terça-feira, 30 de setembro de 2014

ECOS HOMOFÓBICOS


Mário.

VOTAR PARA PRESIDENTE: 25 ANOS DE UM DIREITO RECONQUISTADO

              Praça da Sé, São Paulo, novembro de 1984: cinco anos depois viria o direito.

Há 25 anos, o país voltava a escolher seu presidente e a política estava nas ruas

Por Vitor Nuzzi

Hilton Acioli vai lembrando e cantarola, "rompe a cortina do passado", "vai lá e vê que a alegria já demorou demais". O compositor havia recebido "duas palavrinhas" do publicitário Paulo de Tarso Santos e teve a responsabilidade de fazer um jingle. Vê o que dá para fazer, disseram a ele. "Na hora, eu não achei nada", lembra o compositor potiguar, que completará 65 anos em outubro, na véspera da eleição, e foi componente do Trio Marayá, nos anos 1950 e 1960. "A sorte é que ficou na minha memória." Para buscar a canção, ele conta que havia a preocupação de aproximar o "tema" do jingle ao que Hilton chama de elite popular, citando Noel Rosa, Ary Barroso, Pixinguinha: "Populares, mas ao mesmo tempo clássicos".

De Ary veio um mote: "Abre a cortina do passado", canta de novo. E foi assim que ele compôs um samba, no início de 1989, para apresentar aos "clientes", no comitê de campanha, na Vila Mariana, zona sul de São Paulo. Estavam lá Ricardo Kotscho, Aloizio Mercadante, Vladimir Pomar, entre outros. O "tema" viria de Brasília para escutar, mas não foi. E Hilton cantou o samba: "Eu olhava na cara deles e pensava: a música não é esta". De lá, saiu para papear com um amigo, o publicitário Osvaldo de Melo, a quem repetiu: acho que não é essa música. E foi para casa. "Quando acordei, me veio a música."

E ele cantarola mais uma vez um dos jingles políticos mais marcantes de todos os tempos. "Quando você faz uma música nova, que você acredita, fica todo energizado", diz Hilton, lembrando das origens do Lula lá, feito para a primeira campanha de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República, em 1989. A letra da música faz referência ao "primeiro voto". A ideia era falar tanto dos jovens como de quem, de fato, iria pela primeira vez à urna para escolher o presidente.

Era a primeira eleição presidencial desde 1960. Nos momentos finais da ditadura, o Brasil voltara a escolher governadores pelo voto direto (1982) e prefeitos de capitais e parte dos municípios (1985). Passara por uma campanha nacional de restabelecimento das eleições presidenciais, o movimento das Diretas Já, em 1984, direito só reconquistado em 1989, quando foram às urnas 70 milhões de pessoas, menos da metade do eleitorado atual. Para o cientista político Paulo d'Avila Filho, a eleição de 1989 "simboliza a retomada da democracia". Este ano, o Brasil vai para a sétima eleição presidencial seguida, uma sequência inédita no país.

Candidatos: 22

Essa retomada, de certa forma, pode ser medida pela quantidade de candidatos a presidente: 22, número que nunca mais se repetiu. Este ano, por exemplo, são 11. Se hoje há três candidatas, duas disputando o primeiro lugar, em 1989 apareceu a primeira mulher na disputa presidencial: a advogada mineira Lívia Abreu, do Partido Nacionalista (PN), que recebeu 180 mil votos, 0,25% do eleitorado.
Ali apareceu pela primeira vez Enéas Carneiro, do nanico Prona (360 mil votos, 0,5%). Lanterna do primeiro turno (4 mil votos, 0,01%), Armando Corrêa, o "candidato dos explorados", chegou a renunciar em favor do apresentador Silvio Santos, que apareceu 15 dias antes do primeiro turno, mas foi barrado pela Justiça Eleitoral.

(Para continuar, clique aqui).

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Dodó Macedo.  2014.

A POLÍTICA ESTÁ EM TODAS (QUE BOM)


Lute.

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

PARABÉNS, MAFALDA

Sid.

Mafalda chega aos 50 anos sem perder atualidade; quadrinistas homenageiam

Por Rodrigo Casarin

"Papa?"

"O papai está trabalhando, Guile"

"Po quê?"

"Porque gente grande precisa trabalhar"

"Po quê?"

"Porque senão não dá para comprar comida, nem roupa, nem nada"

"Po quê?"

"Porque o mundo está organizado assim, Guile"

"Po quê?"

"Um ano e meio, e já é candidato às bombas de gás lacrimogênio".

Os desenhos que ilustram a história acima são até dispensáveis para mostrar como continua atual o universo que rodeia Mafalda, clássica personagem de Quino e que nesta segunda-feira (29) completa 50 anos. A garotinha de cabelos negros ornados por uma fita e rosto gorducho ficou conhecida por causa de suas contestações e inconformismo com o mundo que lhe serviu de palco durante 1964 e 1973.

Filha de pais de classe média, Mafalda nunca se limitou a problemas típicos da infância e levou o olhar crítico e apurado para questões econômicas e sociais de todo o planeta. Demonstrava ojeriza às desigualdades, às injustiças e à violência da mesma forma que repudiava um prato de sopa. Na direção oposta, colocava Beatles no mais alto dos patamares.

"Mafalda é uma heroína 'enraivecida' que recusa o mundo tal qual ele é. (...) Já que nossos filhos vão se tornar --por escolha nossa-- outras tantas Mafaldas, será prudente tratarmos Mafalda com o respeito que merece um personagem real", cunhou o escritor Umberto Eco em "Mafalda ou A Recusa", texto publicado em 1969 e que ajudou a torná-la famosa mundialmente.

                                                Mafalda e Quino.

Em sua cidade natal, Buenos Aires, Mafalda virou praça e estátua, uma das atrações preferidas de muitos turistas para as fotos. Mas ela representa muito mais que isso: apesar de ter vivido somente nos desenhos e tirinhas --e uma brevíssima incursão pelo desenho animado--, tornou-se uma referência de seu país, uma das dez figuras argentinas mais conhecidas em todo o mundo no século 20.

"Olhando em perspectiva, há dois aspectos importantes sobre Mafalda: o primeiro foi o diálogo com fatos da época, algo inovador em tiras sul-americanas; o segundo, foi o diálogo estabelecido com o leitor adulto. Hoje, muitos se esquecem de que a série foi produzida num momento político bastante delicado da Argentina e que os adultos eram o público-alvo prioritário das histórias. Esse fato direcionou a produção de tiras nos jornais argentinos a partir da década de 1970 e é sentido até hoje", explica Paulo Ramos, jornalista especialista em HQs e blogueiro do UOL, autor de "Bienvenidos - Um Passeio pelos Quadrinhos Argentinos".

(Para continuar, clique aqui).

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Mara L. Baraúna, do Jornal GGN, ofereceu excelente homenagem à garota sapeca.

Quanto ao "quadrinistas" do título, clique aqui.

SAUDADE DA VIDA SIMPLES...


Zop.

LEVY E O LGBT


Clique aqui para ler "Levy associa homossexuais à pedofilia e prega enfrentamento a gays", em que, no debate entre presidenciáveis na TV Record, há pouco encerrado, Levy Fidelix (PRTB) associou a homossexualidade com pedofilia e afirmou que gays precisam de atendimento psicológico "bem longe daqui".

Fidelix chegou a tentar aliar suas palavras à recente atitude do papa Francisco relativamente a bispo implicado em pedofilia.

É despropositada, no entanto, a tentativa de obter o 'aval papal': em julho de 2013, após a Jornada Mundial da Juventude, no Brasil, o Papa, a bordo de avião que o levava de volta a Roma, afirmou que os gays não devem ser marginalizados, e sim integrados à sociedade, acrescentando: "Se uma pessoa é gay e busca a Deus, quem sou eu para julgá-la?" - AQUI.

Se estivesse em vigor a pretendida lei que criminaliza a homofobia, teríamos um enquadramento emblemático. 

REGULAÇÃO DA MÍDIA


Por que a regulação da mídia é uma boa notícia para a sociedade

Por Paulo Nogueira

Vai começar a choradeira.

“Querem calar a imprensa livre” e outras coisas do gênero.

Isso porque, na entrevista a blogueiros nesta sexta, Dilma Rousseff defendeu energicamente a regulamentação econômica da mídia.

Ela fez questão de dizer que não se trata de controle de conteúdo, mas de regras que coíbam a formação de monopólios e oligopólios.

Todas as sociedades avançadas têm mecanismos para evitar a concentração de poder na mídia por razões óbvias.

O Brasil não.

É um problema antigo, e jamais resolvido. Até a ditadura militar, a certa altura, se incomodou com o excesso de voz da Globo, como mostra um livro produzido com documentos pessoais do general Geisel.

Mas nunca nada foi feito para estimular a pluralidade de opiniões e promover a competição num mercado francamente oligopolizado.

Por um motivo: sucessivos governos tiveram em comum o medo pânico de incorrer na ira dos proprietários das empresas de jornalismo.

Quem perdeu, com isso, foi a sociedade, privada do acesso a ideias diversas que poderiam ajudar as pessoas a formar sua própria opinião.

Dilma disse aos blogueiros – entre os quais Kiko Nogueira, do DCM – que a sociedade agora está demandando a regulação econômica da mídia.

Esta tarefa, afirmou ela, estará em seu segundo mandato, caso seja reeleita.

As circunstâncias, hoje, são mais favoráveis a mexer num assunto tão complicado, dada a fúria com que a mídia se atira contra coisas que ameacem seus privilégios.

A internet tirou muito do poder dos donos da chamada mídia tradicional. Jornais e revistas são cada vez menos lidos, e telejornais menos vistos.

Com isso, o poder de intimidação e de represálias vai minguando.

Uma coisa é você ser alvo de uma campanha do Jornal Nacional com 60 pontos de audiência, e sem a internet para servir de contraponto.

Outra coisa é uma campanha do JN com 20 pontos de audiência, e com a internet dando voz a quem não tinha.

Muda tudo.

Uma regulação econômica é um primeiro e essencial passo. Mas há mais coisas por fazer.

A legislação que vigora no Brasil é amplamente favorável às empresas de mídia e desfavorável para os cidadãos.

Multas irrisórias e processos intermináveis dificultam qualquer tipo de reparação quando você é vítima de um assassinato de reputação.

O modelo dinamarquês é uma referência mundial. Os ingleses o estão estudando na reforma que promovem na sua mídia depois que eclodiu o escândalo de invasão de celulares feito por um tabloide de Murdoch.

Na Dinamarca, um conselho formado por pessoas de reputação ilibada - parte nomeada pela própria mídia - toma decisões rápidas em situações em que alguém se julga prejudicado por uma matéria de jornal ou coisa parecida.

Caso se conclua que houve mesmo um erro, o jornal é obrigado a publicar, rapidamente, uma reparação no mesmo espaço em que fez a acusação considerada infundada.

As multas também são altas o bastante para que os editores pensem muito antes de publicar acusações sem provas.

A informação de Dilma de que vai mexer na regulação da mídia caso vença as eleições é uma boa notícia para a sociedade – por mais que os beneficiários da presente situação tentem convencer as pessoas de que é uma má notícia. (Fonte: aqui).

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A vedação a monopólios/oligopólios de comunicação é uma das diretrizes expostas no artigo 220 da Constituição Federal promulgada em outubro de 1988. A diretriz, porém, até a presente data aguarda regulamentação. Na prática, pois, não passa de letra morta.

Outra letra morta é o Direito de Resposta: projeto de lei de autoria do senador Roberto Requião aguarda deliberação por parte do Congresso Nacional.

Até quando persistirão essas inconstitucionalidades? 

ELEIÇÕES 2014: ANALISANDO A CAMPANHA


"Aí estão os dias finais de uma campanha feia. Antecipada por Eduardo Campos e Aécio Neves, que em maio já tinham atitudes eleitoreiras, nos cinco meses até agora não deixou nem um só instante de brilho pessoal ou de criatividade política. Não é menos notável que, em se tratando de candidaturas à Presidência, também não aparecesse nem uma só proposta capaz de distinguir-se do que tem composto o palavrório trocado entre oposições e governos.

Em compensação, não faltou grossura. Desde sua queda na pesquisa anterior à de agora, Marina Silva consumiu muito das oportunidades de atração eleitoral com o discurso de vítima na campanha baseada em ataques. É claro que algum efeito o tiroteio político sempre produz, em quem é alvo e no atirador. Mas ninguém sai desta campanha na condição de devedor de ataques aos adversários diretos. E daí vem uma ameaça às eleições futuras.

Vê-se que o fracasso da agressividade de José Serra, na disputa com Lula, não serviu de ensinamento aos políticos que os sucedem em confrontos iguais. E com os mais afortunados marqueteiros parece ter ocorrido o mesmo, sendo que, no seu caso, também nada aprenderam com o mestre marqueteiro, Duda Mendonça, e o seu Lula cativante e proponente.

A grossura foi até institucionalizada agora, como técnica marqueteira, sob o nome enganoso e enganado de "desconstrução" do adversário. Agressão e desconstrução são coisas diferentes. Mas como ao final da batalha verbal haverá, necessariamente, vencedor que praticou a "desconstrução", é grande o risco de que a nova "técnica" fique consagrada como chave do sucesso eleitoral.

O ataque como campanha não fará a vitória nem as derrotas nesta eleição. Explicar as suas quedas nas pesquisas pelos ataques recebidos, como fazem Marina e seus correligionários, equivale a dizer que os ataques eram fundados, porque ela decaiu, em apenas um mês, dos 50 pontos que tinha no fim de agosto para os 27 do fim de setembro.

Da mesma maneira, se "desconstruir" por ataques levasse ao êxito, Aécio Neves teria hoje outra situação. E Dilma Rousseff não poderia estar na liderança, porque durante os cinco meses foi o alvo principal de Aécio, inaugurador da campanha baseada na "desconstrução" e divulgador desse nome.

Aécio tem motivos para lamentar sua campanha. As perspectivas que o levaram à candidatura caíram com o avião de Eduardo Campos, mas as últimas pesquisas mostram que errou duplamente. Primeiro, ao relaxar por causa da entrada impetuosa de Marina na disputa e nas pesquisas. Segundo, por se limitar aos ataques. Quando viu o movimento descendente de Marina, há duas semanas, Aécio reanimou a campanha e, para isso, afinal fez um pouco mais do que atacar. A resposta veio nos dois últimos Datafolha: subida equivalente a 20% do total anterior.

A campanha de Marina não foi capaz de demonstrar ser ela o tal novo, que lhe fora atribuído pela mistura de aversão ao PT, rescaldo de votações passadas, escassa identificação de Aécio e morte de Eduardo Campos. Marina preferiu a aderir aos ataques, e leva o troféu do mais violento deles, na acusação aos governantes do PT de "nomear diretores para assaltar a Petrobras". A expectativa do novo refluiu, à falta de sua exibição, e várias contradições tornaram Marina mais vulnerável. Na queda, à sua fixação no ataque juntou apenas a lamentação de vítima. Será pouco para explorar os próximos e últimos dias.

Dilma entrou na campanha com um patrimônio único. Se bem trabalhadas, muitas das ações do seu governo traziam um potencial grande de atração do eleitorado. Mas sua campanha pendeu, de início, para um populismo barato, levado a extremos no horário eleitoral. Depois, entrou e ficou no jogo dos ataques, escolhido pelos adversários.

Só nas duas últimas semanas Dilma adotou o papel de candidata diante dos eleitores. E recebeu, como resposta, o aumento de sua vantagem no primeiro turno e a liderança no eventual segundo, perdida por Marina. E, a depender dos próximos dias, até a hipótese de encerrar a eleição no primeiro turno."



(De Jânio de Freitas, no jornal Folha de São Paulo, post intitulado "Feia, grossa e errada" - aqui).

CARTUM POLITICAMENTE INCORRETO


Zop.

domingo, 28 de setembro de 2014

A VOLTA TRIUNFAL DA FITA K7

              EUA: Fitas K7 e LPs na loja da gravadora Burger Records, na Califórnia.

Artistas de peso aderem à fita K7 para lançar álbuns

Por Fernanda Ezabella

Vinil é coisa do passado. Quem está de volta ao mercado é a fita cassete. Só no sul da Califórnia, onde o revival tomou força em 2010, dezenas de gravadoras independentes vem se dedicando ao K7 e, mais recentemente, reconquistando artistas de peso.

Em abril, o DJ superstar Skrillex lançou 3.000 fitas do álbum "Recess", assim como Snoop Dogg fez com "7 Days of Funk" e Dave Grohl com a trilha sonora do seu documentário "Sound City".

Em duas semanas, o Weezer lança mil K7s autografados do álbum novo, "Everything Will Be Alright in the End", com a Burger Records.

A gravadora é a pioneira na volta do formato, tem uma loja em Orange County (condado vizinho a Los Angeles) e organiza festivais com suas bandas (algumas cooptadas por grandes gravadoras, como Jail e Happy Birthday).

Em sete anos, já vendeu mais de 350 mil fitas. Em 2014, foram mais de 300 lançamentos, contra cem em 2011. Seu projeto mais ambicioso foi uma caixa com cinco fitas do The Go, primeira banda de Jack White.

"Gente de gerações mais velhas reclama, diz que é pura nostalgia, mas quem está comprando é a garotada, gente que não cresceu com fitas. É tudo novo para eles", diz Sean Bohrman, 32, cofundador da gravadora. "As fitas são como cartões de visitas, objetos colecionáveis, superfáceis de produzir."

Para fazer 500 fitas, custa cerca de US$ 400 (R$ 963) e leva duas semanas, contra US$ 1.000 (R$ 2.407) para um lote mínimo de 5.000 CDs em um mês. Os K7s são vendidos por US$ 5 (R$ 12) cada um.

Entre os destaques atuais do selo, Bohrman cita a banda Cherry Glazerr, liderada pela jovem Clementine Creevy, e a dupla Garden. Em 2013, Flaming Lips e At The Drive In relançaram álbuns no formato.

O selo Doom of Dome, de Los Angeles, abriu há quatro anos e já vendeu mais de 5.000 fitas de seus 30 álbuns. Para cada lançamento, produz 200 cópias de K7s e 500 vinis.

A primeira loja a vender suas fitas foi a Amoeba, em Hollywood. "É um pedaço real de arte que o fã pode pegar na mão, algo incrivelmente raro nesta época digital", diz Wylie Cable, 27, dono da Doom of Dome. Ele trocou o toca-CDs do carro por um toca-fitas. "Melhor decisão que já tomei", brinca.

Na loja Jacknife Records & Tapes, também em Los Angeles, há o mesmo número de vinis, CDs e K7s à venda: 4.000 de cada um.

"Depois de vinis, vendo mais fitas. Trabalho com umas 15, 20 gravadoras de K7", diz o dono da loja, Trevor Baade. "Um formato não é melhor que o outro, cada um tem sua nuance e a qualidade depende de muitos fatores. Muitas vezes toco fita na loja e as pessoas pensam que é vinil."  (Fonte: aqui).


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A exemplo do LP, a fita K7 tem um som mais encorpado do que o do CD, além de ser bastante durável. Minhas velhas fitas que o digam!

ENQUANTO ISSO, EM PRISCAS ERAS...


Inflação disparou! 6,5% ao ano? 84,3% ao mês, em 1990! Quem era o ministro?

Por Mário Magalhães

O esquecimento não é amigo somente da barbárie: cabra traiçoeiro, é parceiro do engano.

Desde o início do mês o jornalismo se comove com a inflação.

Galopante, descontrolada, abusada e insaciável, a bicha nojenta alcançou a estrondosa marca de 6,51% em agosto.

Não custa esclarecer: 6,51% nos últimos 12 meses. Isto é, taxa acumulada anual.

Para mim, abusada - e abjeta - é a desigualdade no Brasil.

Mas não é disso que quero falar.

E sim do que se poderia chamar de falta de perspectiva histórica. Ou de amnésia seletiva.

Em março de 1990, a inflação oficial alcançou os 84,32%, como registrou a notícia acima, publicada pela “Folha'' na época.

O jornal informava também outro índice, o IGP da FGV: meros 81,3% em 30 dias.

Atenção: inflação mês, e não ano!

A falta de memória não atinge apenas os números da inflação, desastre que as novas gerações desconhecem, embora conheçam bem o obsceno abismo social brasileiro.

Hoje, pontifica sobre a economia o consultor Maílson da Nóbrega.

As coisas vão muito mal, Maílson tem alardeado, com pompa de sábio.

Mal, um horror, com a inflação ultrapassando um pouquinho o tal teto da meta-fetiche 6,50%.

O que pouca gente sabe ou lembra, assistindo ao crítico impiedoso deitar regra sobre isso e aquilo, é o nome do artífice da hiperinflação de março de 1990.

Noutras palavras, quem era o ministro da Fazenda do governo José Sarney, presidente que então se despedia do Planalto.

Pois era ele mesmo: o economista Maílson da Nóbrega.

Maílson tem menos autoridade que o Lazaroni, técnico do Brasil na Copa de 90, ou o Maradona, da Argentina em 2010, para ensinar como se monta uma seleção de responsa.

Mas não está nem aí. Vai ver que a especialidade dele hoje é controle da inflação.

Para fechar estas pílulas pró-memória, leio no “Almanaque Folha'' que a inflação anual em 1989 bateu em 1.782,90%.

Foi Maílson que fez. (Fonte: aqui).

HAICAI DO NOVO


QUAL FADA MADRINHA
A CANDIDATA PROMETE
UMA POLÍTICA NOVINHA

SHOW PRESS


Cemalettin Guzeloglu. (Turquia).

CONQUISTAS SOCIAIS NA ALÇA DE MIRA


A sombra sinistra do passado

Por Maurício Dias

Há quem ache um exagero, para assustar eleitores, os discursos de campanha de Dilma Rousseff. Ela fala e se mostra convencida de que, em caso de vitória, a oposição representada pelas candidaturas de Marina Silva (PSB) e Aécio Neves (PSDB) cumpriria uma “lista de maldades”. Uma citação que traz à memória a “Caixa de Pandora”, onde, diz a lenda, estão guardados todos os males.

Esse programa oposicionista centrado nessa “lista de maldades”, batizada assim pelo economista Armínio Fraga, é capaz de arruinar muitas das conquistas sociais criadas nos 12 anos de governos petistas. E não é novidade esse propósito.

Os economistas tucanos, e os tucanos travestidos de marineiros, pensam da mesma forma e cultivam o mesmo sonho. Propõem resolver problemas econômicos saindo pela velha e costumeira porta sempre aberta para sacrifício da população mais pobre: salário menor, desemprego maior, menos consumo etc.

Um sonho para eles. Um pesadelo para a multidão de cidadãos pobres abrigados sob programas sociais. Milhões deles arrancados da miséria recentemente e tirados da marginalidade social.

Mais que isso. Há planos para eliminar direitos trabalhistas conquistados na “Era Vargas”, que soma o período ditatorial (1937-1945) e o período Constitucional (1951-1954).

À eliminação de direitos trabalhistas Dilma disse “não”. E introduziu no debate antigo ditado popular: “Nem que a vaca tussa”.

As artimanhas dos adversários da presidenta, denunciadas por ela, poderiam ser rebatidas pelos opositores como fruto de invenção eleitoreira. Essa resposta poderia criar dúvidas até a semana passada. Mais precisamente, antes da palestra do economista Armínio Fraga, feita em São Paulo, para cerca de 600 empresários.

Fraga, ex-presidente do Banco Central no governo FHC, seria o czar da economia com a vitória de Aécio. Com a vitória de Marina talvez não tivesse o cargo. Teria poder, sem dúvida.

Perguntado acerca de medidas que tomaria para reduzir gastos do governo, ele desviou-se. Mas deixou as mangas de fora ao afirmar que seria “tolo” se falasse sobre uma “lista de maldades” em um ambiente eleitoral.

No mesmo dia, quase simultaneamente, o secretário de Política Econômica do governo, Márcio Holland, debatia na Fundação Getúlio Vargas, no Rio, com Samuel Pessoa, da equipe de Aécio, e com Marco Bonomo, do time de Marina. O confronto, de dois contra um, transcorreu em forma de guerra verbal.

Holland reagiu de forma dura às críticas feitas ao governo. Sugeriu que Bonomo e Pessoa se atualizassem com teorias econômicas mais recentes.

Em certo ponto sugeriu a Pessoa: “Acho que você devia atualizar a leitura pós-crise, ler bons livros”. Citou de passagem Joseph Stiglitz, Nobel de Economia em 2001, e Janet Yellen, presidente do FED, o banco central dos EUA.

Pessoa contra-atacou o argumento considerado por ele como “difícil de aceitar”. O Brasil parou de crescer, ele afirmou, em razão da desaceleração da economia mundial. Após isso fez o diagnóstico que, certamente, Armínio Fraga assinaria: “O ritmo mais fraco da economia brasileira está ligado aos custos dos programas sociais”. Esse é somente mais um dos itens da “lista de maldades” guardada no bolso de Armínio Fraga. (Fonte: aqui).

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A propósito das conquistas sociais do povo brasileiro, leia aqui abordagem acerca de declaração oferecida pela candidata Marina Silva.

sábado, 27 de setembro de 2014

OLD CARTUM


Fortuna. (Década de 1970).

ELEIÇÕES 2014: PESCARIA EM ÁGUAS TURVAS


Marina tem sido boa isca para pesca de neoliberais

Por José Carlos de Assis

Pescar com anzol é muito simples: ponha a isca de maneira correta e o peixe logo se deixará fisgar. A grande contribuição que Marina Silva está dando ao processo político brasileiro é o de uma isca desenhada para pescar neoliberais. Diante da tragédia econômica e social em curso na Europa, nossos neoliberais – filiados à doutrina do Estado mínimo, da autorregulação dos mercados, da privatização a qualquer custo, do banco central independente – estavam escondidos no fundo do poço, chocados também eles com o desastre do neoliberalismo europeu. Com a subida de Marina nas pesquisas, tomaram confiança e ressuscitaram.

Agora que baixou o espírito do bom senso na maior parte da população brasileira, e recuperamos certa tranquilidade em termos de perspectivas, vemos que o bom trabalho de Marina, como isca, funcionou: temos hoje exposto com toda a clareza de detalhes o programa que a classe dominante tem para o Brasil. Nunca na história deste país a direita foi tão explícita. A perspectiva de chegada ao poder subiu na cabeça dos Armínio Fraga, dos André Lara Resende, dos Giambiagi, ao ponto de baixarem a guarda e revelarem propósitos que em geral ficam estrategicamente escondidos na campanha para serem executados na prática.

Em sua posição de isca inconsciente para fazer aflorarem os neoliberais, Marina, tendo diante de si tantos problemas concretos da realidade brasileira, escolheu como eixo de sua campanha justamente um tema tão abstrato e controverso como o do banco central independente. Nisso há um misto de desconhecimento do assunto e de ingenuidade, somado a uma boa dose de confiança na vitória: a vitória justifica tudo. Mas ao abrir a discussão, Marina forçou que seus acólitos viessem a público para defenderem a tese com argumentos técnicos, o que expôs à luz do dia o propósito de tirar do Governo eleito a responsabilidade por moeda e juros e entregá-la aos banqueiros.

Mais reveladora ainda é a história do tripé macroeconômico: metas de inflação, superávit primário e câmbio flutuante. Marina trouxe ao debate esse lado altamente controverso da política econômica dos governos do PT, não para criticá-lo, porém, mas para exaltá-lo e incluí-lo em seu programa. E para esticá-lo ao limite. Por exemplo, sua política de câmbio absolutamente livre, defendido por seus assessores, acabaria por destruir de vez o sistema industrial interno, algo que passou a ser defendido explicictamente por assessores econômicos não só dela, mas também de Aécio como mecanismo para fortalecer a competitividade externa da indústria – ou seja, de uma indústria que vier a sobreviver a uma concorrência predatória dos países desenvolvidos.

Também em relação ao superávit primário a indiscrição de Marina fez com que seus assessores defendessem publicamente uma meta mais ambiciosa para ele, o que corresponde a um aperto adicional numa economia já em virtual estagnação. Aqui, mais uma vez, a doutrina explicitada é péssima economia: até os jornalistas da Globo, nos últimos debates, entenderam que uma economia estagnada não pode ser submetida a um receituário adicional de aperto. E basta ver a relação dívida/PIB para se concluir que temos folga macroeconômica suficiente não só para reduzir o superávit primário, mas até para convertê-lo em déficit.

Entretanto, é em relação à política externa que os peixes grandes do retrocesso acabaram fisgados na isca lançada por Marina. Num artigo anunciatório, "Nova política externa", o presidente do Conselho de Comércio Exterior da Fiesp, Rubens Barbosa, ao lado de platitudes, vai direto ao que interessa: o Brasil no governo Marina deve ultimar o acordo do livre comércio com a União Europeia, mesmo que isso signifique romper com o Mercosul. Esse mantra é típico dos neoliberais, que há muito esperam o momento exato para dar o bote final na entrega de nossa manufatura no altar do livre-cambismo. Não é estranho que isso venha de um ex-embaixador, não de um verdadeiro industrial, que pode calcular exatamente o que significa concorrer em mercado livre com a Europa em virtual deflação.

(J. Carlos de Assis - Economista, doutor pela Coppe/UFRJ, professor de Economia Internacional da Paraíba). (Fonte: aqui).

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Os neoliberais, submissos até a medula aos caprichos do Livre Mercado, levaram o mundo à crise financeira de 2008/9, pior desastre desde a Grande Depressão de 1929. Quem pagou o pato? Simples: os Estados, que gastaram os tubos para cobrir os rombos dos bancos e financeiras ("Grandes demais para quebrar; é o risco sistêmico", diziam economistas e políticos). Em consequência, os países tiveram de passar a conviver com a Austeridade, ou seja, arrocho total, corte de salários, benefícios e subsídios, aumento de impostos, corte de investimentos etc. Tal situação se arrasta, levando desespero a famílias desamparadas e todas as sequelas daí decorrentes. O Brasil escapou, uma vez que agiu contra a corrente: em vez de recessão, optou pela expansão de crédito, investimentos e programas sociais, mediante a ação dos bancos estatais (já que a banca privada desde o início se havia retraído).

Eis que agora os áulicos do neoliberalismo, a exemplo de Giannetti e Rands, cantam de galo e tentam voltar à carga, merecendo justas críticas da equipe de Dilma Rousseff, e dela própria. Ao que a revista Veja, sábia e iluminada como sempre, ironizou: coitados, estão utilizando termos arcaicos, como neoliberal! Como diria a Luciana: Arcaico uma ova!  

DA SÉRIE PRIORIDADES MUNDIAIS


Thiago.

COMBATE À CORRUPÇÃO: DECISÕES COLEGIADAS


O desafio de enfrentar a corrupção

Por Luis Nassif

Um dos grandes desafios do próximo governo será reduzir a sensação de corrupção que permeia a opinião pública.

Muito já se avançou. O fortalecimento da CGU (Controladoria Geral da União), os critérios de escolha do Procurador Geral da República, a absoluta anomia do Ministério da Justiça em relação à Polícia Federal, o papel do TCU (Tribunal de Contas da União), até extrapolando de suas funções institucionais, a Lei da Transparência são provas incontestes da preocupação do governo Dilma Rousseff com o tema corrupção.

A própria sofreguidão com que Dilma reagiu às primeiras denúncias contra seu governo - demitindo liminarmente os acusados antes mesmo de comprovar sua culpa - é demonstração de sua preocupação com o tema.

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Há uma evidente exploração do tema pelos grupos de mídia.

Além disso, o foco exclusivo no governo federal acabou criando uma barreira protetora para outros estados.

No governo de São Paulo, por exemplo, há um amplo aparelhamento da máquina e os negócios cinzentos, devido ao enorme período de domínio da máquina por um só partido, e à leniência dos principais órgãos fiscalizadores - especialmente os grupos de mídia.

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Mesmo assim, não se minimize o que acontece na área federal.

Sobre dirigentes da Petrobras que serviram a FHC - especialmente o polêmico Joel Rennó - sempre pairaram suspeitas, jamais comprovadas pelo controle exercido pelo governo sobre o Procurador Geral da República e a Polícia Federal. O polêmico Ricardo Sérgio, quando na diretoria do Banco do Brasil, era homem de confiança de José Serra.

Significa que a prática do aparelhamento é universal. Mas em nada exime o  governo do PT das barbaridades cometidas por Paulo Roberto da Costa, enquanto diretor da Petrobras.

A alegação de que também serviu ao governo FHC em nada melhora o quadro. Um dos principais elos da cadeia de corrupção pública são funcionários de carreira, conhecedores dos meandros do negócio e dispostos a servir a qualquer senhor.

***
Uma das grandes distorções das práticas atuais é justamente o aparelhamento de diretorias de estatais, não apenas por políticos de fora dos quadros da empresa, como por funcionários de carreira apadrinhados por partidos políticos.

A melhor maneira de coibir esses abusos está na consolidação de práticas de governança corporativa.
Por também ser uma empresa de capital aberto, o Banco do Brasil consolidou essas práticas de governança. Por elas, nenhum diretor tem alçada para tomar decisões individuais. Todas as decisões são colegiadas e passam também pelos órgãos técnicos do banco.

Há diretores políticos - como o ex-senador paranaense Osmar Dias - que se integram perfeitamente às normas do banco, enriquecendo com seu conhecimento. E outros que tendo apenas interesses políticos entram e saem do banco sem nada oferecer, mas também sem nada levar.

***
Um trabalho aprofundado de controle exigiria, primeiro, o mapeamento de todas as operações sensíveis subordinadas a cada diretoria da estatal, de Ministério ou de agência reguladora. Depois, a definição das regras de governança para eliminar as decisões individuais e submeter as decisões mais polêmicas a normas técnicas da instituição. (Fonte: aqui).

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

ELEIÇÕES 2014: DILMA E A MÍDIA


Blogueiros a Dilma: por que a senhora apanha calada da grande mídia?

Por Cíntia Alves

Profissionais da chamada blogosfera progressista foram recebidos pela presidente Dilma Rousseff (PT) na tarde desta sexta-feira (26), no Palácio do Planalto, para uma entrevista coletiva que foi transmitida ao vivo na internet. Em meio a perguntas sobre saúde, segurança, economia, infraestrutura e política, Dilma pôde esclarecer projetos encampados ou abandonados (caso do trem bala) durante seu mandato, além de corrigir falas que, segundo ela, foram distorcidas por veículos da grande mídia. Aproveitando o gancho, coube a Eduardo Guimarães, do Blog da Cidadania, perguntar à presidente por que, ciente da situação, ela preferiu apanhar calada da imprensa durante quase quatro anos - esboçando, somente agora, em ano eleitoral, alguma reação.

Para embasar a questão, Guimarães e outros blogueiros citaram a manipulação de informações pelos grandes grupos de comunicação que vão desde a Petrobras até o recente discurso da presidente na ONU, na qual muitos jornais manchetaram que Dilma é a favor de “negociar com terroristas”. A petista não justificou a postura passiva que teve nos últimos anos, mas concordou que construir um contraponto em defesa do próprio governo é algo que precisa ser perseguido mais incisivamente num possível segundo mandato.

“O que nós vemos é que, no Brasil, tem uma forma de fazer oposição que tem que ser denunciada, que é a forma do quanto pior [for o desempenho do atual governo], melhor [para esta oposição]. Tem uma parte da imprensa que faz oposição, mas a oposição [dos partidos políticos] também faz. Essa história da imprensa fazer oposição não é monopólio do Brasil. Acontece em várias partes do mundo. O que é verdade é que a situação agora é mais difícil. Por isso, cheguei à conclusão de que, na minha campanha [à reeleição], a verdade vai vencer a mentira. Eu tenho tentado [fazer esse contraponto à oposição], e agradeço a quem me ajuda. É um debate que terá de ser feito no segundo mandato”, comentou Dilma.

(Para continuar, clique aqui).

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Enquanto Dilma Rousseff discute suas propostas e, em coletiva concedida após o encontro acima, promete, caso reeleita, tornar caixa dois crime eleitoral, além de adotar medidas tendentes à intensificação do combate à corrupção - aqui -, a candidata Marina Silva, inteirada dos números da pesquisa Datafolha há pouco divulgada, saiu-se com essa, entre outras: "A Dilma tem mais de 20 mil pessoas pagas na internet, os mensanets, para me difamar." - aqui. Vai ver, a síndrome da vitimização é assim: embaralha as ideias.

Nota: A notória revista Veja, tentando evitar o pior, para ela, volta à carga, conforme se vê no site Brasil 247:

"Acaba de sair a última tentativa da revista Veja para impedir a reeleição da presidente Dilma Rousseff; capa desta semana, que circula a partir deste sábado, anuncia o que seria o 'núcleo atômico da delação'; de acordo com reportagem, ainda não disponível, a campanha que elegeu Dilma presidente em 2010 teria recorrido aos préstimos de Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras; ontem, Veja foi condenada por 7 a 0 no Tribunal Superior Eleitoral por ter acusado, sem provas, o PT; e agora: será mais uma vez condenada ou terá disparado a bala de prata capaz de mudar o destino do País?". (Aqui).

DIETA ELEITORAL


Thiago.

O CHORO É LIVRE, MAS...


"Chororô pega mal. Candidato que se faz de vítima já sai perdendo. É preciso endurecer sem perder a ternura. Por aí.

Imagina se a Dilma chorasse a cada editorial da Folha. A cada matéria do Jornal Nacional. A cada vez que não deixassem ela falar na entrevista. Ia faltar lenço.

E chorou por quê, a seringueira? Foi alguma baixaria de nível ineditamente sublatrinário?

Baixaria tem sempre. Vejo todo dia, na internet. Baixaria azul, baixaria vermelha, baixaria laranja. Mas até que essa campanha está discutindo política. Foi por causa da discussão política que a Marina chorou.

Ela muda de ideia a toda hora, e não quer que mostrem isso? Mas tem coisa pior. Tem umas ideias que ela não muda.

A culpa não é do PT, se ela se cercou de economistas neoliberais. A culpa não é dos bancários, se as propostas dela para o sistema financeiro são o sonho da Febraban. A culpa não é da CUT, se ela quer liberar geral a terceirização e a precarização do trabalho.

A Marina esqueceu aquele ditado velho: quem fala o que quer, ouve o que não quer. A moça se acha. Ela não quer ser eleita. Quer ser ungida.

Baixaria, mas baixaria mesmo, foi do vice da seringueira. O Beto Albuquerque, como sabemos, é líder ruralista e adora um transgênico. Um homem de bem. Pois ele comparou o PT a Goebbels, ministro da propaganda de Hitler. Goebbels dizia que "uma mentira repetida mil vezes se torna verdade". O Beto só disse o que disse uma vez. Vai precisar de mais 999."



(De Joel Bueno, em seu blog, post intitulado "Marina, o mimimi e a baixaria" - aqui).

JOIA RARA


Lute.

SILÊNCIO: POLÍTICA EXTERNA


Externa, mas nem tanto

Por Jânio de Freitas

Na campanha, ninguém se manifesta sobre política externa, especialmente importante para o Brasil

Por falarem em ONU, é notável como, na campanha para presidente, ninguém se manifesta sobre uma das responsabilidades mais complexas da função, que é a política externa, especialmente importante para o Brasil no mundo conturbado da atualidade.

Lá no começo da campanha, Marina Silva até deu um peteleco no assunto, para indicar que um governo seu recuperaria o dístico, de longa existência, segundo o qual "o Brasil vive de costas para os seus vizinhos". Nas palavras de Marina: "O Mercosul não será prioridade". Como os Estados Unidos gostariam, para restabelecer o rebanho na América do Sul. Aécio Neves nem passou perto do tema.

A rigor, para deixar clara a sua concepção de política externa, nenhum dos dois precisa expô-la. Basta que se observe quem são os seus economistas: todos identificados com o governo dos Estados Unidos, seja qual for, como centro da ciranda mundial das Bolsas e dos juros.

Da mesma maneira, se vê o que é verdade entre a afirmação de Aécio de que extinguiria o "fator previdenciário", criado no governo Fernando Henrique com prejuízo para os aposentados, e o desmentido do próprio declarante à declaração. É evidente que o grupo de criadores do "fator" não o eliminaria, se voltasse ao poder.

Aécio disse e se desdisse menos de 24 horas depois de encantar-se com este achado: "Uma candidata mente e a outra desmente". Para louvá-lo com o mesmo verbo, pode-se dizer que Aécio consegue fazer sozinho o que precisa das duas: mentiu duas vezes, quando anunciou o fim do "fator" e quando desmentiu o anúncio.

O que não expôs sobre política externa, talvez por considerar que a continuidade é óbvia, Dilma reafirmou em três ocasiões nos últimos dois dias: uma entrevista; a recusa à adesão do Brasil a um acordo extravagante sobre desmatamento (só 32, de 123 presidentes reunidos, o assinaram) e, ainda, o discurso na ONU. Os comentários imediatos, aqui, só viram o lado de projeção da candidata, no caso dos aecistas; e a oportunidade de relembrar a ecológica Marina, no caso da própria.

O principal sentido das falas de Dilma foi o de consolidar para o mundo, no solo mais apropriado, a política externa de afirmação da soberania brasileira. E, portanto, de recusa ao sistema de necessário alinhamento aos Estados Unidos. Foi relevante, nesse significado das falas, que suas críticas à diplomacia dos caças americanos se fizesse quando Obama mal acabara de mandá-los bombardear território da Síria. E ainda aguardava as reações mundo afora, insistindo no discurso indulgente de que os Estados Unidos não estavam sozinhos na decisão de atacar os extremistas do movimento Estado Islâmico.

No capítulo das relações brasileiras com o governo Obama, as posições expressas por Dilma soaram como sinal de dificuldades maiores. As meias palavras de meia solidariedade ditas a Dilma por Obama, depois das revelações de Snowden, são coisas passadas e incompletas. E há um problema subjacente e de difícil dissimulação: o desprezo ostensivo de Obama pela bem-sucedida intermediação que, a seu pedido, Lula e o turco Erdogan fizeram com o Irã.

Na ocasião, foi um espanto internacional. Até porque o entendimento aceito pelo Irã era muito maior do que o acordo enfim concretizado com os Estados Unidos. Mas ninguém abordou ainda esse assunto a partir das revelações de Snowden. Se o governo americano violava todas as comunicações da Presidência brasileira, não há por que duvidar de que entre Lula e Erdogan alguém disse algo demais. E os dois, se não disseram, ouviram do iraniano Ahmadinejad e concordaram. (Fonte: aqui).

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Quando da análise da entrada, ou não, da Venezuela no Mercosul, houve forte resistência por parte de setores conservadores nacionais, mas a aceitação aconteceu. Por quê? Porque, além do empenho do Governo brasileiro, houve pressão empresarial: empresas brasileiras vislumbraram os bons negócios que poderiam advir da iniciativa. Outra particularidade: por que os EUA não cortaram definitivamente suas relações com a Venezuela? Simples: eles precisam do petróleo venezuelano (a Venezuela é dona da maior reserva de petróleo do mundo). 

Ou seja: não basta tentar impor caprichos ideológicos, é preciso considerar as carências dos países e as oportunidades negociais oferecidas. Não basta, portanto, os opositores do atual governo serem contra o Mercosul; há fortíssimos e salutares interesses comerciais em jogo, e abrir mão deles é que são elas!

Outra particularidade: os EUA (2º maior parceiro comercial do Brasil) estreitam cada vez mais sua parceria com a União Europeia, enquanto a China amplia sua influência global, inclusive na América Latina. A China é, hoje, a parceira comercial nº 1 do Brasil. Como abrir mão de um mercado de mais de 1,3 bilhão de consumidores, cerca de 20% da população do mundo?

Por que o Brasil tem tanto interesse em construir/modernizar o porto de Mariel, em Cuba? Quais oportunidades negociais surgirão a partir da abertura política cubana? E os novos negócios que advirão da abertura do Canal da Nicarágua - em fase de construção -, maior do que o do Panamá? O que poderá ganhar o Brasil com as exportações de petróleo para a Ásia, aproveitando esse canal? Por que o México e a União Europeia estão agora tentando estreitar parcerias com Cuba? Diplomacia rima profundamente com Economia...

A questão, portanto, não é tão simplória. O que talvez explique a mudez de certos candidatos à Presidência relativamente ao tema.

Nota: Ainda quanto ao porto de Mariel, em Cuba, clique aqui.

ENTREVISTAS: PESOS E MEDIDAS (II)


Enio.

ENTREVISTAS: PESOS E MEDIDAS


O padrão Globo de entrevistas: objetivos

Por Rafa Wacked

As entrevistas da Rede Globo vêm sendo um espetáculo à parte nessas eleições.

Com tom agressivo e perguntas molestas aos candidatos, os jornalistas sempre buscam colocar o entrevistado em xeque.

Essa postura pode ser considerada jornalismo sério. Obviamente os candidatos não são bajulados. Mas existe um “porém” que questiona o comportamento dos entrevistadores globais.

Um político vai a entrevistas desse tipo para falar diretamente aos eleitores.

Um jornalista faz entrevistas para oferecer informação à sua audiência.

Mas, quando o jornalista pretende assumir o protagonismo da entrevista, interrompendo o entrevistado constantemente, os papéis se confundem.

A pergunta precisa do jornalista, que intimida o entrevistado e convence o espectador através da retórica, ganha mais destaque do que a resposta difusa do candidato. Ou seja, nessas entrevistas o jornalista tem um papel mais importante que o entrevistado. O primeiro ataca, o segundo explica como pode.

A única forma de quebrar essa confusão é ter respostas claras e evitar interrupções, como Dilma fez na última entrevista do “Bom Dia Brasil”, também da Rede Globo. Ela não aceitou ser cortada por comentários e se impôs diante da insistência dos entrevistadores.

Mas, inclusive nesse caso, os jornalistas conseguiram protagonismo ao falar sobre as “erratas” dos dados da Presidenta no final do quadro.

Ora, por que um jornal quer tanto protagonismo a ponto de deixar o entrevistado em segundo plano?
Qual é a motivação para esses ataques diretos? Escutar a explicação do candidato? Ajudar o eleitor a formar sua opinião?

Talvez sim. Mas os candidatos pouco explicam e o eleitor praticamente não muda seu entendimento da Política, pois os assuntos tratados no geral não são muito exploráveis.

Então existe algo a mais...

Com a busca pelo protagonismo, os jornalistas aparentemente querem mostrar algo ao espectador, como se quisessem fazer ataques pessoais para conquistar votos.

Mas, votos para quem?

Ora, para si mesmo!

“Votos” de confiança: credibilidade para o veículo de comunicação. O espectador confia no que o jornal diz e, por isso, não questiona o que escuta.

Portanto, a busca central não é nem por audiência.

O que a Rede Globo busca é credibilidade.

E o contexto da Internet ajuda a entender essa decisão da emissora.

Hoje, mais do que nunca, a credibilidade das televisões é constantemente questionada na blogosfera e em meios de comunicação progressistas.

Cada vez mais blogs e jornais denunciam diariamente as coberturas parciais da Grande Imprensa.
Isso é péssimo para a credibilidade de qualquer meio de comunicação que se afirma apartidário – como é o caso dos jornais da Grande Mídia. Mas eles têm mecanismos para confirmar sua neutralidade.

O Padrão Globo de Entrevistas é um deles.

Atacando todos os candidatos, os jornalistas mostram que estão do “lado do povo”, que não tem preferência política. E, com isso, ganha pontos com os espectadores menos esclarecidos.

Essas pessoas não conseguem detectar o partidarismo da Rede Globo em notícias normais.
Quando veem a emissora atacando candidatos sem exceção, supõem que ela não apoia ninguém.
Portanto, essas entrevistas são mais uma forma de robustecer uma imparcialidade artificial. Falsa, porque não existe jornalismo completamente imparcial.

Se a Rede Globo realmente quisesse acrescentar ideias ao debate democrático, como afirma, iria diretamente ao ponto central do debate nesse ano, que é a disputa entre dois projetos de governo: o neoliberal de Marina e Aécio ou o desenvolvimentista da presidenta.

Explicaria de forma simples quais são as diferenças entre os dois e, dessa forma, prestaria um ótimo serviço aos espectadores.

Mas isso não interessa aos Senhores Marinho. Eles têm interesse na falta de conhecimento do povo.

Então preferem simplesmente atacar os candidatos, criando um circo que limita o debate de ideias na televisão.

Para as Organizações Globo, é o formato perfeito de entrevistar. Por isso virou o Padrão Globo de Entrevistas.

Mais uma forma de manter a confiança de uma audiência que cada vez mais duvida das Organizações Globo. (Fonte: aqui).

PROMESSÔMETROS FAZEM PARTE DO JOGO


Nani.

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

MÍDIA: AS AMARGAS, SIM


O coro da insignificância nacional

Por Saul Leblon

Imagine-se que o México, por exemplo, do novo herói de Wall Street Enrique Peña Nieto; ou a Espanha, do imperturbável ‘austericida’ Mariano Rajoy; ou mesmo os EUA, do flácido Barack Obama, reunisse, em uma única semana, essa que passou, as seguintes conquistas no portfólio do seu governo:

1. O país fosse declarado pela FAO/ONU um território livre da fome, praticamente erradicada nos últimos 11 anos;

2. Tivesse a notícia de que a miséria extrema fora igualmente reduzida em 75%, no mesmo período;

3. Constatasse que, após seis anos de uma interminável crise mundial, a renda média mensal das famílias continuasse a crescer, tendo se elevado em 3,4% acima da inflação em 2013 (dado da PNAD já corrigida);

4. E que o rendimento médio dos trabalhadores assalariados, no mesmo período, registrou aumento de 3,8% acima da inflação; e acima do PIB, de 2,5%; - (Nota deste blog: clique aqui);

5. Ainda: que enquanto a renda dos 10% mais ricos cresceu 2,1%, a dos lares mais pobres, incluindo-se os benefícios das políticas sociais, avançou 2,9%, o que contribuiu para um pequeno, mas persistente recuo da desigualdade, em declínio desde 2004;

6. Mais: que o trabalho infantil em 2013 caíra 12,3%; a matrícula na pré-escola atingira 81% das crianças e o trabalho com carteira assinada já englobaria 76% dos assalariados;

7. Não só; a consolidação dos indicadores sociais dos últimos 11 anos, embora não tenha quebrado os alicerces de uma das construções capitalistas mais desiguais do mundo, mexeu em placas tectônicas. A renda média da sociedade aumentou 35% acima da inflação entre 2004 a 2013. Mas a dos 10% mais pobres cresceu o dobro disso (cerca de 73%); e entre os 50% mais pobres, avançou mais de 60%, com repercussões óbvias no padrão da produção e da demanda, no conforto doméstico e nas expectativas em relação ao futuro;

8. A mesma semana generosa incluiria ainda a informação de que as novas reservas de petróleo desse país, responsável por 40% das descobertas mundiais nos últimos cinco anos, já representam 24% da produção nacional;

9. E, por fim, que o investimento em infraestrutura, depois de três décadas de declínio sistemático – repita-se, três décadas de recuos sucessivos – registrou uma inflexão e passou a crescer o equivalente a 2,4% do PIB, em média, de 2011 a 2013.

Qual seria a reação do glorioso jornalismo de economia diante desse leque de vento bom, se a mão que o abanasse fosse a dos titãs dos "mercados"?

Não seríamos poupados de manchetes faiscantes, a alardear a eficácia das boas práticas do ramo.

Mas as boas notícias têm como moldura o Brasil.

Presidido pela ‘intervencionista’ Dilma Rousseff, candidata petista à reeleição e detentora de teimosa liderança nas pesquisas do 1º turno.

Isso muda tudo.

Muda a ponto de um acervo desse calibre ser martelado como evidência de retrocesso social no imaginário brasileiro.

Muda a ponto de Marina valer-se dessa ocultação da realidade para decretar que Dilma entregará um país ‘pior do que o que recebeu’.

O padrão ‘Willian Bonner’, como se vê, faz escola.

A indigência do debate impede não apenas que o Brasil se enxergue como o país menos desigual de toda a sua história, mas, sobretudo, interdita a autoconfiança da sociedade nos seus trunfos para avançar um novo passo nessa direção.

(Para continuar, clique aqui).

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O IBGE noticia hoje que o desemprego alcançou 5% em agosto, menor percentual desde 2002 para o mês. Pouco importa. Logo mais o principal noticioso do Brasil dará, no máximo, um 'en passant', apontando um ou mais defeitos, é óbvio. Poderá dizer, por exemplo, que a conquista não é segura, face às perspectivas negativas, a despeito do notório 'plus' do Natal... Ou que os empregos informais avançaram mais do que os formais!  Talvez convoque o sempre alerta José Pastore para respaldar a desconstrução. Giannetti, não; daria demais na vista. Quem sabe Maílson da Nóbrega poderá fazer o arremate...  
Adicionalmente, as equipes noticiosas se esmeram em pinçar notícias sombrias, relevantes ou não, que possam contrabalançar esse lance de quase pleno emprego. Mas, elas sabem, a tarefa é difícil: se o povão está empregado, está satisfeito, fenômeno verificável, aliás, em qualquer país do mundo.
Talvez fosse mais sensato não dar a notícia, e fim de papo. Mas aí, a exemplo da eventual 'análise' de Giannetti, seria altamente desconfortável...

MUDANÇAS CLIMÁTICAS NA PAUTA


Thiago.

O BRASIL E A REFORMA POLÍTICA


7,4 milhões de votos pela reforma política

Por Piero Locatelli, na CartaCapital

Mais de 7 milhões de brasileiros querem uma constituinte exclusiva para uma reforma política no país. Esta é a constatação do “Plebiscito Constituinte” feito durante a semana da pátria por 477 organizações em todo o país. Mais de 6 milhões foram às urnas instaladas pelas entidades e outros 1,74 milhões votaram pela internet.

O plebiscito contava com uma única pergunta: “Você é a favor de uma constituinte exclusiva e soberana sobre o sistema político?” Entre os que votaram, 97% foram favoráveis à proposta - cerca de 7,4 milhões de pessoas. Outros 2,75% participaram da consulta e se mostraram contrários à reforma política.

Como não tinha um caráter legal, o objetivo da mobilização era demonstrar o desejo popular por mudanças no sistema político e pressionar o poder público a convocar um plebiscito oficial sobre a reforma política. Entre os apoiadores, estavam o PT, o PCdoB, correntes do PSOL, o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), o Movimento do Sem Terra (MST), a Central Única dos Trabalhadores (CUT), pastorais e ONGs.

Candidatos à presidência da República votaram no plebiscito. Entre eles, Marina Silva (PSB), Luciana Genro (PSOL) e o Pastor Everaldo (PSC).

A presidenta Dilma Rousseff declarou apoio às reivindicações, mas não participou da votação alegando que não poderia fazê-lo como chefe de Estado. Dilma lançou a possibilidade de uma Constituinte exclusiva para a reforma política em meio à crise provocada pelas manifestações de junho de 2013. Diante de críticas, inclusive de seus aliados, as ideias foram abandonadas.

Representantes destas organizações disseram que foram bem sucedidas, em balanço feito nesta quarta-feira 24 em São Paulo. “Tenho certeza que foi um grande sucesso, pois dá mais fôlego e vontade para termos uma constituinte oficial. E também não tenho dúvida nenhuma que o nosso plebiscito terá influência na disputa eleitoral,” disse Wagner Freitas, presidente da CUT.

O Brasil já teve outros plebiscitos semelhantes que serviram para pressionar o poder público. O maior deles foi em 2002 contra a Alca, a Área de Livre Comércio das Américas, quando 10,2 milhões de pessoas votaram contra a proposta. O plebiscito contribuiu para que o projeto fosse abandonado.

Próximos passos

A adesão de milhões de pessoas, segundo as entidades, mostra o respaldo necessário para que a constituinte aconteça. Para que ela seja convocado, é necessário um decreto legislativo, que só pode partir do próprio Congresso Nacional e por ele ser aprovado. Legalmente, a presidenta não tem poder para chamar um plebiscito.

A próxima ação das entidades será levar o resultado do plebiscito nos dias 14 e 15 de outubro aos chefes dos três poderes em Brasília. No mesmo dai, deve acontecer um ato de apoio à proposta nas ruas da capital.

As entidades que organizaram o plebiscito concordam em algumas propostas mais específicas, como o fim das doações privadas a candidatos. As organizações dizem que devem continuar uma campanha de mobilização, pois ela também evitaria que a reforma tome uma direção contrária a seus propósitos.

“A nossa expectativa é fazer grandes debates elaborando qual é a natureza de uma reforma política. A reforma, e o resultado dela, será fruto das mobilizações que nós vamos fazer. Se tivemos uma reforma em que não haja participação popular, o resultado vai ser outro,” diz João Paulo Rodrigues, coordenador nacional do MST. (Fonte: aqui).

A ESTRATÉGIA AMERICANA

            'Prezado Estado Islâmico, eu agora tenho uma estratégia'.

(Ao que o crítico imaginário indaga: "E os civis inocentes, como ficam?").

Rick McKee. (EUA).

MARINA E OS BANCOS


"A Marina quer acabar com o direcionamento do crédito. Hoje, 25% dos depósitos à vista nos bancos têm que ir para o crédito rural. E 2% têm que ser aplicados em microcrédito. Sem falar na poupança, onde 65% da grana tem que ir para o crédito imobiliário. A seringueira garante que os banqueiros vão saber usar essa bufunfa de maneira mais sábia, preocupados com o desenvolvimento econômico e comprometidos com a justiça social.

A Marina quer reduzir o papel dos bancos públicos. Hoje, eles respondem por 51% do crédito. A candidata laranja acha que é muito. Mas tem que ver como isso aconteceu. Em 2008, a participação dos  bancos públicos no mercado era de apenas 36%. Aí estourou a crise mundial. A banca privada puxou o freio de mão. Os bancos públicos foram à luta. Orientação de governo. Política anticíclica. O Brasil se safou do pior. A Marina, pelo visto, não gostou."




(De Joel Bueno, em seu blog, post intitulado "Marina e os bancos" - aqui. O tema acima já foi objeto de vários posts neste blog, com o mesmo enfoque. Sem a ação desenvolvida pelos bancos públicos como agentes de fomento, o Brasil, qual Grécia, estaria já há um significativo tempo na rua da amargura. A 'ação desenvolvida' decorreu, efetivamente, de ordem de governo, visto que é ele o controlador, ou seja, quem bate o martelo. Friso a particularidade porque, só para lembrar, no período FHC os bancos estatais estavam a postos, mas não foram acionados; é que não havia o mais remoto interesse governamental no sentido de que eles entrassem em ação, até porque poderiam sair fortalecidos do processo, como hoje acontece. Resultado: em 3 ocasiões o Brasil, quebrado, de pires na mão, teve de recorrer ao Fundo Monetário Internacional, sendo que em uma delas, diante da resistência do FMI em oferecer 'ajuda', tal a precariedade das contas nacionais, impôs-se a intervenção direta do próprio presidente dos EUA, Bill Clinton, para que tal ocoresse).

EBOLA SOB CONTROLE (OU NÃO)


Olle Johansson.

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

FOME FAO: EIS O NOVO MAPA


O Brasil deixou de ser foco da fome, conforme se observa no mapa acima, produzido pela FAO - o órgão das Nações Unidas que cuida de agricultura e alimentação. Dado alarmante: 800 milhões de pessoas passam fome no mundo. No Brasil: 3,5 milhões. No início da década de 1990 eram 22 milhões. O desempenho brasileiro coloca o país entre os dez mais bem sucedidos no combate à fome. Enfim, como diria Machado de Assis, glória que eleva e consola.

ASSÉDIO ELEITORAL À TODA


Duke.

DISCUTINDO O BANCO CENTRAL


Certos temas são maçantes por natureza, uma vez que envolvem abordagem técnica, intrincada. A questão fiscal/monetária é uma delas: metas inflacionárias, dinheiro em circulação, câmbio, compulsórios, balanço de pagamentos etc, haja disposição! Mas é preciso encarar a realidade, condição para que se tente achar resposta para perguntas como: Quem cuida de assuntos tão vitais para o país deve agir conforme seu próprio arbítrio ou, em última instância, submeter sua permanência à vontade do Poder Executivo, eleito pelo povo? E quando um(a) candidato(a) à Presidência defende a independência plena, geral e irrestrita do gestor? Surpreendente, não? Vejamos a exposição a seguir.
 
Banco Central independente ou autônomo?

Por Marco Flávio Resende (Da UFMG)

O tema da independência do Banco Central está no âmago da disputa eleitoral. Há aí confusão.
Primeiramente, deve-se distinguir entre independência e autonomia do Banco Central (BC).

Atualmente, no Brasil, o BC conta com autonomia operacional: seu presidente é indicado pelo presidente da República, podendo ser demitido; e o BC não define metas, como a meta de inflação, mas tem liberdade para definir as políticas e o prazo para alcançar as metas.

No caso da independência do BC, esta é garantida por lei e seu presidente e diretores definem as metas e não podem ser demitidos, salvo em circunstâncias excepcionais. Dilma e Aécio defendem a autonomia do BC e Marina sua independência.

Os argumentos favoráveis à independência do BC são:

i)   a necessidade de blindá-lo da ingerência do Executivo, com seus interesses particulares – o BC seria pressionado a adotar políticas favoráveis ao crescimento econômico, porém, inflacionárias no médio prazo, quando o governo já estaria (re)eleito;

ii)  o BC teria mais credibilidade, o que eleva sua eficiência em coordenar as expectativas dos agentes formadores de preços e reduz a inflação;

iii)  a moeda é exógena – este argumento, mais denso, deixarei para o final.

Os argumentos contrários à independência do BC são:

i)    seus dirigentes não estão acima do bem e do mal e estão sujeitos à cooptação por interesses específicos, como os do sistema financeiro. Blindar o BC aumentaria a facilidade de cooptação dos seus dirigentes que tenderiam, por exemplo, a aumentar a taxa de juros para favorecer interesses dos rentistas à custa do Tesouro Nacional;

ii)   é legítimo o presidente do país e seus colaboradores (ministros etc.) atuarem em conjunto com o BC nas escolhas de políticas, pois foi aquele e não os dirigentes do BC o eleito pelo povo. Mas, e a credibilidade requerida para a coordenação pelo BC das expectativas de inflação? A credibilidade se constrói a partir da coerência entre os objetivos externados pelo BC e as medidas que este adota no dia a dia, mesmo quando discute com o Executivo tais medidas. Um BC independente também pode não ser crível se, devido a sua independência, atuar com viés em direção a interesses de grupos privados;

iii)  de nada adianta um BC independente para o alcance de metas se suas políticas não são coordenadas com aquelas adotadas pelo Executivo. Exemplo: política fiscal expansionista concomitante à política de aumento de juros gera desperdício de recursos do Tesouro e mitiga a eficiência da política econômica;

iv)  se as políticas do BC não derem bons resultados, seus dirigentes não poderão ser substituídos.
Vamos ao argumento mais técnico. Embora não tenha sido explicitado pelos candidatos à Presidência, quer por conveniência, quer por desconhecimento, argumenta-se que a exogenia da oferta de moeda justifica a independência do BC.

Na economia, a moeda é exógena se sua velocidade de circulação é constante. Trocando em miúdos, isto quer dizer que o BC controla sozinho a quantidade de moeda que circula para girar a economia e os negócios.

Nesta visão, os agentes (empresários, trabalhadores etc.) têm “expectativas racionais”: conhecem em termos de probabilidades o futuro da economia e sabem de antemão escolher no leque presente de todas as opções possíveis aquela que se mostrará no futuro ter sido a melhor opção.

Isto leva a um quadro onde no longo prazo (futuro) há uma única trajetória para a economia – aquela que maximiza o bem-estar individual e social. Assim, o BC deve seguir uma regra de política monetária, pois se no longo prazo a trajetória da economia é única, só há uma decisão ótima de política monetária compatível com esta trajetória. Para seguir a regra, nada melhor do que a independência do BC para insulá-lo das pressões do Executivo.

Os que acreditam na moeda endógena não defendem regras para a política monetária. Para o economista inglês J.M. Keynes, a moeda é endógena porque pode ser retida pelos agentes. Quando estes alocam sua riqueza em moeda e ativos financeiros em detrimento de ativos menos líquidos (compra de uma máquina ou fábrica), a velocidade de circulação da moeda torna-se instável, a moeda torna-se endógena e a demanda e o crescimento econômico são inibidos. Esta é a Teoria da Preferência pela Liquidez de Keynes que confere endogenia à oferta de moeda.

Por que os indivíduos demandariam ativos mais líquidos em detrimento dos menos líquidos? Por que eles não conhecem o futuro, nem mesmo em termos de probabilidades. Keynes questionou se sabemos qual será a taxa de juros daqui a 1 ano ou o preço do aço em 20 anos.

Se sua resposta é que simplesmente não sabemos, então provavelmente você irá acreditar que os agentes, quando estão inseguros, pessimistas e incertos quanto ao futuro, fogem para a liquidez, pois esta lhes dá flexibilidade para protegerem sua riqueza e/ou acessar as melhores oportunidades de lucro.

Assim, a moeda é endógena, os agentes não têm “expectativas racionais” e não há uma única trajetória futura para a economia. O futuro está aberto e as trajetórias possíveis dependem das ações dos agentes no presente, inclusive das políticas do governo. A política monetária deve ser discricionária: o BC deve atuar em sintonia com o mercado, provendo a liquidez necessária para alcançar suas metas.

Mas, se a política monetária é discricionária, então o BC não deve ser independente? Há aí confusão. O BC não deve sofrer pressão de interesses ilegítimos, seja a moeda endógena, ou exógena. Suas políticas sempre devem se voltar apenas para os interesses da sociedade.

De outro lado, mesmo se a moeda é exógena, não há nenhuma garantia de que a regra de política monetária do BC independente será a que maximiza o bem-estar social, pois o BC pode adotar regra distinta se for cooptado por grupos privados exatamente por ser independente.

A dicotomia entre moeda exógena/BC independente e moeda endógena/BC com autonomia é falsa. O argumento da moeda exógena para justificar a independência do BC não é válido e só cria confusão.

Embora o BC não deva sofrer pressões ilegítimas, dar-lhe independência não é a solução. Seria como dar independência aos ministros e transformar o presidente da república em Rainha da Inglaterra. (Fonte: aqui).