Decisão da ONU sobre espionagem expõe maniqueísmo ridículo do debate político no Brasil
Por Bob Fernandes
A ONU, em decisão consensual, mostrou como o maniqueísmo pode se tornar algo ridículo, e não apenas. Pode ser também um redutor da inteligência, do debate público.
No meio do ano foi revelado pelo ex-agente Snowden: agências dos Estados Unidos monitoravam a correspondência e telefones da presidência do Brasil e de empresas como a Petrobras.
Não apenas do Brasil. A NSA & Cia espionam governos do mundo todo, inclusive a ONU. A presidente Dilma reagiu com dureza. Terminou por cancelar uma visita de Estado a Obama em Washington.
Pouco depois, a primeira ministra da Alemanha reagiria. Também Angela Merkel e seu governo eram espionados. As duas chefes de Estado reagiram em conjunto.
Em setembro, em seu discurso na ONU, Dilma registrou o protesto e anunciou reação. No início de novembro, Brasil e Alemanha apresentaram na ONU uma resolução sobre a proteção da privacidade na Era Digital.
O projeto foi aprovado por consenso de 193 países. Horas depois de um juiz federal dos Estados Unidos decidir: escuta telefônica e espionagem eletrônica indiscriminada são inconstitucionais.
O que se viu no Brasil quando das denúncias? Manchetes no início e, depois, o habitual. Muitos dizendo que a reação do Brasil tinha um único objetivo: criar cortina de fumaça diante das condenações do mensalão.
Pensadores de plantão, os de sempre, foram a público e às manchetes. Para dizer que a reação seria um erro estratégico brutal. Seria um erro "brigar" com os EUA por tão pouco.
Não era "briga". E não era, não é tão pouco. Era, é seu direito, meu e de todos nós, o direto de não ser espionado.
No rastro do maniqueísmo mais chinfrim, argumentação também chinfrim.
"Todos já estamos expostos nas redes sociais"… Foi o que disseram os que preferem, sempre, se render antes. É fato: cada vez mais se expandem os canais para a megaexposição.
Mas só se expõe quem aceita se expor. Seja por ignorar ou por inocência. E isso é totalmente diferente de ter seu telefone ou computador eternamente grampeados.
Caro amigo, cara amiga. Na ONU, países do mundo inteiro disseram: "Todos temos o direito à privacidade". Essa é uma resolução importantíssima para o desenho do que será o futuro. E não apenas do Brasil.
Sem ilusões, porém, de que uma decisão como essa impedirá espionagem no atacadão da Era Digital. Não, essa decisão apenas impõe um marco moral, base para ações e reações legais.
Voltando ao maniqueísmo nos debates de há meses, vale recordar Nelson Rodrigues. Dizia ele: "O brasileiro é um narciso às avessas, que cospe na própria imagem".
Do mesmo Nelson Rodrigues, outra frase definidora e definitiva: tem brasileiro que sofre do complexo de vira-lata. Se coloca, sempre, como um ser inferior diante do resto do mundo. (Fonte: aqui).
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A questão não parece ser só de 'vira-latismo'. O fato é que a postura de oposição a qualquer custo por parte da mídia sofisticada não pode dar o braço a torcer em nenhuma circunstância: todo e qualquer mérito do Executivo deve ser ignorado ou distorcido.
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