O futuro da Abril e das grandes empresas de mídia
Por Paulo Nogueira
O futuro da Abril, como o de todas as grandes empresas de mídia, é mais ou menos como o de uma fábrica de carruagem quando surgiram os automóveis.
Não sobrou nenhum fabricante de carruagem.
A Abril, para ficar na imagem, sabe que carro não vai produzir, porque sua competência está toda voltada para as carruagens.
Mas está tentando achar outro espaço para evitar o cemitério.
É o que todos já sabemos, e é o que disseram esta semana ao jornal Valor Giancarlo Civita, primogênito de Roberto Civita, e o executivo Fábio Barbosa, presidente executivo da empresa.
Este espaço se chama educação. Mais que livros, que como as revistas estão sumindo por força da internet, a aposta se concentra em escolas.
Outras grandes empresas de mídia do mundo já disseram o que pensam a respeito do futuro da mídia impressa.
A News Corp, de Murdoch, separou seus negócios em dois. A área de entretenimento, à frente da qual está a Fox, ficou num lado. A de mídia – jornais como os britânicos Times e Sun e o americano Wall St Journal – foi para o outro.
A Time Warner fez o mesmo movimento. Separou as revistas e a área de entretenimento.
Em ambos os casos, o objetivo da separação foi evitar que o colapso de jornais e revistas afete os outros negócios.
A Abril não tem nem a Fox e nem a Warner para se agarrar. Daí a esperança depositada na educação.
Na transição, serão certamente desacelerados, ou simplesmente eliminados, os investimentos em revistas. Em pouco tempo, é difícil imaginar que sobrevivam, na Abril, mais revistas que Veja, Exame, 4 Rodas e Claudia.
Mesmo elas estarão menores e menos influentes a cada dia, pela excelente razão de que ninguém mais dá bola para revistas de papel.
O refúgio na educação, ainda que funcione, marcará uma nova etapa na vida da Abril. Educação está longe de dar o poder de influência que a mídia dá, e a rentabilidade é muito menor.
Os filhos de Roberto Civita provavelmente gostariam de vender a divisão de revistas, da qual só virão más notícias daqui por diante.
Mas aí entra um paradoxo, uma espécie de ajuste de contas da história com gente que mamou no Estado.
Vigora na mídia uma inacreditável reserva de mercado. O Brasil se abriu à competição estrangeira nos últimos vinte anos, mas a mídia – por seu poder de intimidação – continuou protegida.
Estrangeiros podem comprar apenas 30% das ações das empresas. No caso da Abril, isso já foi feito.
Durante muitos anos, a reserva ajudou. Você ficava livre de competidores temíveis de mercados mais avançados.
Mas agora veio a ressaca. A reserva limita severamente as possibilidades de vender uma empresa. Quem, no Brasil, teria dinheiro para comprar uma grande empresa de mídia?
Não será surpresa se as empresas se juntarem, em algum momento, para reverem uma legislação que as favoreceu absurdamente. Se você quer vender e cair fora do negócio, a reserva já não significa nada senão um obstáculo à venda.
Com o mesmo entusiasmo cínico usado para defender a reserva – a Globo chegou a falar no risco de propaganda comunista se uma emissora chinesa se instalasse no Brasil – as companhias de mídia defenderão o oposto.
Vai ser interessante acompanhar os próximos anos na mídia. (Fonte: aqui).
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O futuro pode oferecer fatos mais desagradáveis ainda: é possível que mesmo com a quebra da reserva de mercado não aportem por aqui grupos estrangeiros interessados em bancar alguma grande empresa de mídia. Basta ver o que aconteceu com os americanos revista Time e jornal The Washington Post (este, adquirido por valor irrisório, aquela, amargando longa agonia). Se nos EUA acontece o que aconteceu, imagine-se nos demais países em que as redes sociais igualmente se alastram...
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O futuro pode oferecer fatos mais desagradáveis ainda: é possível que mesmo com a quebra da reserva de mercado não aportem por aqui grupos estrangeiros interessados em bancar alguma grande empresa de mídia. Basta ver o que aconteceu com os americanos revista Time e jornal The Washington Post (este, adquirido por valor irrisório, aquela, amargando longa agonia). Se nos EUA acontece o que aconteceu, imagine-se nos demais países em que as redes sociais igualmente se alastram...
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