O articulista não precisou apontar o motivo por que os comentaristas econômicos são tão "homogeneizados" no que respeita à postura crítica, queremos dizer, à falta de postura crítica: a postura imposta pelas próprias empresas contratantes. Faz lembrar o velho chavão cunhado no governo do general João Figueiredo, de priscas eras, em que o argumento para a omissão opinativa era um só: 'Eu preciso sobreviver, entende?'. Mas é bom deixar claro que muitas vezes a opinião do comentarista coincide com a do patrão, e mais claro ainda que a própria empresa de comunicação pode ter deixado de ser unicamente de comunicação para ser, também, empresa rentista.
Por André Araújo (No GGN)
No apagão geral do debate econômico brasileiro – que já teve vozes do nível de Roberto Simonsen, Eugenio Gudin, Roberto Campos, Celso Furtado, Delfim Neto -, o que temos hoje? A aplastante mediocridade homogeneizada dos “economistas de mercado”, cujo contraponto são pouquíssimos nomes como Laura Carvalho, Monica de Bolle, Antonio Correia de Lacerda e André Lara Resende, todos com raros espaços na mídia.
A MÍDIA DOS ”EXPLICADORES” SEM OPINIÃO
A mídia “mainstream”, especialmente o Sistema GLOBO, ESTADÃO, o Grupo BAND, a Rádio Berlin Jovem Pan e, em um patamar mais equilibrado, a FOLHA, têm como padrão o chamado “COMENTARISTA EXPLICADOR”, aquele que explica o que é o fato econômico, MAS NÃO OPINA E MUITO MENOS CRITICA.
A GLOBONEWS, especialmente, tem um quadro sólido de explicadores com ícones como Carlos Sardenberg, João Borges, Gerson Camarotti, Cristiana Lobo, jamais se terá deles uma opinião crítica, são da linha “não me comprometa” em política e economia. O camisa 10 do time é Valdo Cruz, que elevou a arte do NÃO COMPROMETISMO ao mais alto nível: nem sob tortura se conseguirá dele uma crítica à linha oficial política ou econômica, manda quem pode.
Alinhado à absoluta neutralidade de opinião há outro lado, a completa ignorância em matéria econômica, não conhecem história econômica, história do pensamento econômico ou as novas linhas de discussão econômica nos países centrais, que colocam o debate brasileiro no lixo do estudo da economia.
O DEBATE ECONÔMICO NOS ESTADOS UNIDOS
O ambiente do pensamento econômico nos EUA é COMPLETAMENTE diferente do que ocorre no Brasil. A discussão de ideias é ampla, profunda e diversa. Não há, de forma alguma, um pensamento único como ocorre no Brasil. A chamada “escola de Chicago”, essa mesma que aparelha o comando econômico aqui, está completamente desmoralizada após a crise financeira de 2008, atribuída às suas ideias de extrema desregulamentação do sistema financeiro.
A crise foi resolvida rapidamente pela intervenção do Estado com US$708 bilhões de dinheiro do Tesouro a 200 bancos e grandes empresas.
Desde então as “salt water schools”, as escolas de economia da Costa Leste, especialmente Harvard, MIT, Yale, Princeton e Columbia e, à coté, a contestadora New School de Nova York, consideram Chicago algo como um fóssil. Aliás, a Universidade de Chicago não carrega mais o legado de Milton Friedman: transladado para a Carnegie Mellon University de Pittsburgh, pelo discípulo de Friedman, Alan Meltzler, já falecido, a escola é hoje estudada como história.
Três Prêmios Nobel, Krugman, Stiglitz e Seh, têm como seu centro de debates o INSTITUTE FOR THE NEW ECONOMC THINKING, de Nova York, onde o “mainstream economics” é frontalmente discutido com abertura de novas janelas como o “quantitative easing”, sinônimo de expansão monetária para aquecer a economia, algo diametralmente oposto à doutrina e prática do Banco Central do Brasil, que está 50 anos defasado em teoria econômica.
O “quantitative easing” foi e está sendo largamente praticado pelo FED, pelo Banco Central Europeu e pelo Banco do Japão, os bancos centrais comprando centenas de bilhões de dólares, euros e yens em debêntures e ações de empresas privadas. O Banco do Japão tem ações em 400 empresas, tudo para jogar dinheiro na economia e impedir o desemprego acima de 5%, algo absolutamente contrário à escola monetarista de Chicago, já morta e enterrada, menos no Brasil, onde o “quantitative easing” é palavrão e um modelo operacional jamais sonhado pelos trogloditas do Banco Central.
O PAPEL DELETÉRIO DA MÍDIA ECONÔMICA
Ao navegar a reboque do pensamento rentista dos “mercados”, uma visão de economia do tempo da colonização portuguesa quando o Brasil era plataforma para obter renda e remeter a Portugal, hoje a mesma lumpen burguesia pensa a mesma coisa e sonha morar em Miami com renda do Brasil, visão de País que é a bandeira de um Banco Central a serviço do exterior e não do País. A mídia econômica reforça essa narrativa, não se vê nos programas da Globonews e nas páginas centrais da mídia impressa NENHUM pensador original de economia, a não ser por rara exceção.
Os comentaristas que trafegam por suas páginas e câmeras se encarregam de CONFIRMAR as políticas absurdamente antinacionais do Banco Central, sem falar na nova e ameaçadora onda de privatizações por atacado, cujos recursos obtidos não estão destinados a algum projeto nacional e sim a pagar juros da dívida de quase R$4 trilhões, construída a partir do Plano Real pelos “economistas de mercado” para nada que tenha servido ao País.
Quando se escrever a história da economia brasileira destes tempos, o papel de cúmplice da mídia econômica não pode ser esquecido.
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