Tratado sobre a inveja
Por Thomaz Wood Jr.
"Quando um dos meus amigos tem sucesso, algo em mim se apaga", admitiu certa vez o escritor Gore Vidal. No século XVII, esse tormentoso sentimento - a inveja - atingiu a cabeça coroada de Luís XIV e levou à desgraça seu exuberante ministro das finanças, Nicolas Fouquet. No verão de 1661, Fouquet, um amante da beleza e do prazer, promoveu uma deslumbrante festa em seu castelo de Vaux-le-Vocomte. A suntuosidade do evento, com fogos de artifício, espetáculos de teatro e divertimentos, despertou a inveja do rei e sua corte. Sob acusações diversas, Fouquet foi preso e condenado à prisão perpétua. Passou o resto de seus dias em uma pequena fortaleza nos Alpes Franceses.
Essa história, contada por Manfred F. R. Kets de Vries em um capítulo do livro "O Indivíduo na Organização: Dimensões Esquecidas", mostra a inveja como um poderoso fator de motivação humana. As empresas da virada do milênio talvez não sejam tão diferentes da corte francesa do século XVII. O argumento do autor é pertinente: apesar de permear as relações nas empresas modernas, a inveja permanece pouco estudada e entendida.
História Antiga
A inveja é um dos sete pecados capitais. Foi a causa do primeiro assassinato da Bíblia quando o Senhor dedicou suas atenções a Abel, desprezando os esforços de Caim. Essa tragédia se repetiu como farsa recentemente, no rocambolesco caso Collor versus Collor. Na Bíblia ou em Alagoas, a inveja surge entre os que se sentem inferiorizados ou excluídos.
A inveja é incapaz de ingenuidade, de probidade e de honestidade. Falta-lhe retidão de caráter. Ela mobiliza todas as forças a seu alcance, manipula pessoas e distorce fatos para destruir o que não é capaz de alcançar. Sofre ao ver nos outros o que deseja ardentemente para si. Desejar é o seu verbo. A inveja é toda compulsão. Nunca está sozinha. Seus companheiros inseparáveis são o complexo de inferioridade, a vergonha, a frustração e a amargura.
Freud Explica
Qual a origem da inveja? Kets de Vries assegura que já existem no recém-nascido, que experimenta uma mistura de sensações de paz e satisfação com sentimentos de aflição. Freud explicava o sentimento de inveja a partir da concepção do ser humano como ser estruturalmente incompleto, iludido com a possibilidade de plenitude.
Se a inveja é de fato inevitável, ela não precisa ser necessariamente uma tortura para quem a experimenta. Reconhecer a inveja é reconhecer a inferioridade, porém pode também ser o primeiro passo para amadurecer e superar essa inferioridade.
Inveja Empresarial
Quem nunca sentiu aquele sabor amargo que um (ex-) colega foi promovido? Perdoamos tudo, menos o sucesso. Como um pântano pestilento, as empresas provêem um ecossistema favorável para o aparecimento da inveja. Como a umidade e o mofo, as estruturas hierárquicas, o personalismo, o culto ao poder e a ideologia do sucesso fornecem as condições necessárias para o surgimento e a propagação da inveja.
A inveja não grassa apenas nas empresas: universidades, sindicatos e grupos de psicanalistas também não lhe escapam. Mais sofisticado o meio, mais sofisticada ela aparece. Muda a forma, mas o conteúdo permanece o mesmo.
A circularidade é a sua marca: o trainee inveja o gerente que inveja o presidente que, muitas vezes, gostaria de ser apenas um jovem trainee.
Inveja Construtiva
Mas nem todas as maneiras de lidar com a inveja são negativas. Abordagens construtivas também são possíveis. Usar o objeto de inveja como fonte de inspiração para o auto desenvolvimento é uma forma positiva de lidar com a inveja. O primeiro passo é reconhecer o sentimento e eliminar as atitudes negativas: admitir que algumas realidades da vida são imutáveis e parar de desejar o que não se pode ter. Rompê-la pode ser um processo duro. Pode também ser o começo de um processo de amadurecimento e levar à superação de barreiras e limites.
Carências Tupiniquins
O brasileiro não precisa ter complexo de inferioridade quanto à inveja: somos tão invejosos quanto qualquer outro povo. Porém, se o sentimento é o mesmo, o jeito que ele aqui se manifesta adquire tons próprios. Mais estruturada e hierarquizada a sociedade, maiores as condições para a inveja destrutiva. Herdeira direta do "modelo casa-grande e senzala" de colonização, a inveja tupiniquim é alimentada pelas nossas carências econômicas, sociais e culturais.
No Brasil, a inveja é quase sempre negativa. Em Terra Brasilis o invejoso deve remoer sua dor nas mansardas e tugúrios suburbanos.
Gerenciando a Inveja
Fora os casos patológicos de inveja perversa, existem estratégias possíveis que podem gerar mudanças e reduzir o nível de inveja. Para agir com sucesso na organização, é preciso compreender sua dinâmica e fazer uma leitura cuidadosa da cultura organizacional. É necessário entender os valores e as crenças mais arraigados na empresa, que definem sua identidade e sua forma de agir. A inveja é a homenagem que a inferioridade tributa ao mérito, superá-la é celebrar a possibilidade de vencer essa inferioridade e pavimentar o caminho da virtude. (Fonte: aqui).
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A propósito, a inveja é o tema do 7º Salão Internacional Medplan de Humor do Piauí.
Fora os casos patológicos de inveja perversa, existem estratégias possíveis que podem gerar mudanças e reduzir o nível de inveja. Para agir com sucesso na organização, é preciso compreender sua dinâmica e fazer uma leitura cuidadosa da cultura organizacional. É necessário entender os valores e as crenças mais arraigados na empresa, que definem sua identidade e sua forma de agir. A inveja é a homenagem que a inferioridade tributa ao mérito, superá-la é celebrar a possibilidade de vencer essa inferioridade e pavimentar o caminho da virtude. (Fonte: aqui).
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A propósito, a inveja é o tema do 7º Salão Internacional Medplan de Humor do Piauí.
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