quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

SOB O DOMÍNIO DOS AGROTÓXICOS


Hortelino troca-letras

Por Rui Daher, no TerraMagazine

Muitos não devem conhecê-lo. Talvez apenas os mais velhos. É um personagem dos desenhos animados da Looney Tunes. Homenzinho careca, nariz em forma de bulbo, sempre com um boné de maquinista de trem, invariavelmente armado com uma espingarda. Na tradução para o português, troca o R pelo L. No inglês, estas duas letras pelo W.
 
Criado nos EUA, primeiro como Egghead, por Tex Avery, em 1937, e pouco mais tarde, como Elmer Fudd, por Chuck Jones, persiste em afastar de sua horta, sem sucesso, o irreverente coelho Pernalonga, invasor ávido por sadias e carnudas cenouras.
 
Passados 75 anos desde sua criação, Hortelino já poderia estar descansando. Bastaria trocar a antiquada espingarda pelos agrotóxicos. Esperto como sempre foi, Pernalonga passaria longe das hortaliças não importa quão apetitosas elas fossem. Saúde em primeiro lugar.
 
Desde 2001, quando iniciou suas aferições através do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA), a ANVISA evoluiu em seus métodos, mas não em gratificantes resultados.
 
Ano após ano, suas amostragens, sobretudo de hortaliças e frutas, continuam indicando pesadas presenças de agrotóxicos de uso não autorizado pelos malefícios que causam à saúde humana.
 
Proibidos há muito tempo na Europa e nos EUA, certos princípios são livremente comercializados por aqui. Seus fabricantes insistem em dizê-los essenciais em países tropicais abençoados por Deus, desrespeito à legislação e parcos aparelhos de controle.
 
Quanto tempo será necessário para deixarmos de encontrar resíduos de substâncias inclusive cancerígenas em pepinos, pimentões, cebolas, cenouras, tomates, alfaces?
 
Não muito, caso os agricultores se abrirem para o uso de tecnologias alternativas como os controladores biológicos, e o Ministério da Agricultura flexibilizar os trâmites para regulamentação desses produtos.
 
A possibilidade de tratamentos fitossanitários sustentáveis já é uma realidade no mercado, apenas relativizada pela falta de recursos financeiros e de divulgação de seus pesquisadores e fabricantes, pelo alto custo de enquadrar-se às exigências dos órgãos governamentais, e o convencionalismo dos agricultores, muitos deles acomodados ao poder de convencimento da indústria de agroquímicos e de seus produtos de efeito imediato, ainda que aceleradores de novas e mais fortes infestações nos ciclos seguintes.
 
Segundo levantamento do IBGE, Produção Agrícola Municipal (PAM-2010), o Brasil tem uma área plantada com tomates de 68.000 hectares. Neles, foram produzidas 4,1 milhões de toneladas, perto de 60 t/ha. Goiás, São Paulo, Minas Gerais e Bahia representam 2/3 da área nacional.
 
Essa é uma cultura comumente atacada por fungos, o principal deles Sclerotinia Sclerotiorum, causador do mofo branco em tomateiros, doença que quando não mata estraga. Hoje, predominantemente combatida com fungicidas químicos.
 
Não precisaria. Fungos antagonistas, de ocorrência natural, são capazes de inibir e destruir aqueles fitopatógenos, seja através de fungicidas biológicos, que têm como ingrediente ativo esporos do fungo Trichoderma spp, ou de sua evolução - micélios mais carga enzimática - que, inclusive, abrevia o tempo da ação de controle.
 
Como um administrador de empresas ficou sabendo disso?
 
Simples: depois de ler matéria na edição de outubro da revista "Campos & Negócios", onde o agrônomo, entomologista e consultor em Fitossanidade Sustentável, Fernando Fonseca, explica isso direitinho.
 
Claro que aproveitei, também, para acionar o YouTube e me deliciar com alguns desenhos animados do Holtelino Tloca-Letlas, ops!

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