A estupidez do Brasil de hoje torna sábio 'esconder' um Prêmio Nobel chinês
Por Nilson Lage
Expressei ontem, no Facebook, minha surpresa por descobrir, só agora, que, na delegação que acompanha o Primeiro Ministro chinês, Li Kikiang, em sua viagem pela América Latina, está Mo Yan, Prêmio Nobel de Literatura em 2012.
O autor de “Sorgo Vermelho” (o filme sobre o livro foi premiado com o Urso de Ouro no Festival de Berlim, na década de 1980), que já entrou em conflito com as autoridades, na década de 1990, por causa de um romance histórico de conteúdo erótico (os portugueses, com seu sentido do obviedade, traduziram o título para “Grandes peitos, ancas largas’), mantém uma atitude crítica, no contexto chinês, e seu último livro, ao que eu soube, aborda a questão delicada do assassinato de bebês na vigência da lei do filho único, imposta ao país de um bilhão e 300 milhões de habitantes.
No Brasil, dele, há alguns anos, traduziram “A Muralha”.
A notícia me chegou na forma do anúncio de uma conferência que ele iria proferir na Universidade de San Marco, em Lima - a mais antiga das Américas -, fundada pelos espanhóis, em 1551, para confrontar, e esmagar, a pesada herança cultural do Império Inca.
No primeiro momento, lamentei a suposta incompetência do Itamarati, que não teria notificado tal presença às universidades e ao meio cultural brasileiro – afinal, é rara a oportunidade de contato com um importante intelectual chinês, autor de romances cujo estilo tem sido comparado aos dos escritores do realismo fantástico latino-americano.
Hoje pensei melhor e acho que, se foi o caso, agiram com sabedoria os diplomatas que ocultaram a presença de Mo. Imagino o alarido que essa canalha boçal e bem paga de ativistas que assombra o Brasil poderia fazer caso alguma instituição brasileira desse a palavra ao visitante.
Leio, ouço e vejo, em imaginação, o mar de oportunismo e safadeza da mísera intelectualidade que sobrevoa e busca pouso no estrume da mídia brasileira; críticas de livros que não leram, bobagens sobre uma cultura que não entendem, em nome de uma liberdade de falar às massas que, realmente, não têm. (Fonte: aqui).
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