível com o mercado. Digamos, de 10% ao ano.
- Nesse caso, o valor do ativo (a fábrica de cuecas) será de R$ 614,5 mil.
O teste do “Impairment” consiste em adequar o valor do ativo à nova situação. Mas não se faz automaticamente. O diretor da companhia chama o auditor e pondera: o mercado caiu 20% hoje mas pode se recuperar no próximo ano. E trata de incorporar gradativamente a diferença.
A diferença entra como ativo diferido e é tratada como despesa – ajudando a abater o Imposto de Renda devido.
***
O “Impairment” da Petrobras foi de R$ 88 bilhões. Significa que houve uma redução das expectativas de lucros de um grande conjunto de investimentos.
Parte dessa redução decorreu de gastos excessivos em alguns investimentos. Mas a maior parte foi decorrente da mudança do cenário econômico, com queda dos preços de petróleo, mudança no perfil de consumo etc.
Houve queda nos preços internacionais do petróleo que impactaram o pré-sal e derrubaram o valor potencial dos investimentos.
Suponha o seguinte, bem grosso modo para entender a lógica do “Impairment”.
- O custo de extração do barril do pré-sal é de US$ 40,00.
- A cotação internacional do barril está em US$ 120,00.
- A cotação cai para US$ 50. Nesse caso o teste do “Impairment” iria definir uma baixa de quase 88% nos ativos do pré-sal.
- Aí o mercado se recupera e a cotação vai para, digamos, US$ 70. Nesse caso, o teste iria exigir um aumento de 200% no valor dos ativos.
Por isso mesmo, nenhuma grande empresa lança de uma vez todo o ajuste do “Impairment” no balanço. E nem anuncia aos quatro ventos, como fez a diretoria da Petrobras.
Simplesmente chamaria o auditor interno e o externo, discutiria com eles e definiriam em conjunto uma maneira gradativa de incorporar o “Impairment” ao balanço, levando em conta o fato de que os cenários futuros são voláteis.
O mercado torcia por um ajuste radical porque todos esses valores seriam levados à conta de despesas, reduzindo drasticamente o Imposto de Renda nos próximos balanços – e, obviamente, aumentando os lucros.
***
Dilma precisa tirar o tema Petrobras do caminho para começar a governar. E não será com prestações de conta desastrosas que o tema desaparecerá do noticiário. (Fonte: aqui).
................
Particularidades como as acima apontadas pelo articulista não interessam à mídia. O negócio é aproveitar a miopia da direção da Petrobras (haja deficiência comunicacional nessa equipe!) e 'vender' o desastre gentilmente oferecido. As manchetes, claro, logo trataram de 'misturar' impacto de 'impairment' com rombo de corrupção. E as manchetes, fidedignas ou não, são referência também para cartunistas...
Nani.
SEDENTARISMO EM KNOKKE-HEIST
Vladimir Stankovski. (Da Sérvia).
....
O cartum acima venceu o Salão Knokke-Heist Bélgica 2015. A ideia, porém...
...não é original.
Mas o benefício da dúvida é cabível: Estaríamos diante de uma coincidência? A ideia poderia ter ocorrido naturalmente ao cartunista...
FINANCIAMENTO PÚBLICO DE CAMPANHA: DECISÃO PELO STF CONTINUA ENCALHADA
300 dias com Gilmar
Ministro do Supremo segura ação que pode impedir o financiamento empresarial de campanha
Completam, nesta terça-feira (27), 300 dias do pedido de vista do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), da ação que pede o fim de doações de empresas para candidatos, comitês eleitorais ou partidos políticos. O julgamento, iniciado no dia 2 de abril de 2014, foi suspenso quando contava com 6 votos a favor e um contra.
A Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI 4650), movida pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados no Brasil (OAB), pede mudanças nas Leis 9.096/1995 e 9.504/1997, que disciplinam o financiamento de partidos políticos e campanhas eleitorais. A entidade integra, juntamente com outras 102 organizações da sociedade civil, o projeto da coalizão pela reforma política.
De acordo com o regimento da Corte, os autos do processo deveriam ter sido devolvidos há 270 dias. O pedido de vista é um recurso usado por magistrados para estender o prazo de análise do processo antes de manifestar seu voto, estipulado em até 30 dias.
Até a interrupção do julgamento, haviam votado a favor os ministros Luiz Fux, relator do processo, Dias Toffolli, Luís Roberto Barroso, Ricardo Lewandowski, Joaquim Barbosa, na época presidente do Supremo, e Marco Aurélio Mello. O ministro Teori Zavascki foi o único até o momento a votar contra a proposta.
Além de Gilmar Mendes, faltam ainda os votos das ministras Rosa Weber e Cármen Lúcia e do ministro Celso de Mello.
Campanha – Criticado pela morosidade em dar continuidade ao julgamento da ação, o ministro Gilmar Mendes é alvo de campanha na internet que pede a imediata conclusão do processo. Até mesmo um evento no Facebook, com 7,4 mil pessoas confirmadas, foi criado para lembrar dos documentos engavetados.
Atualmente, empresas são autorizadas a doar para candidatos, partidos ou campanhas até 2% do faturamento bruto no ano anterior. As doações podem ser feitas dentro ou fora de períodos eleitorais. Em 2014, 70,6% dos R$ 4,3 bilhões arrecadados pelos candidatos partiu de empresas.
Assim que o julgamento for concluído, os ministros do Supremo terão de definir a data que a nova regra passará a valer. Entretanto, a demora de Gilmar Mendes em devolver o processo para voto dos demais ministros poderá invalidar a mudança para as eleições para prefeitos, em 2016. (Fonte: aqui).
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Nenhuma surpresa. Ministro do STF tem, monocraticamente, competência e alçada ilimitadas: delibera sobre o que bem entender, retém qualquer processo pelo tempo que lhe apetecer etc. Eis que uma dúvida se instala: A lei prevê isso? Por acaso não existe, como no STJ, p. ex., prazo máximo para vistas processuais? Ora, não há que se falar em lei, o que importa é a prática consagrada! Eventual iniciativa em sentido contrário representará, obviamente, tentativa descabida de cerceamento do livre arbítrio ministerial...
DA SÉRIE MEGA MIOPIA JORNALÍSTICA (II)
"A decisão de divulgar o balanço financeiro trimestral da Petrobras sem contabilizar as perdas envolvendo dos desvios de dinheiro decorrentes dos esquemas investigados pela Operação Lava Jato teria tido "o dedo do Palácio do Planalto". A presidente Dilma Rousseff acompanhou pessoalmente o assunto, diz O Estado de S. Paulo em matéria sem fonte.
Segundo o jornal, incluir o prejuízo no balanço da estatal foi avaliado como um risco à empresa, "que poderia ter suas contas rejeitadas por CVM e SEC, com sérias consequências para sua diretoria e conselheiros".
O Planalto teria avaliado também que abordar o tal prejuízo sem previsão seria "chancelar" um dado que ninguém, na verdade, sabe precisar. "Dentro desse raciocínio, a decisão foi de que o melhor é não apresentar nenhum dado, por ora, até se encontrar o método considerado aceitável de precisão de cálculo", diz o off.
Na quarta-feira (28), o jornal O Globo publicou uma entrevista com o procurador da República no Paraná Deltan Dallagnol, que atua na Operação Lava Jato. Segundo ele, ainda é difícil cravar um número que represente os desvios que ocorreram na Petrobras.
"Existem estimativas feitas na imprensa de que o valor do prejuízo seria superior a 10 bilhões de reais. Contudo, a fonte desse número são relatórios do COAF sobre movimentações suspeitas, relativas a diversos investigados e não necessariamente relacionadas à Petrobras. É difícil fazer uma estimativa, mas alguns parâmetros apontam hoje para prejuízos superiores a 5 bilhões de reais apenas na área de abastecimento. Não podemos esquecer que houve corrupção já comprovada também na área internacional, o que pode elevar a estimativa", comentou."
(Do Jornal GGN, post intitulado "Dilma orientou exclusão de perdas do balanço da Petrobras, diz jornal". As perdas por corrupção poderão chegar ao absurdo montante de R$ 10 bilhões - presentemente chegam a R$ 2,1 bilhões, segundo o MPF -, ainda assim bem inferior aos R$ 88 bilhões que a Folha de São Paulo 'deu a entender' que corresponderiam à realidade - quando na verdade tal montante engloba perdas patrimoniais decorrentes de outros fatores, como a incorreta compra de equipamentos por valor superior ao cabível. Seja lá como for, a mega miopia da Folha já produziu efeitos: a queda acentuada na cotação das ações e a versão de que as perdas por corrupção alcançaram R$ 88 bilhões, isso entre o povão, que depois dessa poderá, quem sabe?, reagir positivamente quanto a eventual privatização da Petrobras...).
quinta-feira, 29 de janeiro de 2015
DA SÉRIE MEGA MIOPIA JORNALÍSTICA
Precipitada, Folha conta R$ 86,5 bilhões a mais de prejuízo de corrupção na Petrobras
Reportagem da Folha de S. Paulo desta manhã (29) divulgou que, segundo uma nota da presidente da Petrobras, Graça Foster, seria preciso cortar R$ 89 bilhões do valor de ativos, sem definição do quanto poderia ser corrupção. Essa quantia foi calculada por empresas contratadas para balizar a subtração no balanço da Petrobras. Ainda que sem comprovações exatas, o jornal publicou que o cálculo seria de "propina e superfaturamento no esquema de corrupção da estatal".
Os R$ 88,6 bilhões - que a Folha arredondou para R$ 89 na manchete principal da capa da edição - representam 15% de R$ 600 bilhões em ativo imobilizado da estatal. O valor foi apresentado na reunião do conselho de administração, nesta terça-feira (27).
Entretanto, os dados apurados pela Polícia Federal e Ministério Público Federal, na investigação da Lava Jato, foram outros. O balanço recente mostra um desvio de R$ 2,1 bilhões da Petrobras, e foi publicado em um infográfico da nova página do MPF sobre a Operação.
De acordo com os dados, estes sim apurados, do total, R$ 450 milhões foram recuperados e R$ 200 milhões em bens estão bloqueados, por determinação da Justiça.
A Folha de S. Paulo, que também publicou outra nota depois da edição impressa, justificou que o novo valor, R$ 86,5 bilhões a menos do que havia divulgado, "refere-se somente aos crimes já denunciados". "Caso novas denúncias sejam apresentadas à Justiça, o montante pode aumentar", coloca o jornal tentando validar a manchete errada já estampada em seus exemplares, no lead de nova reportagem.
Ao final, a notícia inserida na versão online reforça a tese: "o prejuízo à Petrobras com os crimes investigados deve aumentar", explicando que o procurador da República Deltan Dallagnol, um dos integrantes da força-tarefa da Operação Lava Jato no MPF, havia afirmado ao jornal O Globo que o rombo da corrupção na estatal pode ultrapassar R$ 5 bilhões, apenas na área de Abastecimento. (Fonte: aqui).
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Quando o assunto é isenção midiática, a areia movediça domina a paisagem. Chega a ser comovente a solidariedade entre as empresas de comunicação: todas elas silenciaram quanto ao destempero da Folha.
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Economia. Petrobras. Perdas. Folha de São Paulo.
MH370: ACIDENTE FATAL (ASPAS)
Malásia declara sumiço do MH370 como 'acidente fatal'
A Malásia declarou oficialmente nesta quinta-feira que o voo MH370 da Malaysia Airlines, que desapareceu em 8 de março do ano passado, sofreu um acidente fatal e que todos a bordo estão presumidamente mortos.
(...)
Autoridades tinham planejado fazer o anúncio em uma conferência de imprensa nesta tarde, mas o evento foi cancelado depois que parentes furiosos começaram a se dirigir para o local, informou o "Guardian". Eles reclamavam do fato de não terem sido informados da decisão antes da coletiva. (Fonte: aqui).
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Porta-voz do grupo de familiares dos passageiros chineses que embarcaram no voo MH370, no total, 153 pessoas, Steven Wang questiona - aqui -: "Não sabemos muitíssimas coisas. Eles (da Malaysia Airlines) também não. Por que se acham no direito de acabar com a história?"
De fato, a declaração da companhia tem cunho aleatório: não há pista, o mais remoto vestígio da aeronave, o mistério é total. Enquanto isso, estamos prestes a completar um ano de especulações, inclusive as mais tresloucadas. Há até quem indague: Se, segundo se propala, a agência norte-americana NSA monitora tudo o que se passa na Terra e no Cosmo, qual a razão para o estrepitoso silêncio?
PETROBRAS: O CÁLCULO DAS PERDAS
A tarefa impossível de calcular as perdas da Petrobras
Por Luis Nassif
A Petrobras foi submetida a um desafio impossível: estimar as perdas com a corrupção para dar baixa no balanço.
Os vazamentos indiscriminados ventilaram a suspeita de que os desvios poderiam ter ascendido a R$ 20 bilhões. Mas a única coisa de concreto que se tem é a comissão de 3% sobre cada contrato fechado. E quem pagava era o fornecedor, não a Petrobras.
Compare-se a propina com, digamos, uma comissão de vendas.
Do ponto de vista penal, a distinção é total: propina é crime e tem que levar a cadeia quem pagou e quem recebeu.
Do ponto de vista contábil (e do ponto de vista de proporção do contrato) ambas equivalem. Ou seja, o custo de uma propina é similar ao de uma comissão por intermediação comercial.
Mas não é só isso.
A intermediação justifica-se no caso de contratos sem licitação. Aí, valem os contatos e a lábia do vendedor. No caso de contratos licitados, o custo da intermediação (ou seja, da propina) é embutido no preço do contrato. Teoricamente, então, o primeiro cálculo para estimar as perdas da. Petrobras seria o sobrepreço pago para compensar a propina. Para isso, a Lava Jato precisa ter o quadro completo de propinas pagas e repassá-lo à Petrobras.
Não apenas isso.
Há a suspeita de formação de cartel. A caça implacável da força tarefa atrás da Odebrecht tem uma explicação. Não se pode conceber um cartel sem a presença da maior empreiteira. Se nada for encontrado que incrimine a Odebrechet, ficará difícil provar a tese do cartel.
Daí o empenho dos delegados e procuradores em plantar notas na imprensa, buscando o caminho mais fácil: intimidar os executivos da empresa para que adiram à delação premiada.
Se conseguirem juntar todos os elos e provar a existência do cartel, o passo seguinte será estimar o sobrepreço que resultou do acordo. E esse sobrepreço teria que ser calculado em cada obra. Não pode ser confundido com os aditivos, já que parte deles têm justificativas técnicas.
Já se dizia que era mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico ir para a prisão. O rico já foi. Diria que é mais fácil contar as areias do castelo do que ter uma resposta precisa para as baixas contábeis da Petrobras. (Fonte: aqui).
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Impossível ou não o cálculo, o fato é que a mídia divulgou rombo de R$ 88 bi, o que implicou queda de quase 11% na cotação das ações da empresa.
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Economia. Petrobras. Perdas. Luis Nassif.
DA PROPAGANDA E SUAS ROUPAGENS
(Capa da edição de 16 de junho de 2004).
A farra bilionária das estatinas e o "jornalismo" subserviente à indústria farmacêutica
Por Cynara Menezes
Eu estava trabalhando na revista Veja (os piores oito meses de minha carreira; leia aqui) quando saiu uma capa louvando as estatinas, pílulas usadas para controlar o colesterol “ruim” que, afirmava a revista, eram “a grande surpresa da medicina”, “a aspirina do século 21″, “um dos medicamentos que mudaram a história”. A reportagem, de cinco páginas, parecia um anúncio pago pelos fabricantes do medicamento, comparado por Veja à descoberta da penicilina. As estatinas seriam eficazes para tratar angina, Alzheimer, osteoporose, câncer, esclerose múltipla e diabetes (íntegra aqui). Só faltou bicho-do-pé. “Um belíssimo negócio para a indústria farmacêutica”, vibrava a semanal da editora Abril.
De lá para cá, as estatinas se transformaram na maior fonte de lucro dos laboratórios. Uma delas, o Lípitor (atorvastatina, da Pfizer), se tornou o medicamento campeão de vendas no mundo e, com o providencial pontapé da “revista mais vendida”, o número dos que usam estatinas no Brasil pulou de 400 mil para 8 milhões de pessoas. Mas o que pouca gente sabe é que, após 10 anos, o que foi apresentado ao leitor incauto da revista como panaceia agora é questionado por pesquisadores, médicos e cientistas como prejudicial à saúde e, no mínimo, inútil. E o mais bizarro: hoje o uso contínuo de estatinas está associado a alguns dos males que supostamente curaria, como perda de memória, doenças cardíacas, diabetes, fraqueza muscular e câncer.
Dois anos atrás, a própria Veja reconheceu, em uma reportagem minúscula escondida no site da revista: “Acaba a lua de mel com as estatinas” (leia aqui). No texto, a publicação admitia que efeitos colaterais graves têm sido associados ao uso do remédio outrora “revolucionário”, até mesmo a capacidade de provocar o infarto em vez de preveni-lo – justamente a maior qualidade levantada pela propaganda, ops, reportagem anterior. Novos estudos com voluntários, advertia o artigo, comprovam que “usuários frequentes das estatinas tiveram um aumento muito maior na calcificação de placas em suas artérias coronárias. Isso poderia levar a riscos maiores de infartos nesses pacientes”.
Na época da capa-louvação, o cardiologista Sergio Vaisman, coordenador da pós-graduação em Medicina Preventiva da Universidade Fernando Pessoa, no Porto, escreveu um artigo em seu blog em que condenava o excesso de otimismo da Veja em relação às estatinas. “Acho lamentável assistir a esse desfile de propaganda que enaltece produtos que irão comprometer nossa saúde se usados em demasia”, escreveu Vaisman, criticando a falta de interesse da revista em mostrar os efeitos colaterais do remédio, como as dores musculares crônicas e a rabdomiólise, uma degeneração das fibras musculares que pode levar a lesões renais graves e até à morte. Detalhe: uma estatina, a Baycol (cerivastina, da Bayer), já havia sido retirada do mercado em 2001 por causar rabdomiólise e matar 52 pessoas nos EUA por falência renal.
Entrevistei Vaisman pelo telefone. Ele está cada vez mais cético em relação às estatinas, que só prescreve a seus pacientes em casos muito graves e por um período apenas. “Sou contra o uso contínuo de estatinas, mas vou contra a corrente, porque o establishment da medicina manda fazer isso. Existe uma pressão muito grande da indústria farmacêutica, principalmente sobre os médicos recém-formados”, diz. E ressalta: “Não existe nenhuma evidência científica de que as estatinas protegem o coração de um infarto”.
(Para continuar, clique AQUI).
................
A notória publicação, na praça desde 1968, não limitou seus holofotes às estatinas. Houve outras drogas louvadas ao longo de sua trajetória - pelo menos até quando a li, muitos anos atrás.
A farra bilionária das estatinas e o "jornalismo" subserviente à indústria farmacêutica
Por Cynara Menezes
Eu estava trabalhando na revista Veja (os piores oito meses de minha carreira; leia aqui) quando saiu uma capa louvando as estatinas, pílulas usadas para controlar o colesterol “ruim” que, afirmava a revista, eram “a grande surpresa da medicina”, “a aspirina do século 21″, “um dos medicamentos que mudaram a história”. A reportagem, de cinco páginas, parecia um anúncio pago pelos fabricantes do medicamento, comparado por Veja à descoberta da penicilina. As estatinas seriam eficazes para tratar angina, Alzheimer, osteoporose, câncer, esclerose múltipla e diabetes (íntegra aqui). Só faltou bicho-do-pé. “Um belíssimo negócio para a indústria farmacêutica”, vibrava a semanal da editora Abril.
De lá para cá, as estatinas se transformaram na maior fonte de lucro dos laboratórios. Uma delas, o Lípitor (atorvastatina, da Pfizer), se tornou o medicamento campeão de vendas no mundo e, com o providencial pontapé da “revista mais vendida”, o número dos que usam estatinas no Brasil pulou de 400 mil para 8 milhões de pessoas. Mas o que pouca gente sabe é que, após 10 anos, o que foi apresentado ao leitor incauto da revista como panaceia agora é questionado por pesquisadores, médicos e cientistas como prejudicial à saúde e, no mínimo, inútil. E o mais bizarro: hoje o uso contínuo de estatinas está associado a alguns dos males que supostamente curaria, como perda de memória, doenças cardíacas, diabetes, fraqueza muscular e câncer.
Dois anos atrás, a própria Veja reconheceu, em uma reportagem minúscula escondida no site da revista: “Acaba a lua de mel com as estatinas” (leia aqui). No texto, a publicação admitia que efeitos colaterais graves têm sido associados ao uso do remédio outrora “revolucionário”, até mesmo a capacidade de provocar o infarto em vez de preveni-lo – justamente a maior qualidade levantada pela propaganda, ops, reportagem anterior. Novos estudos com voluntários, advertia o artigo, comprovam que “usuários frequentes das estatinas tiveram um aumento muito maior na calcificação de placas em suas artérias coronárias. Isso poderia levar a riscos maiores de infartos nesses pacientes”.
Na época da capa-louvação, o cardiologista Sergio Vaisman, coordenador da pós-graduação em Medicina Preventiva da Universidade Fernando Pessoa, no Porto, escreveu um artigo em seu blog em que condenava o excesso de otimismo da Veja em relação às estatinas. “Acho lamentável assistir a esse desfile de propaganda que enaltece produtos que irão comprometer nossa saúde se usados em demasia”, escreveu Vaisman, criticando a falta de interesse da revista em mostrar os efeitos colaterais do remédio, como as dores musculares crônicas e a rabdomiólise, uma degeneração das fibras musculares que pode levar a lesões renais graves e até à morte. Detalhe: uma estatina, a Baycol (cerivastina, da Bayer), já havia sido retirada do mercado em 2001 por causar rabdomiólise e matar 52 pessoas nos EUA por falência renal.
Entrevistei Vaisman pelo telefone. Ele está cada vez mais cético em relação às estatinas, que só prescreve a seus pacientes em casos muito graves e por um período apenas. “Sou contra o uso contínuo de estatinas, mas vou contra a corrente, porque o establishment da medicina manda fazer isso. Existe uma pressão muito grande da indústria farmacêutica, principalmente sobre os médicos recém-formados”, diz. E ressalta: “Não existe nenhuma evidência científica de que as estatinas protegem o coração de um infarto”.
(Para continuar, clique AQUI).
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A notória publicação, na praça desde 1968, não limitou seus holofotes às estatinas. Houve outras drogas louvadas ao longo de sua trajetória - pelo menos até quando a li, muitos anos atrás.
OS ATAQUES À PETROBRAS (E SUA RETRIBUIÇÃO)
A Globo não ataca o Governo, ataca o Estado nacional
Por José Carlos de Assis
O noticiário da Globo é tendencioso. Ninguém que seja medianamente informado pensará diferente. Entretanto, não sei se as vítimas desse noticiário perceberam que no afã de denegrir o Governo, o que está perfeitamente dentro de suas prerrogativas de imprensa livre, a Tevê Globo, sobretudo nas pessoas dos comentaristas William Waack e Carlos Sardenberg, passaram a atacar o Estado brasileiro, o que sugere crime de lesa-pátria.
O Jornal da Globo de ontem, terça-feira, ultrapassou todos os limites da manipulação no sentido de execrar com a Petrobras através de uma análise distorcida de fatos e estatísticas. Os dois comentaristas tomaram por base valor de mercado, comparando-o com dívidas, para sugerir que a empresa está quebrada. É puro charlatanismo, economia de botequim, violação das mais elementares regras de jornalismo sério.
Valor de mercado não mede valor de empresa; é simplesmente um indicador de solvência de ações num dia no ambiente ultra-especulativo de bolsas de valores. O que mede o valor real de uma empresa é seu patrimônio comparado com seu endividamento. As dívidas que a Petrobras contraiu para suas atividades produtivas, notadamente do pré-sal, são muitíssimo inferiores a seu patrimônio, no qual se incluem bilhões de barris medidos de óleo do pré-sal.
Evidentemente que os dois comentaristas da Globo torcem para que o petróleo fique por tempo indefinido abaixo dos 45 dólares para inviabilizar o pré-sal brasileiro. Esqueçam isso. É uma idiotice imaginar que a baixa do petróleo durará eternamente: a própria imprensa norte-americana deu conta de que os poços em desenvolvimento do óleo e do gás de xisto, os vilões dos preços baixos, tem um tempo de vida muito inferior ao que se pensava antes.
É claro que o preço baixo do petróleo tem um forte componente geopolítico a fim de debilitar, de uma tacada, a economia russa, a economia venezuelana e a economia iraniana – e muito especialmente a primeira. Mas o fato é que atinge também empresas americanas que entraram de cabeça no xisto, assim como países “aliados” que produzem petróleo. No caso do pré-sal, ele só se tornaria inviável no mercado internacional com o barril abaixo de 45 dólares.
Os ataques dos dois comentaristas da Globo à Petrobras têm endereço certo: é parte de uma campanha contra o modelo de partilha de produção do pré-sal sob controle único da Petrobras, contra a política de conteúdo nacional nas encomendas da empresa e contra a contratação das grandes construtoras brasileiras para os serviços de construção de plataformas e outras obras civis, principalmente de refinarias.
Esses três pontos foram assinalados no discurso de Dilma como inegociáveis. É uma decisão de Estado, não apenas de Governo. Sintomaticamente, os dois comentaristas da Globo sequer mencionaram esses pontos. Preferiram dar destaque maior ao noticiário pingado da Lava Jato, que, cá pra nós, já está ficando chato na medida em que não tem nada realmente novo, mas simples repetição à exaustão de denúncias anteriores.
P.S. Talvez os dois comentaristas teriam maior simpatia pela Petrobras se parassem para dar uma olhada nos anúncios televisivos sobre a performance vitoriosa da empresa, e que ela está pagando para serem exibidos na Globo, para mim de forma absurda e injustificável. (Fonte: aqui).
quarta-feira, 28 de janeiro de 2015
ENEM: ESFORÇO PREMIADO
Aprovado em medicina veio do interior do Piauí e estudava 15h por dia
Do Jornal de Luzilândia
Rayron Holanda só descansava aos sábados à tarde e domingo de manhã
Rayron Holanda é natural de Elesbão Veloso e foi aprovado em Medicina, curso que sempre quis fazer, pela Universidade Federal do Piauí, com nota de 785,86. Foi no ensino fundamental que ele descobriu sua paixão pela área de saúde e, desde então, resolveu se dedicar para alcançar seu sonho.
O jovem já havia feito Enem como treineiro, mas em 2014 foi a primeira vez que prestou vestibular de fato. Rayron também foi aprovado para Medicina em uma faculdade particular e conta que vem se preparando desde que se mudou para Teresina. Na capital, ele mora com os tios e recebe apoio de todos da família. “Quando me mudei, há três anos, senti uma grande diferença na dinâmica do dia-a-dia do colégio e da cidade. Mas fui me acostumando”, conta.
Além do apoio familiar, sua dedicação quase integral contribuiu para a aprovação no vestibular. Rayron conta que mantinha um ritmo intenso de estudos de quase 15h diárias. “Eu só descansava no sábado a tarde e no domingo de manhã”, afirma.
De segunda a sábado, de 7h às 13h30min, o estudante frequentava o colégio e assistia todas as aulas. Pela tarde, quando chegava em casa, o jovem almoçava, descansava por alguns minutos e continuava estudando até meia-noite, com pausas breves para lanchar.
Ao saber do resultado divulgado ontem (26), Rayron viajou para Elesbão Veloso para comemorar a conquista com o irmão mais novo, a madrasta e seu pai, que atualmente se dedica integralmente a cuidar de seus dois filhos.
Para Rayron, o esforço valeu a pena. “A sensação de ver meu nome na lista dos aprovados foi uma das melhores sensações da vida. Sinto que tudo que eu abdiquei durante esses anos, todo o esforço que eu fiz, teve recompensa”, conclui.
Com a aprovação, Rayron agora aguarda ansiosamente pelo início das aulas e já está pensando em qual área se dedicar dentro do curso. “Penso em seguir a área da neurologia”, afirma.
O curso de medicina da Ufpi recebeu 1.556 inscrições e foi o 11º mais concorrido da instituição, com 38,9 pessoas disputando uma vaga. Em todo o Brasil, o curso foi o 4º mais procurado, com concorrência de 63,14 para uma vaga. (Fonte: Jornal de Luzilândia - aqui).
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O post acima, do Jornal de Luzilândia, foi reproduzido no blog Conversa Afiada, liderado pelo jornalista Paulo Henrique Amorim - aqui.
Rayron confirma a velha máxima: Quem sua a camisa, não engole poeira.
SOBRE O DESASTRE DA ÁGUA
"A iminência de um colapso de abastecimento não é atribuível somente às ocorrências climáticas extremas, mas também a deficientes gerenciamentos e políticas públicas de recursos hídricos que tornaram impossível contornar a crise sem maiores prejuízos à população".
(Do Ministério Público Federal, a propósito da caótica situação hídrica observada em São Paulo - aqui.
Segundo a Constituição Federal, o gerenciamento do sistema de abastecimento de água é de responsabilidade dos governos estaduais. Geraldo Alckmin e seu antecessor, José Serra, nada fizeram diante dos alertas e recomendações técnicas alinhadas em relatórios diversos, notadamente o produzido em 2009 por comissão especialmente criada para avaliar a situação hídrica reinante.
Alckmin vem agindo como se não fosse com ele, e diz que tem muita gente querendo tirar uma casquinha política da crise hídrica. O MPF, no entanto, foi categórico em sua crítica: houve incúria administrativa na condução do assunto. E, convenhamos, não há 'clima' pra dizer que o MPF está querendo tirar uma casquinha política...).
Em tempo: Clique aqui para ler "Como o MP tentou impedir a tragédia e o governo Alckmin não deixou".
O FUTURO SOMBRIO DO JORNALISMO
'Jornalismo robô': Uma ameaça real?
Por Federico G. Santori
“O fim do jornal é uma das coisas mais previsíveis do nosso futuro. Os
únicos que ainda não sabem disso são os jornalistas”. Assim o político e
empresário editorial italiano Gianroberto Casaleggio iniciou uma palestra em
novembro de 2014 sobre o futuro da imprensa, aniquilada pelo chamado “robot
journalism”. Em breve os jornalistas serão substituídos por “bots”, softwares
capazes de escrever artigos jornalísticos com rapidez e talvez até com mais
exatidão do que os profissionais de carne e osso.
Vários jornais, sobretudo as publicações online, já abordaram o tema em artigos e reportagens, em geral em tom alarmista. Títulos como “Robôs roubam o trabalho de jornalistas” ou “O caminho da morte do jornalismo” são bons para conseguir cliques, mas os textos acabam oferecendo análises superficiais. Muitas são as implicações que este fenômeno poderia ter para os profissionais e também para as pessoas que buscam informação na internet.
No fundo, “o ‘robot journalism’ é o novo nome de um problema debatido desde os anos 1990, quando surgiu o Daily Me, um jornal virtual personalizado”, lembra Stefano Epifani, professor de gerenciamento de mídias sociais na Universidade La Sapienza, em Roma. Seria apenas a versão 2.0 do secular debate sobre a relação entre o ser humano e as máquinas.
A tecnologia para a escrita automática deve muito aos especialistas em inteligência artificial da Northwestern University de Illinois, nos Estados Unidos. Larry Birnbaum e Kris Hammond, professores de informática e fundadores da start-up Narrative Science, inventaram Quill, um dos primeiros sistemas para a produção de textos breves sem intermediação humana. “Baseado em algoritmos que respondem a funções específicas, o software começa com a importação de dados – especialmente sobre finanças ou esportes, que se limitam a reportar nomes e números. Pode-se utilizar desde bancos de dados de governos até o Twitter, como já acontece no caso de análises de redes sociais em períodos de eleições”, explica Alessio Cimarelli, cientista de dados e co-fundador da rede Dataninja.
Listas, tabelas e gráficos são então convertidos de modo que sejam funcionais a uma construção narrativa. O software constrói frases simples, mas legíveis, com linguagem técnica ou informal, coerente com a linha editorial do jornal que solicita o serviço. O resultado é uma nota com um número de palavras que varia entre 150 e 300. E todo o processo é realizado em poucos segundos, automaticamente.
Em julho de 2014, a Associated Press, uma das maiores agências de notícias do mundo, causou polêmica ao anunciar a adoção do Wordsmith, um sistema para a produção de notícias sobre os resultados trimestrais das sociedades cotadas em bolsas de valores. “Durante muitos anos perdemos tempo mastigando números e remanejando as informações fornecidas pelas empresas, publicando cerca de 300 relatórios a cada trimestre”, explicou o editor-chefe de Economia da AP, Lou Ferrara. “A partir de agora podemos produzir até 4.400 destes relatórios.” Para confeccionar tantas notícias seriam necessárias dezenas de jornalistas que se ocupassem exclusivamente desta tarefa, a custos exorbitantes.
Apenas entramos na era digital dos Big Data, que aumentarão exponencialmente a quantidade de dados disponíveis, dos quais nós jornalistas não podemos fazer proveito sozinhos. Um computador pode analisar enormes quantidades de dados e desempenhar outras tarefas ao mesmo tempo, sem se cansar. Pode substituir a equipe dedicada às notícias e fornecer quase 15 vezes mais informações a um preço bem mais baixo.
Não por acaso, muitas publicações norte-americanas, entre elas Huffington Post, Sports Illustrated, Business Insider e ProPublica decidiram experimentar o “robot journalism”. “Queremos usar nossos cérebros e nosso tempo de maneira mais eficiente”, comenta Ferrara, da AP. Segundo alguns profissionais, os bots podem ser algo positivo: os redatores poderiam renunciar a trabalhos alienantes e se concentrar em conteúdos mais complexos, como reportagens investigativas, resenhas e artigos opinativos.
“As histórias que os bots podem escrever hoje são, francamente, aquelas que os humanos odeiam ter de fazer”, comenta Kevin Roose, ex-redator do jornal norte-americano The New York Times. “Se o Times tivesse usado um algoritmo para os relatórios trimestrais em lugar de passar a tarefa para jovens jornalistas, eu teria podido investir minhas manhãs em trabalhos que exigissem real inteligência humana.”
A maior parte do material produzido em portais jornalísticos online consiste em artigos breves e facilmente legíveis, relativos a fatos e declarações específicas. O advento da internet significou um aumento do espaço e uma diminuição do tempo, assim a repentina evolução da informação online se baseia na proliferação e na tempestividade de novos conteúdos. Muitas pessoas se sentem hoje sob um bombardeio midiático de notícias de última hora. Não é isso que a maior parte dos usuários espera da internet. “O que lhes interessa são interpretações dos fatos que respeitem as opiniões e os gostos deles”, acredita o professor Epifani. “Sérias ou divertidas, medíocres ou de qualidade, o importante é que sejam bem feitas e, por que não, personalizadas.”
Não por acaso a maior parte dos jornais online dão amplo espaço a blogs pessoais ou escritos por personalidades relevantes que, em muitos casos, têm mais seguidores do que a própria publicação que as hospeda. É na onda destas tendências que se observam o aumento de artigos cada vez mais longos e aprofundados com relação ao potencial multimídia (o chamado “long journalism”, que faz uso de vídeos e imagens de impacto), a difusão de conteúdos mais narrativos (o “storytelling”, ou “contação de histórias”) e o sucesso de projetos editoriais como o Huffington Post, primeiro a investir pesado em blogs, e o BuzzFeed, fenômeno com 300 milhões de visitantes ao mês que publica conteúdo engraçadinho em formato simplista mas altamente legível.
A internet ofereceu novas oportunidades e derrubou barreiras que já pareceram intransponíveis. As grandes publicações impressas entenderam que na web 2.0, das redes sociais e do comércio eletrônico, as notícias por si só não servem mais. Também por isso, não obstante os bots e os tabus, a profissão de jornalista não morrerá. Pelo contrário: o que fará a diferença será tudo aquilo que uma máquina não pode oferecer – qualidade, originalidade e capacidade de adaptação. O mundo da informação, portanto, terá fronteiras menos rígidas, mas será mais seletivo, oferecendo a quem o habita a oportunidade de se reinventar, abandonando esquemas obsoletos.
Com a crescente disponibilidade de dados, inevitavelmente as notícias vão aumentar, mas com outros objetivos para além do simples desfrute do usuário. Graças às visualizações e à propagação através das mídias sociais, produzirão elas mesmas dados que outro sistema poderá analisar. Segundo o sociólogo bielorrusso especialista em novas mídias Evgenij Morozov, professor da Universidade de Stanford, nos EUA, será “jornalismo feito por bots para bots”.
A demanda de conteúdos quentes a que os jornais estão buscando responder, porém, se coloca em um contexto mais amplo. “Hoje os usuários se preocupam com a tutela da própria privacidade e com a proteção contra vírus e spam, mas também querem receber informações e visualizar conteúdos mais pertinentes aos seus interesses”, explica Cimarelli. “Também por isso o Twitter e o Facebook modificaram recentemente os algoritmos que determinam o que vemos em nossas linhas do tempo.” Assim como o Google, estas redes construíram um modelo de negócios baseado nos dados pessoais que os usuários disponibilizam enquanto fazem buscas e compras na internet e interagem nas redes sociais.
Com estas informações, as gigantes da web são capazes de proporcionar a cada usuário conteúdo selecionado com base em seus interesses. E quando se trata da publicidade personalizada, um anunciante que busca um alvo preciso paga pelo consumidor que pode alcançar. Se já aconteceu de você buscar informações sobre uma viagem na internet e depois ser bombardeado por anúncios de hotéis e companhias aéreas, você sabe do que estamos falando. Este é o trabalho dos bots, os mesmos da escrita automática. As gigantes da web, portanto, poderiam ir além da publicidade e desenvolver um serviço de conteúdo informativo voltado para cada pessoa. O algoritmo que identifica o conteúdo a ser visualizado poderia também criar as notícias.
“Em 2025, 90% das notícias lidas pelo público serão geradas por computador e a quantidade de material publicado crescerá enormemente”, afirmou o fundador da Narrative Science, Kris Hammond. “Chegará o dia em que haverá somente um leitor para cada artigo”. Para o vice-presidente da Automated Insights, Adam Smith, “a partir dos mesmos dados, podemos formular milhões de histórias diferentes” com base nas necessidades de cada destinatário. E não só: os artigos chegariam diretamente ao usuário, que por não precisar buscá-los teria um papel cada vez mais passivo e acabaria recebendo notícias das mesmas fontes, em consonância com suas opiniões.
“Um círculo vicioso”, define Morozov. “Muitas pessoas poderiam consumir informações de baixa qualidade e receber somente poucos indícios da existência de um mundo diverso e plural.” Com a impressão de não estar perdendo nada graças à “natureza comunitária das mídias sociais”, que limita a interação dos usuários ao círculo mais estreito de amigos e pessoas que seguem, amalgamando opiniões similares.
Um dos mais destacados críticos do internet-centrismo, Morozov conjecturou sobre as consequências que poderiam advir de sistemas avançados de “robot journalism” nas mãos de empresas como Google e Amazon. “A verdadeira ameaça vem da nossa recusa em investigar as consequências sociais e políticas de viver em um mundo que impossibilita a leitura anônima de qualquer conteúdo. Um mundo que anunciantes e gigantes da web não veem a hora de ocupar, em que será mais difícil preservar o pensamento crítico e pouco convencional”, soterrado pelo senso comum cuja formação estará cada vez mais nas mãos destas grandes corporações. (Fonte: aqui).
* Artigo publicado originalmente no site do jornal italiano Pagina99. Tradução de Carolina de Assis.
Vários jornais, sobretudo as publicações online, já abordaram o tema em artigos e reportagens, em geral em tom alarmista. Títulos como “Robôs roubam o trabalho de jornalistas” ou “O caminho da morte do jornalismo” são bons para conseguir cliques, mas os textos acabam oferecendo análises superficiais. Muitas são as implicações que este fenômeno poderia ter para os profissionais e também para as pessoas que buscam informação na internet.
No fundo, “o ‘robot journalism’ é o novo nome de um problema debatido desde os anos 1990, quando surgiu o Daily Me, um jornal virtual personalizado”, lembra Stefano Epifani, professor de gerenciamento de mídias sociais na Universidade La Sapienza, em Roma. Seria apenas a versão 2.0 do secular debate sobre a relação entre o ser humano e as máquinas.
A tecnologia para a escrita automática deve muito aos especialistas em inteligência artificial da Northwestern University de Illinois, nos Estados Unidos. Larry Birnbaum e Kris Hammond, professores de informática e fundadores da start-up Narrative Science, inventaram Quill, um dos primeiros sistemas para a produção de textos breves sem intermediação humana. “Baseado em algoritmos que respondem a funções específicas, o software começa com a importação de dados – especialmente sobre finanças ou esportes, que se limitam a reportar nomes e números. Pode-se utilizar desde bancos de dados de governos até o Twitter, como já acontece no caso de análises de redes sociais em períodos de eleições”, explica Alessio Cimarelli, cientista de dados e co-fundador da rede Dataninja.
Listas, tabelas e gráficos são então convertidos de modo que sejam funcionais a uma construção narrativa. O software constrói frases simples, mas legíveis, com linguagem técnica ou informal, coerente com a linha editorial do jornal que solicita o serviço. O resultado é uma nota com um número de palavras que varia entre 150 e 300. E todo o processo é realizado em poucos segundos, automaticamente.
Em julho de 2014, a Associated Press, uma das maiores agências de notícias do mundo, causou polêmica ao anunciar a adoção do Wordsmith, um sistema para a produção de notícias sobre os resultados trimestrais das sociedades cotadas em bolsas de valores. “Durante muitos anos perdemos tempo mastigando números e remanejando as informações fornecidas pelas empresas, publicando cerca de 300 relatórios a cada trimestre”, explicou o editor-chefe de Economia da AP, Lou Ferrara. “A partir de agora podemos produzir até 4.400 destes relatórios.” Para confeccionar tantas notícias seriam necessárias dezenas de jornalistas que se ocupassem exclusivamente desta tarefa, a custos exorbitantes.
Apenas entramos na era digital dos Big Data, que aumentarão exponencialmente a quantidade de dados disponíveis, dos quais nós jornalistas não podemos fazer proveito sozinhos. Um computador pode analisar enormes quantidades de dados e desempenhar outras tarefas ao mesmo tempo, sem se cansar. Pode substituir a equipe dedicada às notícias e fornecer quase 15 vezes mais informações a um preço bem mais baixo.
Não por acaso, muitas publicações norte-americanas, entre elas Huffington Post, Sports Illustrated, Business Insider e ProPublica decidiram experimentar o “robot journalism”. “Queremos usar nossos cérebros e nosso tempo de maneira mais eficiente”, comenta Ferrara, da AP. Segundo alguns profissionais, os bots podem ser algo positivo: os redatores poderiam renunciar a trabalhos alienantes e se concentrar em conteúdos mais complexos, como reportagens investigativas, resenhas e artigos opinativos.
“As histórias que os bots podem escrever hoje são, francamente, aquelas que os humanos odeiam ter de fazer”, comenta Kevin Roose, ex-redator do jornal norte-americano The New York Times. “Se o Times tivesse usado um algoritmo para os relatórios trimestrais em lugar de passar a tarefa para jovens jornalistas, eu teria podido investir minhas manhãs em trabalhos que exigissem real inteligência humana.”
A maior parte do material produzido em portais jornalísticos online consiste em artigos breves e facilmente legíveis, relativos a fatos e declarações específicas. O advento da internet significou um aumento do espaço e uma diminuição do tempo, assim a repentina evolução da informação online se baseia na proliferação e na tempestividade de novos conteúdos. Muitas pessoas se sentem hoje sob um bombardeio midiático de notícias de última hora. Não é isso que a maior parte dos usuários espera da internet. “O que lhes interessa são interpretações dos fatos que respeitem as opiniões e os gostos deles”, acredita o professor Epifani. “Sérias ou divertidas, medíocres ou de qualidade, o importante é que sejam bem feitas e, por que não, personalizadas.”
Não por acaso a maior parte dos jornais online dão amplo espaço a blogs pessoais ou escritos por personalidades relevantes que, em muitos casos, têm mais seguidores do que a própria publicação que as hospeda. É na onda destas tendências que se observam o aumento de artigos cada vez mais longos e aprofundados com relação ao potencial multimídia (o chamado “long journalism”, que faz uso de vídeos e imagens de impacto), a difusão de conteúdos mais narrativos (o “storytelling”, ou “contação de histórias”) e o sucesso de projetos editoriais como o Huffington Post, primeiro a investir pesado em blogs, e o BuzzFeed, fenômeno com 300 milhões de visitantes ao mês que publica conteúdo engraçadinho em formato simplista mas altamente legível.
A internet ofereceu novas oportunidades e derrubou barreiras que já pareceram intransponíveis. As grandes publicações impressas entenderam que na web 2.0, das redes sociais e do comércio eletrônico, as notícias por si só não servem mais. Também por isso, não obstante os bots e os tabus, a profissão de jornalista não morrerá. Pelo contrário: o que fará a diferença será tudo aquilo que uma máquina não pode oferecer – qualidade, originalidade e capacidade de adaptação. O mundo da informação, portanto, terá fronteiras menos rígidas, mas será mais seletivo, oferecendo a quem o habita a oportunidade de se reinventar, abandonando esquemas obsoletos.
Com a crescente disponibilidade de dados, inevitavelmente as notícias vão aumentar, mas com outros objetivos para além do simples desfrute do usuário. Graças às visualizações e à propagação através das mídias sociais, produzirão elas mesmas dados que outro sistema poderá analisar. Segundo o sociólogo bielorrusso especialista em novas mídias Evgenij Morozov, professor da Universidade de Stanford, nos EUA, será “jornalismo feito por bots para bots”.
A demanda de conteúdos quentes a que os jornais estão buscando responder, porém, se coloca em um contexto mais amplo. “Hoje os usuários se preocupam com a tutela da própria privacidade e com a proteção contra vírus e spam, mas também querem receber informações e visualizar conteúdos mais pertinentes aos seus interesses”, explica Cimarelli. “Também por isso o Twitter e o Facebook modificaram recentemente os algoritmos que determinam o que vemos em nossas linhas do tempo.” Assim como o Google, estas redes construíram um modelo de negócios baseado nos dados pessoais que os usuários disponibilizam enquanto fazem buscas e compras na internet e interagem nas redes sociais.
Com estas informações, as gigantes da web são capazes de proporcionar a cada usuário conteúdo selecionado com base em seus interesses. E quando se trata da publicidade personalizada, um anunciante que busca um alvo preciso paga pelo consumidor que pode alcançar. Se já aconteceu de você buscar informações sobre uma viagem na internet e depois ser bombardeado por anúncios de hotéis e companhias aéreas, você sabe do que estamos falando. Este é o trabalho dos bots, os mesmos da escrita automática. As gigantes da web, portanto, poderiam ir além da publicidade e desenvolver um serviço de conteúdo informativo voltado para cada pessoa. O algoritmo que identifica o conteúdo a ser visualizado poderia também criar as notícias.
“Em 2025, 90% das notícias lidas pelo público serão geradas por computador e a quantidade de material publicado crescerá enormemente”, afirmou o fundador da Narrative Science, Kris Hammond. “Chegará o dia em que haverá somente um leitor para cada artigo”. Para o vice-presidente da Automated Insights, Adam Smith, “a partir dos mesmos dados, podemos formular milhões de histórias diferentes” com base nas necessidades de cada destinatário. E não só: os artigos chegariam diretamente ao usuário, que por não precisar buscá-los teria um papel cada vez mais passivo e acabaria recebendo notícias das mesmas fontes, em consonância com suas opiniões.
“Um círculo vicioso”, define Morozov. “Muitas pessoas poderiam consumir informações de baixa qualidade e receber somente poucos indícios da existência de um mundo diverso e plural.” Com a impressão de não estar perdendo nada graças à “natureza comunitária das mídias sociais”, que limita a interação dos usuários ao círculo mais estreito de amigos e pessoas que seguem, amalgamando opiniões similares.
Um dos mais destacados críticos do internet-centrismo, Morozov conjecturou sobre as consequências que poderiam advir de sistemas avançados de “robot journalism” nas mãos de empresas como Google e Amazon. “A verdadeira ameaça vem da nossa recusa em investigar as consequências sociais e políticas de viver em um mundo que impossibilita a leitura anônima de qualquer conteúdo. Um mundo que anunciantes e gigantes da web não veem a hora de ocupar, em que será mais difícil preservar o pensamento crítico e pouco convencional”, soterrado pelo senso comum cuja formação estará cada vez mais nas mãos destas grandes corporações. (Fonte: aqui).
* Artigo publicado originalmente no site do jornal italiano Pagina99. Tradução de Carolina de Assis.
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Amarga conclusão: Se impera, nos dias que correm, um cenário onde pululam distorções e manipulações no universo midiático, o aceno que o futuro nos faz indica uma realidade ainda pior, coisa inimaginável para mortais sensatos. Sem falar nas contradições desde logo detectáveis, a exemplo da sugerida nesta indagação: Para que, afinal, jornalismo investigativo - aquele que ficará 'fora dos robôs' - se 'chegará o dia em que haverá somente um leitor para cada artigo'?
terça-feira, 27 de janeiro de 2015
SOBRE DELAÇÃO PREMIADA, MEIAS INFORMAÇÕES E VACILOS DIVERSOS
Modos de dizer
Por Jânio de Freitas
Procuradores e juízes que negociam delações podem ceder direitos financeiros da União e da Petrobras?
A delação premiada é, por si mesma, de discutível e discutida moralidade, não precisa de acréscimos factuais que a façam ainda mais questionável. A autodenominada "força-tarefa Lava Jato" traz, porém, outro adendo aos motivos de críticas à delação premiada e seus efeitos não judiciais, como os vazamentos e as duvidosas acusações que escapam do "segredo de Justiça", as pressões apontadas por advogados, e outros.
O acréscimo se encontra em uma nota da "força-tarefa" com a intenção de negar que o "doleiro [Alberto Youssef] pode ganhar R$ 10 milhões se ajudar a recuperar R$ 500 milhões desviados da Petrobras", notícia assinada na Folha por Mario Cesar Carvalho e Gabriela Terenzi, com base em informações do advogado Antonio Figueiredo Basto, defensor de Youssef.
A nota é taxativa: "Não existe qualquer cláusula de pagamento pela União de recompensa para o acusado". E critica os repórteres por não lerem ou não terem entendido o acordo da delação premiada. Mas, por pouco interesse em bem informar ou com propósito não explicitado, deixa de incluir, em seus "esclarecimentos a omissões significativas nas reportagens", a informação decisiva.
Essa informação está em entrevista do procurador Carlos Fernando dos Santos Lima para negar a existência da "cláusula de recompensa" referida por Figueiredo Basto. No texto do "Globo": em lugar de recompensa, "segundo o procurador, o acordo de delação premiada prevê o abatimento do valor da multa que ele [Alberto Youssef] terá que pagar no fim do processo, ainda a ser definida". Segue-se a explicação pormenorizada, pelo procurador, dos critérios de aplicação e abatimento da multa.
Carlos Fernando dos Santos Lima é integrante da Lava Jato e praticante daquela linha-duríssima que se confunde, frequentemente, com arbitrariedade (hábito comum, quase característica, em procuradores da República). Não considera que haja recompensa a Youssef. Mas o que diz e a nota escamoteia é só um outro modo de dizer o essencial da notícia contestada: os valores de multa devida pelo delator premiado serão propriedade da União, e qualquer parte que lhes seja retirada para pagamento a Youssef, ou a outros, consistirá em remuneração com dinheiro da União.
Restam duas questões. Os procuradores e juízes que negociam delações premiadas podem ceder direitos financeiros da União (multas) e da Petrobras (devoluções)? Não é tempo de acabar com meias informações e liberar notas e documentos que proporcionem ao país clareza sobre os métodos e o teor das negociações entre Ministério Público e Judiciário, de um lado, e acusados, de outro?
Já que o tema é retribuição, em agradecimento à força-tarefa pelo ensinamento de jornalismo com que encerra sua nota, vai uma sugestão para notas futuras: em vez de "sem prejuízo do perdimento de bens e valores", pode escrever "sem prejuízo da perda" que a Língua Portuguesa agradecerá.
A MUDANÇA
Em sua participação final no Fórum de Davos, Joaquim Levy disse, sobre a nova política econômica, que "nós decidimos mudar". A imprecisão deliberada desse plural não disfarça a inverdade, caso expresse o país, como interpretado por parte do noticiário, nem a presunção do autor, se referida à decisão governamental.
O país não decidiu mudar. A maioria do eleitorado não apenas votou pela continuidade: rejeitou a política econômica proposta por Aécio e agora adotada por Dilma.
Quem decidiu mudar foi Dilma Rousseff, e decidiu sozinha, em uma extravagância de poder contra a vontade das urnas. Espera-se que não volte a falar em plebiscito ou em qualquer consulta à vontade pública. (Fontes: aqui e aqui).
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Diante de certa 'nebulosidade' relativamente à questão judicial, transcrevo interessante comentário pinçado entre os expostos no Jornal GGN:
"O que a justiça brasileira precisa entender, mas entender mesmo, é que a lei depende muito de quem a emprega. O juiz precisa ter certeza disso, senão ele pensa que é dono da lei ou que a lei lhe impõe procedimento. Pensa, mas não é assim. E ser juiz onde há um pig, uníssono, é uma tarefa dificílima. Será que não estou sendo levado, será??? Ser juiz é, em si, muito difícil.
Outra coisa: delação premiada é perigosíssima. Se não sabem disso, é melhor não usá-la. É remédio que, se a dosagem e controle não forem perfeitos, mata o doente. Vazamento, principalmente seletivo, é desastroso. Uso político, terrível, é transformá-la em outro crime. Ambos dificílimos de serem evitados. Ingenuidade perante o "meio" (pode ser mídia) é destruidor. Transformá-la em poder, então, é uma coisa a ser evitada a cada singelo passo, perigosíssimo, comprometedor. Por isso deu certo contra a máfia italiana.
A justiça está precisando, e muito, de levar em conta o dito árabe, lá dos tempos do Malba Tahan: 'Quem não desconfia de si próprio não merece a confiança dos outros'". (H. C. Coelho).
NEW GREECE
Tom Janssen.
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Grécia chacoalha a Europa:
O triunfo do Syriza, de Alexis Tsipras, futuro primeiro-ministro da Grécia, representa mais que a inédita vitória, em solo europeu, de corrente inimiga da estratégia de austeridade.
A envergadura histórica dos resultados eleitorais vai além: pela primeira vez desde o final da União Soviética, um partido de esquerda, anticapitalista, conquista o governo de uma nação do velho continente.
A vida política da região esteve marcada, desde os anos noventa, pela dança de cadeiras entre duas variáveis do neoliberalismo: a conservadora e a social-democrata.
A exceção é o nacionalismo russo de Putin e outros Estados menores, ex-integrantes do antigo espaço soviético, mas cuja identidade não está marcada por paradigmas socialistas.
As agremiações sociais-democratas, contudo, foram paulatinamente deixando de ser expressões reformistas do campo progressista para se converterem em opção mais branda da hegemonia do capital financeiro.
Suas gestões pouco ou nada se diferenciam, no fundamental, do que é defendido e praticado por legendas propriamente de direita. Chegam mesmo a compor governos de unidade nacional, como é caso alemão e o da própria Grécia até este domingo (25/01).
O Pasok, aliás, virou pó, com menos de 5% dos votos, com os eleitores esculachando a aliança de governo dos sociais-democratas com a principal legenda da direita, a Nova Democracia.
O fato é que a esquerda europeia esteve circunscrita, antes da ascensão do Syriza, a papel secundário, desempenhado por partidos comunistas e outros grupos com sérias dificuldades para se viabilizarem como alternativa de poder.
O jogo, agora, mudou.
O Syriza (em grego, abreviatura para Coligação da Esquerda Radical) tem fisionomia semelhante ao PT brasileiro.
Mais do que partido clássico, trata-se de frente orgânica. Aglutina inúmeras correntes, em espectro que vai do trotsquismo à social-democracia, ao redor de um programa de caráter socialista.
Sua principal força propulsora são os movimentos sociais e populares que se rebelaram contra o garrote financeiro imposto sobre a Grécia desde a crise de 2010.
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(Para continuar a leitura de "Vitória da esquerda grega chacoalha Europa", de Breno Altman, clique AQUI).
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Grécia chacoalha a Europa:
O triunfo do Syriza, de Alexis Tsipras, futuro primeiro-ministro da Grécia, representa mais que a inédita vitória, em solo europeu, de corrente inimiga da estratégia de austeridade.
A envergadura histórica dos resultados eleitorais vai além: pela primeira vez desde o final da União Soviética, um partido de esquerda, anticapitalista, conquista o governo de uma nação do velho continente.
A vida política da região esteve marcada, desde os anos noventa, pela dança de cadeiras entre duas variáveis do neoliberalismo: a conservadora e a social-democrata.
A exceção é o nacionalismo russo de Putin e outros Estados menores, ex-integrantes do antigo espaço soviético, mas cuja identidade não está marcada por paradigmas socialistas.
As agremiações sociais-democratas, contudo, foram paulatinamente deixando de ser expressões reformistas do campo progressista para se converterem em opção mais branda da hegemonia do capital financeiro.
Suas gestões pouco ou nada se diferenciam, no fundamental, do que é defendido e praticado por legendas propriamente de direita. Chegam mesmo a compor governos de unidade nacional, como é caso alemão e o da própria Grécia até este domingo (25/01).
O Pasok, aliás, virou pó, com menos de 5% dos votos, com os eleitores esculachando a aliança de governo dos sociais-democratas com a principal legenda da direita, a Nova Democracia.
O fato é que a esquerda europeia esteve circunscrita, antes da ascensão do Syriza, a papel secundário, desempenhado por partidos comunistas e outros grupos com sérias dificuldades para se viabilizarem como alternativa de poder.
O jogo, agora, mudou.
O Syriza (em grego, abreviatura para Coligação da Esquerda Radical) tem fisionomia semelhante ao PT brasileiro.
Mais do que partido clássico, trata-se de frente orgânica. Aglutina inúmeras correntes, em espectro que vai do trotsquismo à social-democracia, ao redor de um programa de caráter socialista.
Sua principal força propulsora são os movimentos sociais e populares que se rebelaram contra o garrote financeiro imposto sobre a Grécia desde a crise de 2010.
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(Para continuar a leitura de "Vitória da esquerda grega chacoalha Europa", de Breno Altman, clique AQUI).
R. K. LAXMAN: DA SÉRIE ALTERNATIVAS PARA CAPTAÇÃO DE ÁGUA
R. K. Laxman.
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R. K. Laxman, autor do cartum acima, nasceu na Índia em outubro de 1921 e morreu dias atrás (aos 94 ainda desenhava!). O cartum é de anos atrás, mas é como se tivesse sido produzido ontem...
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Cartum. Água. R K Laxman. Indiano. 1921-2015.
UM PARCEIRO ESTRATÉGICO
O "exército islâmico" dos Estados Unidos
Por Fernando Brito
Recebo, do meu velho professor Nílson Lage, um interessante resumo das práticas do governo da Arábia Saudita, maior aliado (militar, inclusive) dos EUA no Oriente Médio.
Apenas sete pontos, que não causam escândalo na mídia mundial.
Todos práticas oficiais do Rei Abdullah, pranteado pelo Ocidente como grande governante.
1. Nada de eleições, nada de partidos, nada de oposição.
2. Decapitação, amputação de membros ou chicoteamento público de acusados de crimes, “infiéis” ou opositores políticos e religiosos.
3. Nepotismo oficial, com bons empregos e renda garantidos para os 7.000 parentes da dinastia Saud.
4. O poder passa de pai para filho ou de irmão para irmão e as brigas de família levaram até a uma revolta de sobrinho e um assassinato real “familiar”.
5. A tortura é legal, na polícia e na Justiça. Tanto que, em 2013, um homem foi condenado a ficar paraplégico como punição.
6. As mulheres não têm direitos, até pouco tempo eram “legalmente” espancadas e até dirigir um automóvel lhes é proibido.
7. Financia, nas palavras de ninguém menos que Hillary Clinton, o terrorismo internacional: “Al Qaeda, Taleban, LeT [o grupo Lashkar-e-Taiba, sediado no Paquistão] e outros grupos terroristas”, disse ela.
Alguma diferença com o “Estado Islâmico” que os EUA e a Europa bombardeiam, literalmente, nas areias da Síria?
Só o fato de serem os melhores amigos dos EUA. (Fonte: aqui).
PARTIDOS POLÍTICOS: LINHAS DE PRODUÇÃO
Brasil pode ganhar mais 43 partidos políticos
Do Valor Econômico
O número de partidos com pedido de criação nos tribunais regionais eleitorais dos estados ultrapassa 40. Mas a soma pode ser ainda bem maior. De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), nem todos os tribunais disponibilizam esses dados na internet. Além disso, algumas siglas estão registradas em cartório, mas ainda colhem assinaturas para a legalização, fase anterior ao protocolo do pedido de registro nos Tribunais Regionais Eleitorais (TREs). Legendas como PMB (Partido Militar Brasileiro) e Rede Sustentabilidade já contam com mais de 400 mil assinaturas de eleitores em pelo menos um terço dos estados, conforme exige o TSE.
O tribunal estabelece que o número de firmas de eleitores aptos deve corresponder a, no mínimo, 0,5% dos votos dados na última eleição para a Câmara dos Deputados, excluindo votos em branco e nulos. O que significa que os partidos devem colher mais de 490 mil assinaturas de apoiadores. Sem as mais de 40 legendas que algum dia tentarão um lugar no cenário político-eleitoral, as críticas já são muitas. Mas, na opinião do cientista político da UFRGS Benedito Tadeu César, o maior problema não é a quantidade de siglas (atualmente, são 32): "Os Estados Unidos têm mais de 100 partidos. A diferença é que lá os partidos precisam se manter. No Brasil, há tempo de propaganda eleitoral gratuita e os recursos do Fundo Partidário. Isso acaba sendo usado como moeda de troca". O fisiologismo, apontado pelo cientista político, pode ser traduzido no programa de vários partidos que buscam registro. Alguns conseguem amalgamar no mesmo programa pautas claramente progressistas com outras conservadoras. Na maioria, porém, prevalece o discurso de direita, seja ela liberal ou conservadora. Um documento do Partido Militar Brasileiro afirma que o programa Bolsa Família "faz uma geração de pais vagabundos" e coloca sob o rótulo de "esquerda" siglas diversas como PT, PSDB e PMDB.
O Partido Nova Arena, que pretende ser refundado a partir das posições da antiga Arena, também coloca em xeque argumentos sobre o fim das dicotomias entre esquerda e direita. Em suas propostas, a Nova Arena aclara que possui como ideologia "o Conservadorismo, o Nacionalismo, o Empreendedorismo e a Ética, tendo para todos os efeitos a posição de Direita no espectro político bidimensional (Direita e Esquerda) e de terceira alternativa no espectro político tridimensional (Esquerda, Centro e Direita)". O conservadorismo também está nos regimentos internos. No estatuto do Partido Novo, consta que "os mandatos dos membros do Diretório Nacional são de prazo indeterminado, até que o respectivo dirigente atinja 75 anos de idade".
Já o Partido da Mulher Brasileira (PMB), que recolheu mais de 400 mil assinaturas, afirma querer dar mais voz às mulheres. Entretanto, não nega a filiação e a eleição de políticos do sexo masculino. Especialista em Direito Eleitoral e professora da FGV/RJ, Silvana Batini explica que os partidos não estão obrigados a adotar internamente um formato democrático. "O TSE não pode, em princípio, negar registro a um partido que tenha essa cláusula esdrúxula de organização interna. Trata-se de uma pessoa jurídica de direito privado. É muito estranho, mas se pensarmos nas formas de intervenção vertical de diretórios que existem em praticamente todos os partidos, veremos que práticas democráticas não são o forte das agremiações partidárias".
................
Como no velho chiste de Ivan Lessa: Absurdos assim podem acontecer a tempo e hora, né?, agora, Reforma Política, incluindo reforma partidária, nem pensar...
É o Congresso do Abuso, quero dizer, Teatro do Absurdo.
segunda-feira, 26 de janeiro de 2015
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