"(...) DN: Como acha que as divulgações do The Intercept Brasil refletem na imagem do ministro Sergio Moro?
Glenn Greenwald: Acho que a perceção da população sobre o Moro já mudou. Nos seis dias que passaram desde que começámos a divulgar as reportagens, duas pesquisas mostraram, com números relativamente parecidos, que a popularidade e a aprovação dele já caíram dez pontos percentuais, mas, como é óbvio, como ele ficou durante os últimos cinco anos, com a ajuda dos grandes órgãos de comunicação social, a construir a sua imagem nada vai mudar radicalmente numa semana.
DN: Mas ainda vem aí mais material potencialmente danoso para Moro?
Glenn Greenwald: Além de nós termos muito mais material que vamos publicar sobre ele, já estamos vendo os aliados dele na grande comunicação social brasileira a abandoná-lo - como a [revista] Veja, que disse muito claramente que ele violou a lei, ou o Estadão [jornal O Estado de S. Paulo], que disse que ele deveria renunciar. Isso é muito significativo porque são veículos de centro-direita que o apoiaram por muitos anos e que estão a chegar à conclusão que ele fez coisas totalmente erradas. A população mais desligada da política vai demorar um pouco mais tempo a ter a mesma perceção mas acabará por tê-la.
DN: O seu marido [David Miranda, deputado do PSOL, partido de esquerda] afirmou ter recebido ameaças.
Glenn Greenwald: Sim, nós recebemos muitas ameaças. O meu marido já denunciou uma, particularmente feia, ameaçando os nossos filhos, a nossa família, e eu, o tempo todo, estou a sofrer ameaças pelo meu e-mail, assim como o meu marido.
DN: São pressões comparáveis às que recebeu durante o Caso Snowden?
Glenn Greenwald: Sim, as pressões parecem-se muito com o Caso Snowden, quando o governo norte-americano e o do Reino Unido estavam a toda a hora afirmando que nós éramos criminosos, simplesmente porque estávamos informando graças a uma fonte que eles achavam que roubara documentos. Agora, passa-se a mesma coisa com o ministro Moro, a chamar-nos constantemente de aliados de hackers. São muitas ameaças, em suma: ameaças de morte, principalmente anónimas, mas também ameaças do governo, tentando pressionar-nos e espalhando que nós somos criminosos só porque estamos a fazer jornalismo. (...)
DN: Nos Estados Unidos, o seu país de origem, acreditam que um juiz que toma partido num processo desta sensibilidade seria obrigado a demitir-se?
Glenn Greenwald: É impensável noutros países que qualquer juiz apanhado a fazer as coisas que Moro fez consiga manter-se em qualquer cargo público, muito menos um cargo público com tanta importância como o de ministro da justiça, mas obviamente o [presidente Jair] Bolsonaro não se importa nem um pouco com corrupção, ele e a família dele são bem ligados a milicianos, já temos muitas provas sobre isso. E, mais ainda, o Moro é muito importante para a legitimidade do governo Bolsonaro.
DN: Ainda acredita na demissão de Moro?
Glenn Greenwald: Vamos ver o que vai acontecer depois de divulgarmos mais coisas de tudo o que Moro fez, se ele pode sobreviver, mantendo-se num cargo público. A grande comunicação social brasileira, que ficou cinco anos aplaudindo-o, festejando-o, homenageando-o, agora virou, isso mostra que o futuro dele não é muito otimista e que a imagem dele já foi muito manchada com as divulgações já conhecidas."
(De Glenn Greenwald, entrevista ao jornal Diário de Notícias, de Portugal, reproduzida no blog do jornalista Paulo Henrique Amorim - aqui -. Matéria escrita no português de Portugal).
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