segunda-feira, 1 de junho de 2015
CBF NIKE: O LIVRO QUE NÃO FOI
13 anos depois, a censura ao livro sobre CBF e Nike
Da Caros Amigos
O escândalo de corrupção entre os altos dirigentes da Federação Internacional de Futebol (Fifa), entre eles a prisão do ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), José Maria Marin, trouxe à luz, na terça-feira (27), um processo internacional de lavagem de dinheiro, desvio de divisas e formação de quadrilha realizada por uma máfia de cartolas. No entanto, a corrupção que inunda as sedes de confederações e federações nacionais e internacionais do esporte mais popular do planeta nos pelo menos últimos 24 anos não é nenhuma novidade. Desde o acordo com a ditadura militar, que colocou João Havelange à frente da Fifa, houve tantas denúncias quanto censuras em relação às relações promíscuas entre os cartolas e as empresas que patrocinam os times e vendem seus produtos em campeonatos.
Censura
Caso emblemático do silenciamento sofrido por aqueles que ousaram investigar o esporte nacional é a censura que sofreu a Editora Casa Amarela, na época responsável pela publicação da Revista Caros Amigos, além de livros e fascículos. Em 2001, a editora produziu o livro intitulado CBF-Nike, que antes mesmo de começar a ser vendido foi proibido de circular, após um processo aberto pelo então presidente da CBF, Ricardo Teixeira. Além de vetada a venda do livro, também foi aberto contra a editora e os autores, Aldo Rebelo e Silvio Torres, um processo pedindo indenizações por danos morais de um livro que nem sequer chegou a ser distribuído.
O livro trata de um caso que começou após a Copa do Mundo na França em 98, marcada pela derrota do Brasil em plena final para a França, quando houve um grande debate em relação ao suposto caso de influência da Nike, que tinha contrato de publicidade com diversos jogadores da seleção, além de patrocinar o time. Na época, o que se dizia, era que a empresa estadunidense havia influenciado na escalação e escolhido inclusive aqueles que seriam titulares absolutos do time.
O debate em torno do tema cresceu ao ponto da Câmara dos Deputados instaurar, em 17 de outubro de 2000, uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), que tinha como objetivo “apurar a regularidade do contrato celebrado entre a CBF e a Nike”, sob a presidência de Aldo Rebelo (PCdoB-SP) e secretaria geral de Silvio Torres (PSDB-SP). Como muitos previam, a CPI foi ocupada majoritariamente por deputados da bancada da bola, deputados da esfera de influência de Ricardo Teixeira. Após meses de apuração e levantamento de provas para o caso, a bancada não deu quórum para a votação final do relatório, que nunca chegou a ser aprovado.
Ricardo Teixeira
A partir do material que era publicado diariamente na imprensa e as informações veiculadas pela própria CPI, a Editora Casa Amarela resolveu editar o livro CBF-Nike. Os autores do livro foram os então deputados Aldo Rebelo e Sílvio Torres, que tinham todas as informações e conhecimentos sobre o caso. Logo após o lançamento do livro em São Paulo, antes que ele começasse a ser vendido, a editora recebeu uma carta precatória da Justiça do Rio de Janeiro em que uma liminar a pedido de Ricardo Teixeira proibia a distribuição do livro e, ao mesmo tempo, abria uma ação indenizatória por danos morais contra os autores e a editora.
O processo, que está registrado sob o número 2002.001.028004-5 na 41ª Vara Cível do Rio de Janeiro, sempre tramitou no Rio de Janeiro, onde diversos jornalistas que denunciaram a Rede Globo, como Luiz Carlos Azenha, Rodrigo Vianna e Paulo Henrique Amorim, foram condenados a pagar indenizações por danos morais. A editora, sediada em São Paulo, teve como primeira ação requisitar a transferência de foro de julgamento do processo do Rio de Janeiro para São Paulo, mas o pedido nunca foi aceito pela Justiça.
Condenação
Após idas e vindas no processo do livro, a editora foi condenada no TJ carioca a continuar seguindo sem distribuir o livro. Em relação ao processo por danos morais (de um livro que ninguém pôde ler), a editora e os autores chegaram a ser condenados a pagar 500 mil reais a Ricardo Teixeira, decisão que foi revertida após a comprovação de erros no encaminhamento do processo, que continua.
O livro, que há 13 anos relatava o que o FBI está acusando agora, também continua proibido. (Fontes: aqui e aqui).
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Em resumo: Houve ao menos a tentativa de se trazer a público a escabrosa corrupção no futebol, mas o cerceamento foi total. Enquanto isso, conglomerados midiáticos cuidam de ministrar lições de moral a torto e a direito, como que convencidos de que o público lhes dá pleno crédito.
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