terça-feira, 9 de junho de 2015

AINDA O CASO DA DROGA DE MINAS, POR VIA TRANSVERSA


"O Estadão publicou três matérias sobre tráfico de cocaína, que envolvem o piloto daquele helicóptero dos Perrela, apreendido pela Polícia Federal com quase meia tonelada de pasta da droga.

Matéria 1: Brasileiros levavam cocaína das Farc desde a Venezuela para cartéis mexicanos.
Matéria 2: Quadrilha internacional trouxe cocaína das Farc para o Brasil e mirava África.
Matéria 3: Piloto foi achacado por dois agentes do Deic, mostra grampo.

Só que o título das matérias desvia a atenção do principal. Em duas das três matérias, aparece “cocaína das Farc”.

Não se apresenta, todavia, nenhuma prova ou indício de que a cocaína pertence às Farc; e mesmo se pertencesse, isso não tem relevância na matéria.

É apenas para dar uma cor ideológica à reportagem, e confundir o leitor.

A confusão é tanta que o texto quase dá a entender que as Farc são chavistas ou venezuelanas.

Não são. As Farc são um produto exclusivo da Colômbia. A Venezuela não tem Farc. Chávez defendia que as Farc abandonassem a luta armada.

A matéria trata como coisa menor as informações mais bombásticas:

1) Segundo um dos posts, Alexandre José de Oliveira Junior, piloto do famoso “helipó” dos Perrela, operava há tempos, antes de ser preso, para grandes traficantes internacionais. O Estadão não ficou curioso para saber se Oliveira usou antes o helicóptero do senador? Quer dizer então que o senador Perrela, um dos melhores amigos de Aécio Neves, tinha como piloto, há tempos, um operador a serviço dos maiores traficantes de cocaína do mundo? Isso não escandaliza o Estadão? Aécio andou nesse helicóptero?

2) O mesmo piloto havia sido pego pela polícia civil de São Paulo em janeiro de 2013, transportando 650 quilos de pó. Ao invés de ser preso, passou a ser achacado pelos policiais. Novamente o Estadão ignora o que deveria ser sua principal dúvida: ele usou o helicóptero de um senador da república para esse transporte?

Enfim, tudo é muito estranho.

O Estadão tenta jogar fumaça enchendo a matéria de referências às Farc, o que é o lado menos importante e com menos provas de toda essa história.

O que é mais estranho, porém, é a indiferença da imprensa para investigar um escândalo que liga os mais altos escalões da política mineira e brasileira ao tráfico internacional de cocaína.

A história tem várias pontas soltas, que a imprensa poderia muito bem investigar. Deixo aqui algumas delas:

G1: Polícia fecha laboratório de refino de drogas em Cláudio, MG
Folha: Governo de Minas fez aeroporto em terreno de tio de AécioAécio usava o aeroporto ilegalmente, pois o mesmo ainda não tinha chancela da Anac.
Juiz nomeado por Aécio vendia sentenças de soltura à traficantes (primo de Aécio intermediava)DCM: as ligações entre Aécio e Perrela.
DCM: o estranho caso do helicóptero engavetado.

É o bastante, não?

Agora imagina se Lula mandasse construir um aeroporto em terras de seu tio, se apenas o tio tivesse a chave, se o aeroporto ficasse ao lado de sua fazenda, se tivesse indicado um juiz que vendesse sentenças de soltura a traficante (com intermédio de seu primo), se houvesse um laboratório de refino de cocaína na cidade onde fica a fazenda de Lula (e o aeroporto) e, por fim, se um helicóptero de um senador grande amigo de Lula fosse apreendido com meia tonelada de pó!"





(De Miguel do Rosário, em seu blog, post intitulado "A história do helipó não terminou" - aqui.

O texto acima é demonstração cabal da distância existente entre a grande mídia, seletiva como de praxe, da blogosfera: até mesmo quando o grande veículo se dispõe a noticiar algo, cuida tanto de 'forçar' a versão pretendida - Farc... -, como de omitir informação vital, mas que se lhe afigura incômoda. Felizmente a blogosfera entra em campo, e contribui para clarear o jogo, permitindo que o leitor se inteire dos fatos).

Nenhum comentário: