terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

FLAMEJANTES FORÇAS DA NATUREZA: O 'IDIOTA' NAS FRASES DE NELSON RODRIGUES

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Abramos alas para o genial Nelson Rodrigues (1912-1980), emérito parceiro das palavras, que, redivivo, não teria mãos a medir diante de tantos espetáculos que os dias correntes estão a oferecer!

(Ilustração: Arquivo 
deste Blog)

Por Rodrigo Casarin ('Página Cinco')

"A verdadeira posse é o beijo na boca". "Nada mais pornográfico, no Brasil, do que o ódio ou a admiração". "A pior forma de solidão é a companhia de um paulista". "Há sujeitos que nascem, envelhecem e morrem sem ter jamais ousado um raciocínio próprio". "Sem alma não se chupa nem um chicabon". "Toda a unanimidade é burra". 

Não há dúvidas de que Nelson Rodrigues é um dos maiores frasistas de nossa literatura, tanto que vivemos esbarrando com menções ao escritor, jornalista e dramaturgo por aí. Enquanto a HarperCollins prepara novas edições dos dez romances do Anjo Pornográfico, a começar por "Asfalto Selvagem", a Nova Fronteira acaba de lançar um volume reunindo frases inesquecíveis do autor.

"Só Os Profetas Enxergam o Óbvio" traz centenas de máximas retiradas de coletâneas de crônicas, romances, peças de teatro, capítulos da famosa série "A Vida Como Ela É...", de outros textos de Rodrigues e de entrevistas e depoimentos concedidos pelo escritor. É daqueles livros feitos para leituras rápidas e descomprometidas, que também oferecem um arsenal para quem curte desfilar frases de efeito pelas redes sociais.

Há um porém em trabalhos do tipo. É perigoso associar automaticamente uma frase a determinado escritor somente porque ele é o autor da máxima. Se as palavras saem da boca ou da cabeça de um personagem, por exemplo, não necessariamente o próprio autor endossa aquilo que está no texto. Além disso, frases avulsas retiradas de contexto podem levar a interpretações um tanto problemáticas. Deixo os alertas.


Sim, há muito de futebol e sexo nas páginas de "Só Os Profetas Enxergam o Óbvio", dois temas que andam grudados à imagem de Nelson. Porém, sempre me chamou a atenção o modo como o autor trata os idiotas, as palavras que dispensa a esse tipo cada vez mais popular. Sei que há idiotas e idiotas e que quem é idiota para um pode soar como gênio para outro. Em todo caso, separei algumas bordoadas rodriguianas sobre essas flamejantes forças da natureza:

"Hoje, tudo é possível, tudo. Há idiotas liderando povos, fazendo História e fazendo Lendas".

"Outro dia, passou por mim um automóvel das 'Mil e Uma Noites' , sim, um desses Mercedes irreais, com cascata artificial e filhote de jacaré. Lá dentro ia um idiota flamejante".

"O idiota tem uma fina sensibilidade histórica e um agudo senso profético".

"Para sobreviver, o intelectual, o santo ou herói precisa imitar o idiota".

"Um idiota está sempre acompanhado de outros idiotas".

"O idiota é uma 'força da natureza'. Ele chove, relampeja, venta e troveja".

"Prefiro mil vezes ser pervertida do que idiota". (Mulher de véu - em "Vestido de Noiva").

"Hoje, quando se quer definir o reles, o idiota, o alienado, diz-se: - 'Isso é literatura!'".  -  (Fonte: Folha - UOL - Aqui).

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