Convenhamos. O cidadão, depois de estafante labuta, está finalmente em casa, e pretende relaxar um pouco, preparando-se para o dia seguinte. Por que razão ele iria sintonizar um noticiário de TV - o JN, por exemplo - que se esmera em martelar o tempo todo sobre crise econômica, trazendo a cada edição uma avalanche de notícias negativas e análises catastrofistas? Por que motivo ele iria acompanhar um jornal preocupado o tempo todo em demonstrar que o Brasil é um monumental fracasso, sem qualquer perspectiva positiva? Seria preciso ter um certo pendor masoquista. (Eis, talvez, uma das causas da queda contínua de audiência; outra, sem a mais remota dúvida, é a internet).
A propósito, pesquisa recentemente divulgada pelo Ibope - solenemente ignorada - deixa clara a postura da mídia, e mereceu de Maurício Dias abordagem em sua coluna Rosa dos Ventos na revista CartaCapital, da qual destacamos:
"... O povo não é bobo. A mais recente comprovação da correta percepção popular está nos números de uma pesquisa Ibope, feita em maio, sobre temas políticos e administrativos. A mídia silenciou sobre o assunto quando bateu de frente com a resposta dada à seguinte questão proposta ao entrevistado:
“A imprensa brasileira mostra o País numa situação econômica mais negativa do que a que percebo no meu dia a dia”.
O Ibope admite a influência da mídia “no sentimento de pessimismo dos brasileiros”. O instituto apoia-se no expressivo número de 41% dos entrevistados que acreditam nisso. Ou seja, “a imprensa mostra uma situação econômica mais negativa” do que parece ser.
Existe uma crise econômica inegável e o jornalismo não é por natureza mensageiro da bem-aventurança. É de Rubem Braga, o grande cronista, uma afirmação radical sobre isso: felicidade não dá manchete.
Apesar do bombardeio diário contra o governo, muitas vezes sem comprometimento com os fatos, desponta na resposta da maioria da população a restrição ao papel da mídia. Ela parece torcer contra e jogar na posição do quanto pior melhor.
Os entrevistados reconhecem isso. Por outro lado, andam, porém, mergulhados na descrença sobre o futuro do País porque vê e sente o desemprego em crescimento e a inflação em alta.
Entretanto, o problema neste caso não está contaminado pelo viés político-ideológico.
A mídia tem o direito de ser conservadora, reacionária ou o que mais quiser. Só não pode ser desonesta e esconder do leitor um fato, como o agora relatado, no fundo da gaveta."
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