segunda-feira, 8 de junho de 2015

RECEITA E DUPLA ZERO DA MÍDIA EXPÕEM BRASIL À SANHA DOS SONEDORES


Como a mídia enterrou o caso SwissLeaks

Por Paulo Nogueira

E então ficamos sabendo que o HSBC fechou um acordo com a Suíça para encerrar o escândalo Swissleaks.

O acordo é o clássico: o HSBC pagou para não ser mais importunado com processos, investigações e coisas desagradáveis do gênero.

O que nós não ficamos sabendo, no Brasil, é o lado brasileiro do caso.

Num dos maiores fracassos do jornalismo nacional, a parceria UOL e Globo para cobrir o assunto deu em nada.

Foi uma soma bizarra. Um mais um, UOL mais Globo, deu zero.

O experiente Fernando Rodrigues, do UOL, fez um papel ridículo, é certo. A lista dos sonegadores brasileiros foi passada a ele por uma obscura associação internacional de jornalistas investigativos da qual ele faz parte.

Poderia ser seu momento de glória, mas acabou sendo seu instante de opróbrio.

Fernando Rodrigues praticou também sonegação. Um outro tipo de sonegação: o de informações.

É verdade que as chamadas ordens de cima devem ter limitado brutalmente sua autonomia para cuidar da história.

Os Frias, donos da Folha e do UOL, estavam na lista.

Se os Frias não cobriram nem a sonegação documentada da Globo, imagine o que eles não fariam com sonegação caseira.

O maior erro de Rodrigues provavelmente foi não manobrar para passar adiante, para mãos menos comprometidas, a tarefa de ser o responsável pela divulgação do escândalo no Brasil.

Vaidade? Ignorância a respeito da sonegação contumaz das corporações jornalísticas brasileiras?

Cada um fique com sua explicação. Acho que a hipótese dois, o desconhecimento, é a mais provável.

A morte do caso deve muito também ao comportamento omisso da Receita Federal e das autoridades econômicas do governo.

Sonegação é um assunto que exige, dos governos, berros. Em inglês, há uma expressão comumente usada: “name and shame”.

Você dá os nomes e constrange os sonegadores.

No Reino Unido, o governo nomeou, há pouco tempo, empresas como Apple, Amazon e Starbucks como donas de práticas indecentes para evadir impostos.

Basicamente, elas fazem o seguinte: ganham dinheiro no Reino Unido mas pagam impostos em paraísos fiscais.

Os britânicos ficaram sabendo quanto faturam as empresas e quanto pagam de impostos. Isso gerou indignação na opinião pública. Houve manifestações em lojas da Starbucks em Londres, por exemplo.

No Brasil, o governo não se manifesta sobre nada, e a Receita menos ainda.

Quando se sabe quanto é vital equilibrar as contas, e os sacrifícios advindos do ajuste fiscal, é um silêncio indefensável.

A omissão faz entender uma colocação recente do antigo funcionário do HSBC que vazou a lista, Hervé Falciani.

Numa entrevista ao Estadão, Falciani disse que os especialistas em evasão – em geral advogados – se deslocaram nos últimos anos da Europa, onde o cerco agora é grande, para países como o Brasil.

Aqui, as coisas são bem mais fáceis para os grandes sonegadores.

Falciani usou a expressão “bancos opacos” para designar os que oferecem aos clientes manobras para evasão fiscal.

“O Brasil é o maior alvo dos bancos que praticam a opacidade financeira no mundo inteiro”, disse ele.

Somos, segundo Falciani, “o país em que há mais facilidade para todas as atividades de finanças opacas”.

Bilhões se perdem assim, e sistematicamente.

Mas ninguém bate panelas contra isso. Quanto à mídia, num universo menos imperfeito ela deveria ajudar a combater a sonegação.

Só que ela também sonega, como ficou claro mesmo nas miseráveis informações prestadas sobre o Swissleaks pela Dupla Zero, UOL e Globo. (Fonte: aqui).

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O fato de o HSBC haver celebrado acordo para livrar-se da punição em face dos ilícitos não dispensaria os sonegadores de responderem por suas práticas delituosas, mas isso, claro, iria depender do empenho da Receita Federal. Porém, a preocupação do diretor do órgão, ao oferecer as primeiras informações ao público sobre o assunto, foi a de dizer, de antemão, que a grande maioria dos casos detectados ficaria por isso mesmo. (Faz lembrar o que exibia faixa em das recentes manifestações de eleitores derrotados e inconformados: "Sonegação não é corrupção")

Quanto à CPI do HSBC, desprezada solenemente pela mídia, é como se não tivesse sido instalada. Ao contrário, por exemplo, da CPI da Petrobras, que, por motivos óbvios (mais do que óbvios), é alardeada diuturnamente, até mediante matérias requentadas.

AINDA SOBRE O HSBC, UM REGISTRO FINAL:

"Departamento de Justiça dos EUA: Falhas de segurança no HSBC são tão graves que nem podem ser reveladas

O Departamento de Justiça dos Estados Unidos informou na sexta-feira, 5 de junho, que as falhas de segurança para se prevenir atividades criminosas e lavagem de dinheiro são tão grandes que nem podem ser reveladas sob o risco de que outros crimes tão sérios ocorram. (Links abaixo)

As muitas falhas dos processos do HSBC estão num relatório de 16 páginas enviado pelo Departamento de Justiça a um Tribunal Federal dos Estados Unidos, buscando manter em sigilo um relatório sobre o banco com 1.000 páginas

O HSBC dos Estados Unidos já foi multado em USD$30.9 milhões pelas autoridades suíças, na maior penalidade já imposta naquele país por deficiências operacionais” que possibilitam a lavagem de dinheiro, sonegação fiscal e outros crimes por seus clientes.

Em 2012, o HSBC foi multado pelas autoridades dos EUA em US$1,9 bilhões por ter auxiliado esquemas de lavagem de dinheiro, apesar de diversas advertências anteriores.

Apesar do HSBC estar sujeito a auditorias regulares internas e externas conforme acordos de suspensão de processos nos EUA, nos termos de acordos judiciais para evitar penalidades maiores, verificou-se esta semana que essas medidas não têm eficácia no HSBC. Alguns comentaristas dizem que há no HSBC, em escala mundial,  a cultura do erro e da conivência. (...)."

(Para continuar, clique aqui).

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