Embora pesquisas recentes tenham aumentado as preocupações sobre a Amazônia emitir mais CO2 e outros gases do efeito estufa na atmosfera do que absorve, as novas descobertas, publicadas na revista Nature, foram apresentadas como "as primeiras" por cientistas e repórteres do clima.
De 2010 a 2018, os pesquisadores do novo estudo - liderado por Luciana Gatti, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais do Brasil - realizaram "medições de perfis verticais" de dióxido de carbono e monóxido algumas milhas acima da copa das árvores em quatro locais na Amazônia.
Os pesquisadores descobriram que “o sudeste da Amazônia, em particular, atua como uma fonte líquida de carbono” e “as emissões totais de carbono são maiores no leste da Amazônia do que no oeste”. O primeiro, eles observaram, está “sujeito a mais desmatamento, aquecimento e estresse de umidade” do que o último nas últimas décadas.
Como noticiou o jornal The New York Times na quarta-feira:
“Em um artigo [que acompanha o resultado obtido por pesquisadores do INPE] na Nature, Scott Denning, professor do departamento de ciências atmosféricas da Colorado State University, escreveu que os ‘perfis atmosféricos [do artigo do INPE] mostram que o futuro incerto está acontecendo agora’.
Em uma resposta por e-mail a perguntas, Dr. Denning elogiou o novo estudo como a primeira medição real em grande escala - de várias altitudes por milhares de quilômetros e setores remotos - do fenômeno, um avanço além da medição tradicional em locais florestais. Os resultados mostram ‘que o aquecimento e o desmatamento no leste da Amazônia reverteram o sumidouro de carbono em escala regional e que a mudança está realmente aparecendo no CO2 atmosférico, escreveu ele.”
Luciana Gatti disse ao jornal The Guardian que “a primeira notícia muito ruim é que a queima de florestas produz cerca de três vezes mais CO2 do que a floresta absorve. A segunda má notícia é que os locais onde o desmatamento é de 30% ou mais apresentam emissões de carbono 10 vezes maiores do que onde o desmatamento é inferior a 20%."
O estudo descobriu que as queimadas produziram 1,5 bilhão de toneladas de CO2 por ano, enquanto o crescimento da floresta remove 0,5 bilhão de toneladas. O volume deixado na atmosfera, 1 bilhão de toneladas, equivale às emissões anuais do Japão. (Carl de Souza/AFP/Getty Images)
De acordo com o jornal - que destacou o papel das emissões de queimadas deliberadas para a produção de carne e soja, bem como as críticas globais que o presidente Jair Bolsonaro tem enfrentado por incentivar o desmatamento crescente:
“Menos árvores significam menos chuva e temperaturas mais altas, tornando a estação seca ainda pior para a floresta remanescente, ela disse: ‘Temos um circuito fechaado muito negativo que torna a floresta mais suscetível a incêndios descontrolados.’
Grande parte da madeira, carne bovina e soja da Amazônia é exportada do Brasil. ‘Precisamos de um acordo global para salvar a Amazônia’, disse Gatti. As nações europeias disseram que bloquearão um acordo comercial da UE com o Brasil e outros países, a menos que Bolsonaro concorde em fazer mais para combater a destruição da Amazônia.”
O estudo vem após uma análise de março, publicada na revista Frontiers in Forests and Global Change, que levou em consideração não apenas o CO2, mas também o metano, óxido nitroso, carbono negro, compostos orgânicos voláteis biogênicos, aerossóis, evapotranspiração e albedo.
As novas descobertas também seguem um estudo de abril, publicado na Nature Climate Change, que enfocou o Brasil, que abriga a maior parte da floresta tropical incrivelmente biodiversa e ameaçada que abrange nove países.
Comparando essa pesquisa com a de quarta-feira, Denning disse que "são estudos complementares com métodos radicalmente diferentes que chegam a conclusões muito semelhantes."
(...)
Os pesquisadores do estudo de abril, que contaram com monitoramento por satélite, descobriram que entre 2010 e 2019, a Amazônia brasileira liberou 16,6 bilhões de toneladas de dióxido de carbono, ao mesmo tempo em que absorveu 13,9 bilhões de toneladas - o que significa que em uma década, liberou quase 20% mais CO2 do que absorveu.
"Nós meio que esperávamos, mas é a primeira vez que temos números mostrando que a Amazônia brasileira mudou e agora é emissora líquida", disse o coautor Jean-Pierre Wigneron, cientista do Instituto Nacional de Agronomia da França Pesquisa (INRA), na época. "Não sabemos em que ponto a mudança pode se tornar irreversível."
A Agence France-Presse informou que em nota sobre o estudo, o INRA afirmou que "o Brasil assistiu uma queda acentuada na aplicação de políticas de proteção ambiental após a mudança de governo em 2019", referindo-se quando Bolsonaro tomou posse como presidente.
"Imagine se pudéssemos proibir incêndios na Amazônia - poderia ser um sumidouro de carbono", disse Gatti na quarta-feira, observando o impacto negativo da conversão de áreas da floresta tropical para a agricultura. "Mas estamos fazendo o oposto - estamos acelerando a mudança climática." - (Fonte: Boletim Carta Maior - Aqui).
(Publicada originalmente em Common Dreams | Tradução por César Locatelli).
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