domingo, 24 de maio de 2015

SOBRE A REJEIÇÃO À CIÊNCIA


Políticos rejeitam a Ciência por causa dos eleitores

Por Geraldine Cremin

O Congresso americano tem golpeado a ciência há anos. De acordo com o astrofísico Neil deGrasse Tyson, chegou a hora de revidar.
 
Em uma ação que alguns consideraram uma guerra à ciência, o congressista republicano Lamar Smith, presidente do Comitê de Ciências Nacional, fez, no fim de 2014, uma revisão agressiva das concessões distribuídas a agências como NASA, Agência de Proteção Ambiental e Fundação Nacional de Ciências.
 
Desde então, o Senado reconheceu que a mudança climática é real, mas negou que o problema tenha sido causado pela atividade humana, atando suas mãos em relação ao assunto. Para enfatizar o sentimento do Senado, o senador republicano Jim Inhofe, presidente do Comitê de Meio-Ambiente e Serviços Públicos, levou uma bola de neve a um debate para provar que o aquecimento global não passa de um boato.
 
É fácil achar tudo isso bizarro e apontar o dedo para as autoridades por causa de suas visões teimosas a respeito da ciência, mas precisamos lembrar que as pessoas em questão foram eleitas pelos americanos. É por isso que Tyson, um dos cientistas mais engajados dos Estados Unidos, diz que o poder é do povo. É nosso.
 
O Motherboard bateu um papo com o Diretor do Hayden Planetarium para falar sobre ciência, política e como ambos vieram a estar em posições tão opostas.
 
Motherboard: Existem políticos nos EUA que ainda negam a mudança climática...
Neil deGrasse Tyson: Eles negam a ciência em geral.
 
O que você pensa sobre esses políticos que parecem não aceitar a ciência?
É constrangedor. Mas somos uma democracia, então meu problema não é com o político. Como o político foi eleito? As pessoas votaram nele! Então o desafio não é bem com o político, e sim com o eleitorado. Sou educador. Me volto para o eleitorado, não para o político.
 
Você é grande defensor da educação científica e da formação de um público mais informado. Quais tópicos importantes todos deveríamos conhecer para nos considerarmos letrados em ciência?
Na pergunta você assume que existe uma série de tópicos.
 
Espero uma lista de prioridades ou tópicos-chave, algo assim.
Não. Sempre há uma lista de assuntos, mas não é isso que me interessa, não é isso que faço. Dou formas de pensar para abordar esses temas por conta própria.
 
Ciência não é uma série de tópicos. Ciência é uma forma de ver o mundo, de questionar, de explorar como você obteria respostas para as perguntas. Então você recorre aos temas-chave e diz “céus, aquela pessoa está levantando aqueles dados, mas não é assim que se faz!” ou “essa pessoa disse isso, mas, opa, peraí, aqueles outros sete resultados científicos dizem outra coisa, ele está falando merda!”.
Agora pensamos o que são essas pesquisas e as relacionamos umas com as outras. É uma forma de se pensar.
 
Então não vou dar uma lista a você. Treinarei sua mente para pensar. Não vou dizer o que pensar, nem como votar. Estou dando a você a possibilidade de interpretar o mundo ao seu redor de formas que levem a uma análise objetivamente verdadeira.
 
Você diz que a NASA é um lugar onde se criam sonhos. O percentual do orçamento federal destinado à agência vem caindo desde 1991. O que você tem a dizer sobre isso?
Posso falar uma coisa a você: no Século XXI, as inovações na ciência e na tecnologia serão as principais forças das economias do futuro. Quando uma nação se pronuncia com “não podemos investir em ciência e tecnologia” pode ser uma tradução para “vamos ficar onde estamos para sempre”. Você manterá a pobreza. Manterá a ausência de riqueza.
 
Quando as pessoas pensam em investimentos, pensam também em retorno. A ciência tem um horizonte de tempo maior que esse. Não dá pra falar “olha só, resolve isso aqui com a sua ciências”. Não é assim que funciona. Exige visão. Exige mais tempo.
 
Na II Guerra Mundial, pesquisadores de comunicação estudavam como se comunicar com micro-ondas ou ondas de rádio e, durante o processo, perceberam que a água absorvia micro-ondas. O que acontece se você criar uma cavidade e transmitir micro-ondas por ali e então colocar algo com água nessa cavidade – tipo comida? Você pode aquecer comida assim! (Estala os dedos.)
 
Se você fosse especialista em fornos e eu lhe desse um zilhão de dólares – este não é um número de verdade, é falso, um número falso enorme – e dissesse para fazer um forno melhor, talvez você colocasse algum tipo de isolamento nele, alguns medidores de temperatura, melhorasse seus controles. Você nunca inventaria um forno micro-ondas porque isso vem de outro lugar.
 
Ciência é uma exploração de tudo que é desconhecido. Depois chegam os tecnólogos e dizem “ei, dá pra eu usar isso, valeu”. É necessária esta visão. Sem ela, pode desistir.
 
Como você acha que podemos reavivar essa visão e o desejo de explorar e descobrir?
No final, as pessoas perceberão que se você nega a ciência, interfere na sua capacidade de criar riquezas. Nos Estados Unidos, as pessoas querem saber de riqueza, de dinheiro. Talvez não tenhamos afundado o bastante para acordamos e falarmos “minha nossa, o que estamos fazendo? Vamos voltar pro bonde da ciência e tecnologia”.
 
O desafio a nossa frente continua enorme. Estou dando duro. Por isso que tenho o programa na rádio e o Cosmos e o Twitter e os livros. Digo, não sei quanto mais posso fazer. Mas estou tentando.
 
Obrigado por tirar um tempinho pra falar com a gente. Fico feliz que tenha conseguido no meio de tanto.
Não há tempo administrado. Tudo é completamente aleatório. Sinto que tudo entrará em colapso a qualquer instante. Estive em Atlanta essa manhã e cancelaram meu voo. Normalmente voltaria para casa com tempo o bastante para dar uma descansada, mas isso que estou vestindo agora é o mesmo que usava no avião mais cedo. (Fonte: aqui).

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