"(...) Essa 6ª-feira, a Federação Internacional de Futebol Association, FIFA, (reuniu-se) em Zurique para celebrar seu 65º Congresso Mundial regular.
Um dos pontos da ordem do dia (foi a) discussão e votação de “suspensão ou expulsão de um membro”. Na mesma ordem do dia lê-se “Atualização sobre Israel e Palestina”.
A Associação de Futebol da Palestina solicitou votação nesse Congresso da FIFA para suspender Israel como membro da FIFA.
O grupo palestino opõe-se a que as equipes israelenses joguem na Cisjordânia. Além disso, afirma que Israel restringe os movimentos dos jogadores palestinos entre Cisjordânia e Gaza – e impede que participem em encontros internacionais.
“Israel mantém a intimidação e entendo que não tenha direito de continuar a agir como dono da bola” – disse, falando de Israel, o presidente da Associação de Futebol da Palestina Jibril Rajoub. “Se os israelenses usam a questão da segurança, posso garantir que o problema de segurança deles é também meu problema de segurança. Estou disposto a fixar parâmetros para os problemas de segurança. Mas a segurança não deve ser usada (...) como se fosse ferramenta destinada a manter essas políticas israelenses racistas, de apartheid.”
Rajoub declarou que a situação na Cisjordânia é muito pior que o apartheid que se viu na África do Sul, porque os extremistas e direitistas israelenses querem “extinguir a Palestina”. Na década de 1960, a FIFA manteve a África do Sul suspensa durante décadas, porque não respeitava as políticas de não discriminação da associação. Um mês depois do levante da juventude de Soweto, em 1976, a FIFA expulsou a África do Sul.
“Não estou pedindo que a FIFA suspenda a associação israelense. Estou pedindo que ponha fim ao sofrimento dos jogadores palestinos” – disse Rajoub. – “Estou pedindo que se ponha fim aos agravos e humilhações que sofremos”.
Para que Israel seja expulsa da FIFA são necessários votos de 75% dos 209 estados-membros da FIFA, e havia boa possibilidade de a expulsão ser aprovada.
Havia, porque agora, como por acaso, como se nunca antes ninguém tivesse corrompido ou sido corrompido no mundo do futebol, o governo dos EUA ordenaram que a Polícia suíça assaltasse o hotel no qual se hospedam os mais altos funcionários da FIFA e prender alguns que estivessem por lá, sob acusações de corrupção. E mais: os EUA exigem que sejam extraditados para serem julgados em tribunal norte-americano.
Também por puro acaso, repórteres e fotógrafos do New York Times estavam ali, no salão daquele preciso hotel, às 6h da manhã, para que a cobertura do ‘evento’ pudesse ser ‘notícia’ dos primeiros jornais matinais, como escreve o mesmo NYT em artigo de hoje (aqui):
“Coincidindo com a reunião de diretores da FIFA, órgão superior do futebol mundial, reuniram-se mais de uma dezena de agentes suíços da lei, que chegaram ao hotel Baur au Lac sem aviso. O hotel é estabelecimento de luxo, cinco estrelas, com vistas para os Alpes e o lago de Zurique. Dirigiram-se à recepção, recolheram as chaves e subiram as escadas até os apartamentos ‘selecionados’. (...)
As acusações falam de corrupção generalizada na FIFA nas duas últimas décadas, dentre outras nas licitações para a realização das Copas do Mundo, e nos acordos para comercialização de produtos e exibição por televisão, segundo disseram três policiais que conhecem diretamente o caso. As acusações incluem fraude, extorsão e lavagem de dinheiro, e os policiais disseram que o alvo da ação eram os membros do poderoso Comitê Executivo da FIFA, que tem grande poder e promove o próprio negócio praticamente em segredo.”
Embora alguns dos acusados sejam cidadãos norte-americanos, não se sabe ainda que complexas manobras o Departamento de Justiça dos EUA terá de fazer, para explicar a ‘exigência’ de que os acusados sejam julgados em território dos EUA:
“A lei nos EUA dá ampla autoridade ao Departamento de Justiça para levar ao juiz casos contra estrangeiros que vivam no exterior, autoridade que os agentes da lei já usaram em várias ocasiões, em casos de terrorismo internacional. Esses casos podem depender que qualquer mínima conexão com os EUA, como usar um banco ou um provedor de serviços de Internet norte-americanos.”
Há corrupção em marcha quando a FIFA decide celebrar o Campeonato do Mundo num ou noutro país? Eu nunca imaginei que havia jogos de azar no cassino! Há jogo em Casablanca? Estou chocado!
Rick: E por que querem fechar meu bar? Qual o motivo?
Capitán Renault: Muito me surpreende! Estou muito surpreendido por comprovar que aqui se joga! [Um crupier entrega a Renault um pacote de dinheiro] Croupier: A sua parte, senhor.
Capitán Renault: Oh, muito obrigado.
Além do assalto ao hotel ordenado pelos EUA, os suíços veem-se obrigados a também iniciar um procedimento penal em relação à votação que escolheu as sedes das Copas do Mundo 2018 e 2022 na Rússia e no Qatar. Os EUA perderam a chance de receber esses eventos, e os falcões norte-americanos, quando perdem, põem-se imediatamente a tentar melar o jogo e mudar o resultado.
Não que o pagamento de subornos para serem escolhidos como sede e organizadores de uma competição mundial seja evento totalmente inexistente e ignorado nos EUA. Mas parece que agora, em todos os casos em que forem derrotados, os EUA imediatamente se põem a ‘promover mudança de regime’ na cúpula da organização que não tenha escolhido... os EUA.
Nos EUA é legal subornar políticos mediante o financiamento das campanhas eleitorais, em quantidades praticamente ilimitadas.
Nunca, em tempo algum, um banqueiro, um, que fosse, foi jamais acusado de prática fraudulenta massiva, nem na mais recente em Wall Street, que levou a economia mundial ao atoleiro em que está. O mundo sabe disso, e não gosta que esses EUA deem lições de moral.
A FIFA, que com certeza é corrupta, é também a alma do futebol mundial e entidade que organiza o campeonato esportivo que mobiliza mais público em todo o mundo. Se os EUA acreditam que invadir hotéis, em movimento em tudo semelhante e ataques terroristas, encontrará alguma solidariedade em todo o mundo, estão muito enganados.
Principalmente porque, dessa vez, o motivo do assalto ao hotel e aos dirigentes da FIFA, como se tivesse acontecido por acaso, já é bastante óbvio. Por exemplo, graças a Ashel Pfeffer, jornalista israelense, que se pavoneia, pelo Twitter:
[traduzido] “Anshel Pfeffer – Coitado do Jibril Rajoub. Parece que o truque dele não vai conseguir muita atenção #FIFA”
Deixe-me adivinhar: será que todos já sabem que esse foi, exatamente, o verdadeiro propósito do ataque à FIFA? #Israel?"
(Análise do site Pátria Latina, post intitulado "Dias antes da votação para expulsar Israel, EUA ordenam ataque contra a Fifa" - aqui.
Bem, a sede da Concafaf, uma das confederações acusadas de falcatruas, está localizada nos EUA, e diversas transações bancárias configuradoras de ilicitudes foram efetuadas via bancos americanos - razões que embasam a condução do caso pela Justiça norte-americana. Por sua vez, a prisão de dirigentes teria sido realizada nos moldes verificados por questão estratégica, em face de dificuldades que poderiam surgir nos respectivos países. As particularidades citadas, porém, não nos impedem de opinar no sentido de que a hipótese apresentada no texto acima poderia ser um outro forte motivo da deflagração das ações. Há, sim, articulações contra Israel, por sua postura ante aos cidadãos palestinos).
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