segunda-feira, 25 de maio de 2015

O CINEMA DE ORSON WELLES

Netto.

A Dama de Shanghai

Um homem se envolve em uma trama criminosa ao ser contratado para trabalhar no iate do marido de uma sedutora mulher.

Com este simples fio de história, Orson Welles construiu mais um de seus grandes filmes, um exercício de cinema autoral único, em que o seu gênio criativo mais uma vez se impõe em prol de uma narrativa densa, com um tratamento visual impressionante.
Um filme onde as aparências são simples reflexos em espelhos
“Orson Welles sempre é descrito, e merecidamente, como inimitável”, disse François Truffaut. É um dos nomes mais conhecidos e respeitados dentre os diretores de cinema, seja pela fama do seu primeiro trabalho, “Cidadão Kane”, seja por ter realizado uma das filmografias mais geniais do século XX. Orson Welles escreveu, dirigiu e estrelou mais esta obra-prima de sua carreira e do cinema noir. “A Dama de Shanghai” é o seu quinto filme, e surgiu de uma necessidade financeira do diretor para a produção de uma peça teatral. O ponto de partida foi uma conversa telefônica entre Welles e Harry Cohn, chefão da Columbia, que o pressionava por um novo filme. Ao olhar em volta, o cineasta deu com o título de um livro numa banca – “A Dama de Shangai”, um romance de Sherwood  King. O estúdio comprou os direitos, mas quando o leu, Welles descobriu que era péssimo, mas manteve o ótimo título, escrevendo uma nova história.
 

Na época casado com o furacão Rita Hayworth, o filme ajudou a construir ainda mais os mitos envolvendo os dois, a união festejada entre a beleza e a sabedoria, que se traduz em imagens deslumbrantes, como um jogo de sombras e luzes compondo um quebra-cabeças visual que resume toda a obra desse genial arquiteto da narrativa cinematográfica.

O cinema noir foi muito mais um estilo visual do que um gênero cinematográfico. Este estilo é marcado por cores escuras e alto contraste, influenciado diretamente pelo cinema expressionista alemão. As narrativas sempre inteligentes e inspiradas em romances policiais, eram permeadas de paranoia, desconfiança, cinismo e niilismo. “A Dama de Shangai” é, portanto, um filme noir por excelência, onde Rita Hayworth chocou o público aparecendo de cabelos curtos e louros platinados. Ela interpreta Elsa ‘Rosalie’ Bannister, a típíca femme fatale que conquista o marinheiro Michael O’Hara, interpretado pelo próprio Orson Welles, um personagem que é envolvido inocentemente em uma perigosa trama de intriga e crime.
 
A fotografia deste filme é fantástica, luzes e sombras são muito exploradas e o jogo de câmeras contribui para o desenvolvimento da trama, onde os acontecimentos se tornam cada vez mais intricados e labirínticos. No filme ninguém é o que parece, identidades e intenções são reveladas e confundidas conforme o desenrolar da história. Uma trama que indica mudanças, não apenas no aspecto narrativo, mas também na própria maneira de fazer filmes. É um filme transitório, apresentando ainda elementos do cinema clássico, porém com aspectos daquele que viria a ser o cinema moderno, provando que Welles era, de fato, um cineasta a frente de seu tempo. 
Ao longo de sua carreira Welles realizou mais de vinte filmes, dentre eles outras grandes obras, como “Soberba” (1942), “A Marca da Maldade” (1958) e “O Processo” (1962). Porém, mesmo festejado como o autor daquele que é considerado o melhor filme de todos os tempos – “Cidadão Kane” – ele não conseguiu realizar nenhum grande sucesso de público. Welles morreu aos 70 anos, de ataque cardíaco. (Fonte: aqui).

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