John Maynard Keynes, por Cássio Loredano.
Keynes, oh!
Por Antonio Delfim Netto
Um amável leitor honrou-me com uma observação sobre o último "suelto" desta
coluna (...). Ele não entende a minha "adoração" por
Keynes e a minha insistência em "tentar desmoralizar" os enormes progressos
feitos na macroeconomia nos últimos 80 anos.
Keynes publicou a sua
"Teoria Geral do Emprego, Juros e Moeda" em 1936. O leitor concorda que, na
época, ela foi "revolucionária". Hoje, na sua opinião, Keynes não passa de mais
um brilhante economista, como muitos outros desde o século 18, como Adam Smith,
David Ricardo, Karl Marx, Leon Walras, cujas contribuições foram "metabolizadas"
no corpo da teoria econômica moderna.
"Keynes foi um grande economista da
segunda metade do século 20. E isso é tudo"!
Trata-se, obviamente, de um
provocador. Sabemos que, desde os anos 70 do século passado, a grande ambição de
economistas menores (alguns até Prêmio Nobel), apoiados numa formalização
matemática enganosa, sem ligação com o mundo econômico vivo, era "desconstruir"
Keynes.
A maior prova disso é que, até 2009, os macroeconomistas do
"mainstream" não incluíam em seus modelos o "crédito" e as "Bolsas de Valores".
Por quê? A resposta é simples: porque estavam míopes de Keynes e de seus
seguidores, como Minsky.
Já em 1936, Keynes introduzira o crédito e a
Bolsa no seu modelo. O capítulo 12 do seu livro é um prodígio de antecipação do
importante papel dessas duas instituições no processo capitalista e destaca a
inerente instabilidade das Bolsas.
O investimento é mais influenciado
pelas expectativas de longo prazo nas Bolsas do que pelas dos próprios
investidores. Seus pensamentos revelam a sua intuição e o domínio da
realidade.
Na Bolsa, diz ele, tentamos descobrir "o que a opinião média
espera que seja a opinião média", o que pode levar a um imprevisível colapso. E
completa: "Quando o desenvolvimento do capital num país transforma-se num
subproduto das atividades do cassino, ele não será bem-feito".
Afirma que
o investimento é mais produto do "espírito animal" do empresário do que do seu
cuidadoso estudo do risco. Aliás, propôs uma tributação sobre as operações
bursáteis.
Como pôde Keynes fazer isso? A resposta é que ele mesmo era um
grande, discreto e, no final, bem-sucedido especulador em ações e
commodities.
Entre 1933 e 1936, ele estava operando furiosamente para si
e para o fundo do King's College, da Universidade Cambridge. Keynes não foi um
teórico, mas um prático!
Ele conhecia a economia em primeira mão. Não fez
"ciência econômica", viveu o sistema econômico! Daí a sua importância que
estamos recuperando 80 anos depois.
................
Foi com investimento público que os EUA saíram da Grande Depressão. Foi Roosevelt quem adotou a estratégia. Foi John Maynard Keynes, economista inglês, quem inspirou Roosevelt.
O que permitiu a Roosevelt partir para a estratégia? Simples: o fato de os EUA, por serem um estado forte, terem a capacidade de mobilizar recursos, mesmo numa situação de terrível recessão.
A inconformidade com o sucesso de Keynes parece residir no fato de que a simples menção de seu nome evoca a figura do Estado Forte (assim, com maiúsculas), e isto é o cúmulo da heresia para os defensores do liberalismo exacerbado.
sexta-feira, 10 de agosto de 2012
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário