quinta-feira, 19 de agosto de 2021

NOVO MOVIMENTO DE EXTREMISTAS RELIGIOSOS INSISTE POR VISÃO ULTRACONSERVADORA NOS EUA

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"A exposição recente feita pelo Guardian de um advogado geral assistente no Alasca – que tinha feito tuítes racistas e violentos em uma conta do DezNat – levou à sua demissão. Mas também incitou preocupações sobre quantos apoiadores do DezNat ocupam posições de autoridade nos EUA."


Por Jason Wilson (Em The Guardian)

Um novo grupo de extremistas religiosos nos EUA está buscando promover e defender uma visão ultraconservadora da crença Mórmon e assediar aparentes opositores dessas crenças, que são frequentemente racistas e fanáticas ou promovem a violência.

A conduta dos chamados ''nacionalistas Deseret'' ou ''DezNats'' levantou perguntas sobre como a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (LDS) está respondendo ao movimento, e aos assédios diretos entre membros, incluindo aqueles que trabalham em instituições patrocinadas pela igreja como a Universidade Brigham Young (BYU).

Alguns que se identificam com os DezNats têm posicionamentos extremos em relação a gênero, sexualidade e raça. Outros que se descrevem como nacionalistas Deseret defendem um etno-estado branco e separatista, comandado pelos Mórmons, localizado na área da Grande Bacia do Nevada reivindicada pela igreja LDS em meados do século 19.

A exposição recente feita pelo Guardian de um advogado geral assistente no Alasca – que tinha feito tuítes racistas e violentos em uma conta do DezNat – levou à sua demissão. Mas também incitou preocupações sobre quantos apoiadores do DezNat ocupam posições de autoridade nos EUA.

No final de semana passado, um coletivo antifascista anônimo chamado ''DezNat Exposto'' fez um post em um blog afirmando que uma notável conta da DezNat, @extradeadjcb, uma newsletter associada à Substack e uma conta já suspensa, @jcbonthedl, estava sob controle de Kevin Dolan.

Dolan, que afirma em seu perfil no LinkedIn ter aprovação de segurança do governo dos EUA, foi contratado, desde janeiro, pela firma de consultoria Booz Allen Hamilton como cientista de dados sênior. A empresa possui contratos extensivos com o exército dos EUA e agências de inteligência e foi rotulada como ''a organização de espionagem mais lucrativa do mundo''.

O post do blog que identifica Dolan, detalha não somente posts racistas, homofóbicos e antissemitas feitos pelas contas do Twitter, como também mostra os links entre ele e as contas, que incluem posts arquivados de encarnações anteriores dos seus blogs e das contas do Twitter, que apontam para suas páginas pessoais no Facebook e no Twitter.

Dolan não respondeu imediatamente aos contínuos pedidos por comentários sobre o post, enviados tanto para o seu email pessoal quanto para o profissional.

Um porta-voz da Booz Allen Hamilton divulgou uma declaração dizendo que a política da empresa impedia qualquer discussão específica sobre funcionários, mas que a ''Booz Allen é guiada pelos propósitos e valores da nossa empresa e mantém todos os nossos funcionários de acordo com os mesmos princípios''. A declaração ainda disse: ''A Booz Allen condena fortemente grupos supremacistas de todo tipo''.

Em uma declaração subsequente, o porta-voz disse que ''Kevin Dolan não é mais funcionário da Booz Allen''.

A identificação mais recente contribuiu com a noção de que o movimento DezNat, cujos membros frequentemente defendem a hashtag associada ao grupo como um simples marcador da crença ortodoxa LDS, é, na realidade, um grito de guerra para os ativistas – alguns dos quais estão em posições de influência no mundo real – que buscam mesclar o mormonismo conservador com o nacionalismo branco e outras vertentes da doutrina de extrema-direita.

No mês passado, Matthias Cicotte, após ser identificado pelo Guardian como operador da conta @JReubenCIark da DezNat no Twitter, saiu do seu emprego no departamento jurídico do Alasca (DoL) após trabalhar lá por nove anos, mais recentemente como conselheiro penitenciário.

A investigação do Guardian mostrou que a conta no Twitter, sob controle de Cicotte, defendia teorias conspiratórias antissemitas, preconceitos contra negros e latinos e sentimentos homofóbicos e machistas.

Em uma declaração enviada por email aos repórteres, o chefe do DoL e advogado geral do Alasca, Treg Taylor – membro da igreja LDS – disse que ''embora não possamos falar sobre assuntos dos funcionários, não queremos que os valores e políticas do departamento sejam ofuscados pela conduta de um indivíduo''.

Anteriormente, entre as revelações iniciais sobre Cicotte e sua saída do DoL, Taylor enviou um email para todos os funcionários dizendo que ele não ''partilhava ou tolerava as visões pessoais abraçadas em posts usando #DezNat''.

Amy Chapman, pesquisadora na Faculdade de Professores, da Universidade de Columbia, que conduziu uma pesquisa sobre a hashtag DezNat e o movimento ao seu redor, disse que enquanto o movimento não era tão grande quanto outros grupos mais seculares de extrema-direita, tinha ''efeitos no mundo real'' extensivos naquelas pessoas tidas como alvo pelo movimento.

No passado, bem como em plataformas públicas nas redes sociais, membros do movimento aparentemente se reuniram em conversas privadas usando o serviço Discord, nas quais os membros trocavam livremente entre si ''observações violentas, racistas, sexistas e homofóbicas''.

Alguns DezNats negaram que o movimento nutre preconceito, incluindo Gregory Smith, que está se candidatando para o conselho municipal de Ogden, em Utah, que aparentemente possui laços com o movimento DezNat e que já usou a hashtag.

Mas Chapman disse que há tempos observa a conta que agora foi revelada como sendo de Cicotte, e que ''o que mais me surpreendeu sobre a conta foi sua atitude negativa em relação às mulheres e ao público LGBTQ'', adicionando que a misoginia, homofobia e transfobia são temas recorrentes no discurso DezNat.

Frequentemente, as contas da DezNat alegam estar defendendo a igreja LDS dos avanços nos status das mulheres e do público LGBTQ na sociedade secular, cujos efeitos eles veem como corruptos.

Isso levou a campanhas de assédio contra adversários aparentes, que são em sua grande maioria ex-membros da igreja ou aqueles percebidos como membros com atitudes sociais mais progressistas.

Particularmente, sua ira tem sido direcionada para progressistas que ocupam posições dentro de instituições comandadas pela igreja como a BYU – patrocinada pela igreja – e são frequentemente considerados como apóstatas pelos DezNats.

Um membro do corpo docente da BYU, cuja identidade está sendo protegida por motivos de segurança pessoal, disse ao Guardian que os DezNats tinham militarizado elementos da doutrina Mórmon como iniciativa para assediar e ameaçar o emprego das pessoas que trabalham na universidade.

Esse assédio superou o assédio moral via redes sociais e os esforços para demitir pessoas, e se transformou em ação direta e presencial. Um ativista alinhado ao DezNat visitou o campus da BYU em Salt Lake City para deixar fotografias de fetos abortados nas portas de membros do corpo docente.

Esse incidente causou o envolvimento do departamento de polícia da BYU.

As vítimas dessas campanhas, junto com outros Mórmons que são contrários aos princípios extremos dos ativistas DezNat, pediram que a igreja LDS renegue o movimento.

Em resposta a essas perguntas sobre os DezNats, e à vontade da igreja de renegá-los, Douglas Anderson, o porta-voz da igreja para a imprensa, escreveu em um email que o grupo ''não era filiado ou apoiado pela Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias''.

Anderson adicionou que ''nos últimos meses, líderes da igreja falaram diretamente sobre tais questões, condenando a violência recente na capital Washington e o comportamento anárquico, os males do racismo...e para aceitar pacificamente os resultados das eleições políticas''.

A declaração de Anderson concluiu que ''qualquer coisa que encoraje ou incite violência é contrária à instrução recente dada pelos líderes da igreja''. - (Fonte: Boletim Carta Maior - Aqui).

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