quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

IMPLOSÃO DA UNIÃO


Babel

Por Fernando Canzian

"Para o inglês, tudo é permitido, exceto o proibido. Para o alemão, tudo é proibido, exceto o permitido. E, para o italiano, tudo o que é proibido é permitido." Ao comentário do matemático John von Neumann (1903-57) poderíamos acrescentar que, para os franceses, o bom talvez seja o proibido e que, para os gregos, permitido e proibido são só palavras que dependem de muitas coisas.

É curioso como uma região tão pequena no mundo como a Europa concentre tal diversidade de valores e idiomas, agora amarrada na chamada União Europeia e no euro, moeda comum a 17 países. No fundo, esse é o grande drama europeu, a diferença absoluta no modo de ver as coisas entre um alemão e um italiano, um português e um finlandês.

Em tempos de Margaret Thatcher no cinema, agora parece até visionária a posição da ex-primeira-ministra britânica de manter sua ilha fora da moeda comum.

Para Thatcher, a união monetária nada mais seria do que um conglomerado de países dependentes da Alemanha. E é nisso o que a região está se transformando.

Com a ajuda da temerosa França, que lhe tira um pouco a aura de "patrão", é Berlim quem, de fato, está dando as cartas na região, impondo uma disciplina aos demais que está no DNA dos alemães.
Vai funcionar?

Os chamados eurocéticos acham que não, e não apenas porque alemães e italianos não tenham muito em comum. Isso atrapalha, mas o buraco é mais embaixo. Afinal, a região só prosperou com o euro até a crise justamente por conta de seus desequilíbrios.

Os países mais pobres e periféricos se endividaram pesadamente para comprar a produção dos mais ricos. Até que suas dívidas começaram a chamar demais a atenção, colocando alguns diante do abismo de terem de abandonar o euro. O tudo ou nada de agora deixa poucas opções às economias mais encrencadas.

Elas terão de fazer pesados ajustes, privatizações e reduzir benefícios. A queda da atividade em alguns países está só começando. Os cortes anunciados nesses dias por Itália e Espanha, onde o desemprego entre os jovens é de 29% e de 45%, respectivamente, são bem assustadores e capazes de comprometer de modo importante uma geração inteira.

É evidente que esses países exageraram. O boom imobiliário e de gastos supérfluos que se viu até 2007 em Portugal, Espanha, Grécia e Irlanda não teve precedentes. E a crise só tomou a atual proporção porque a garantia de uma moeda forte e comum numa região tão assimétrica ocultou por demasiado tempo os problemas.

O enorme ajuste que vem por aí levará tempo para ser feito e mostrar resultados. Difícil estimar se a região aguenta sem um rompimento entre seus desiguais.

Ilustração: Arend Van Dam.

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