quinta-feira, 23 de agosto de 2012

ALGUMAS DE NELSON



O jovem tem todos os defeitos do adulto e mais um: o da inexperiência.


Nós, da imprensa, somos uns criminosos do adjetivo. Com a mais eufórica das irresponsabilidades, chamamos de “ilustre”, de “insigne”, de “formidável”, qualquer borra-botas.


A grande vaia é mil vezes mais forte, mais poderosa, mais nobre do que a grande apoteose. Os admiradores corrompem.


O boteco é ressoante como uma concha marinha. Todas as vozes brasileiras passam por ele.


Em nosso século, o “grande homem” pode ser, ao mesmo tempo, uma boa besta.


O amor não deixa sobreviventes.


Se todos conhecessem a intimidade sexual uns dos outros, ninguém cumprimentaria ninguém.


Invejo a burrice, porque é eterna.


Todo ginecologista devia ser casto. O ginecologista devia andar de batina, sandálias e coroinha na cabeça. Como um São Francisco de Assis, com a luva de borracha e um passarinho em cada ombro.


O cinema não chega a ser uma arte. Daqui a seis mil anos talvez o seja./O cinema francês é como o italiano: um conto do vigário./O cinema brasileiro só dará pé quando desaparecer o Cinema Novo até o último vestígio.

Um vago decote pode comprometer ao infinito. Só o ser amado tem o direito de olhar um simples decote.


Hollywood é o óbvio ululante.

 

Nada mais doce, nada mais terno, do que um ex-inimigo.


Nossos marxistas são marxistas de galinheiro. Aliás, Marx também era marxista de galinheiro.

 

O brasileiro é um Narciso às avessas, que cospe na própria imagem.


O biquíni é uma nudez pior que a nudez./Os magros só deviam amar vestidos, e nunca no claro./Só o rosto é indecente. Do pescoço para baixo, podia-se andar nu.

Nunca o brasileiro foi tão obsceno. Vivemos uma fase ginecológica.


Só os profetas enxergam o óbvio./Todo óbvio é ululante.

A plateia só é respeitosa quando não está entendendo nada.


Viajar também é uma forma de solidão.

Toda unanimidade é burra.


O sujeito que não se considera um gênio não deve se dedicar a fazer arte ou literatura.

(Frase que Nelson gostaria de ver gravada em seu túmulo, sob o tradicional Aqui jaz): "Assassinado por imbecis de ambos os sexos".


Chegou às redações a notícia da minha morte. E os bons colegas trataram de fazer a notícia. Se é verdade o que de mim disseram os necrológios, com a generosa abundância de todos os necrológios, sou de fato um bom sujeito.


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