quarta-feira, 8 de agosto de 2012
OS MELHORES DA SÉTIMA ARTE
Pop cult 89
Por Felipe Hirsch
O British Film Institute anunciou nessa semana, orgulhoso, o resultado da pesquisa do “melhor filme de todos os tempos”, feita com 846 críticos e acadêmicos do mundo todo. É uma pesquisa refeita a cada década, o primeiro ano foi o de 1962 e, desde então, até esta edição, “Cidadão Kane”, de Orson Welles, é claro, foi sempre eleito o melhor filme, com todos os méritos do mundo. Até esta edição. Nela, “Vertigo — Um corpo que cai”, do outro gênio maior, Hitchcock, recebeu mais votos do que a nostalgia de Rosebud no leito de morte de Kane.
Certamente nenhum filme deve ser o melhor de todos os tempos, mas se dois chegaram perto são esses, sim, definitivamente. É claro, você deve estar pensando nos seus, eu pensei em tantos, e alguns dos meus estavam lá entre os 50: “Playtime”, do Jacques Tati, “O espelho” e “Stalker”, do Tarkovsky, “Le mépris”, do Godard, “L’avventura”, de Antonioni, “Persona”, do Bergman, “8 e 1/2”, do Fellini, “La règle du jeu”, do Renoir. Outros não foram incluídos nessa primeira lista. Talvez apareçam entre os mais de dois mil citados pelos especialistas na relação que será divulgada no dia 15 de agosto. “O anjo exterminador” ou “O discreto charme da burguesia”, do Buñuel, “Céu e inferno” ou “O anjo bêbado”, do Kurosawa, “Naked”, do Mike Leigh, “Love streams” ou, azarão, “The killing of a Chinese bookie”, do Cassavetes, “O decálogo”, do Kieslowsky, e, dos já citados, Bergman, Antonioni, Godard e Tati, “Morangos silvestres”, “A noite” e “O eclipse”, “Vivre sa vie” e “Mon oncle”, respectivamente. E quem sabe até, dificilmente, “Still life” ou “O mundo”, de Jia Zhang Ke, um ou dois Woody Allen, um Charlie Kaufman, “No country for old men” e, impossível, “A serious man”, dos Coen Brothers.
Ozu está na lista com sua obra-prima, “Tokyo story”. Amo estranhamente seu último filme, “Uma tarde de outono” (“Samna no aji”). Ozu corta seus diálogos entre enquadramentos semelhantes, o que gera um delicioso pulo na imagem. Também os clássicos papa-listas “Aurora”, de Murnau, “Potemkin”, de Eisenstein, “Pierrot le fou” e “À bout de souffle”, do Godard, “Les quatre cents coups”, do Truffaut, “The godfather”, do Coppola, e “Os sete samurais”, do Kurosawa. Mais surpreendentes na primeira lista dos 50 mas certamente merecedores são: “La jetée”, incrível filme de Chris Marker (que morreu essa semana com 91 anos), “Histoire(s) du cinéma”, outro de Godard (esse bastante surpreendente), “Closeup”, do Kiarostami (eu adoro esse filme), “Jeanne Dielman, 23, Quai du Commerce, 1080 Bruxelles”, da Chantal Akerman, “Taxi driver” (demais), do Scorsese, e “Mulholland Drive”, do David Lynch. “In the mood for love”, de Wong Kar-Wai, é um filme muito muito bonito, mas entre os 50? Clássicos inquestionáveis e inesquecíveis da ótima lista: “Some like it hot” (Billy Wilder!), “Singin' in the rain”, de Stanley Donen e Gene Kelly, “2001: A space odyssey”, do Kubrick, “La passion de Jeanne D'Arc” e “Ordet”, do Dreyer, “L'Atalante”, de Jean Vigo, “Au hasard Balthazar”, do Bresson, “Metropolis”, do Fritz Lang, “Viaggio in Italia”, do Rossellini.
A lista é deliciosa. A vontade é de ver e rever todos esses filmes, como se vivêssemos em outro tempo. Tantos outros se encaixam quando nos lembramos destes citados. “La Jetée” lembra “Sans soleil”. “Ordet” lembra “Vampyr”. Billy Wilder lembra o quanto amo “The apartment”. Chantal Akerman, “News from home” e “Les rendezvous d'Anna”. Fritz Lang, “O Testamento do Dr. Mabuse”. E Bergman, bem, Bergman lembro que vi uma retrospectiva, cópias restauradas pela Absolut estalando de novas, de todos os filmes. Passei um carnaval dentro do cinema, quatro ou cinco por dia, todas as cores, todos os pretos, os brancos, os cinzas, e aqueles atores, tempos, nunca seria o mesmo.
“Hotel Du Nord”, “Céline e Julie”, “Masculino e feminino”, “Marienbad”, Terence Davies, Whit Stilman, Capra, Ray, “Bigger than life”, “Lost in translation”, “Charade”, os irmãos Marx, Tarantino, Ugetsu, “The crowd”, Lars, “Let’s get lost”, “Um ano de treze luas”, Ali, “O homem invisível”, “M”, “O amigo americano”, “Berlim, sinfonia de uma cidade”, “Zero de conduta”, “Todas as mulheres do mundo”, “Le samurai”, “Le ballon rouge”, “Lucretia”, “Top hat”, “Filme de amor”, do Bressane, “Love film”, do Szabo, “West Side story”, Skolimowsky, “Goodbye Dragon Inn”, Hou Hsiao-Hsien, “São Paulo S.A”, “Os pássaros”, Angelopoulos, que morreu, recentemente, estupidamente, atropelado por uma moto durante suas filmagens. Espero todos entre os dois mil. Um por dia, em seis anos, você pode assistir a todos.
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