O jornal espanhol “El Mundo” noticiou na terça-feira, 7, que o best seller comunista “O Livro Vermelho”, de Mao Tsé-tung, é assinado pelo falecido líder político chinês, mas foi elaborado, integralmente, por um ghost-writer: Hu Qiaomu (1912-1992), um intelectual comunista, é o verdadeiro autor da obra.
Revelação surpreendente? Nem tanto. Lembrei de um texto de Renzo Mora, que reproduzo a seguir:
Confissões de um fantasma
Sou escritor fantasma.
Já escrevi para um Presidente da República (em exercício, mas, ainda assim…), autoridades diversas, presidentes de grandes empresas, vídeos que foram exibidos para os maiores nomes do PIB brasileiro.
É um trabalho deprimente, mas é remunerado.
Já escrevi para homenagear executivos que estavam se aposentando – e que eu nunca tinha encontrado. É melancólico que as pessoas com as quais ele tinha convivido por anos não tivessem nada para falar em sua despedida? Sim, sem dúvida, mas me garantiu um dinheirinho.
Já escrevi vídeos motivacionais para equipes de vendas – naquilo que talvez sejam os pontos mais baixos de minha, por assim dizer, carreira. Já escrevi a frase “Não, não é importante você acreditar em seus sonhos. É importante que seus sonhos acreditem em você. Que você terá a garra, a coragem de nunca abandoná-los”. Patético? Sim, não preciso de você para me dizer isso. Mas o cliente aprovou.
Nós, os fantasmas, somos, no final, fornecedores de palavras.
Jack Kennedy será sempre lembrado por suas palavras “Não pergunte o que seu país pode fazer por você, e sim o que você pode fazer por seu país”. Ele escreveu isso? Provavelmente não. Deve ter virado para seu fantasma, Ted Sorensen, e dito: “Quero alguma coisa que lembre esses vagabundos que eles também têm que tirar a bunda da cadeira”.
A carta testamento de Vargas?
“Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém.”?
Seu autor foi Maciel Filho, José Soares Maciel Filho, amigo e conselheiro do veterano ditador desde os anos 30 do século XX.
A carta-testamento, encomendada por Vargas, foi escrita entre os dias 8 e 9 de agosto de 1954, na casa de Maciel – na verdade, de sua sogra – na Praia do Russell, no Rio (hoje lá está o antigo prédio da Manchete).
Essa é nossa sina, fantasmas: Ser o Chico Xavier de gente viva…
De quem é a culpa?
De vocês, que não compram nossos livros em volume suficiente para a gente poder abrir mão dessa função.
Nosso destino é ficarmos ocultos.
Mas, quer mesmo saber?
Às vezes é uma puta vantagem.
Ou, como meu próprio fantasma escreveria: “Um considerável handicap”.
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Blog de Renzo Mora AQUI
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