"Hava, Maryam, Ayesha" narra três histórias exemplares envolvendo casamento e gravidez no Afeganistão. Sua diretora publicou dramática carta aberta sobre a situação da cultura e das mulheres no Afeganistão sob o Talibã.
Por Carlos Alerto Mattos
Por Carlos Alerto Mattos
Cabul, 2019. O clima de violência de um país em conflito interno e externo torna a vida das mulheres especialmente perigosa. No entanto, elas não precisam sair de casa para estar em risco. A vida doméstica e amorosa muitas vezes tem a doçura de um inferno. A coprodução afegã-iraniano-francesa Hava, Maryam, Ayesha narra três histórias exemplares envolvendo casamento e gravidez.
Na primeira, a humilde Hava (Arezoo Ariapoor), em estado adiantado de gestação, vive escravizada pela família do marido, ele próprio um machão insensível, interessado somente em agradar os amigos. Hava sofre uma queda e não tem quem a socorra.
Sem que haja propriamente uma conclusão desse episódio, já passamos para o segundo, em que a apresentadora de televisão Maryam (Fereshta Afshar) recusa uma proposta para ser modelo. Diferente de Hava, Maryam é mulher culta e relativamente empoderada. Ainda assim, está fragilizada pela recente descoberta de que está grávida do ex-marido, que a traía e agora a assedia tentando reconciliar-se. As memórias do casamento fracassado retornam, inclusive pelo figurino.
A terceira história, a mais rica dramaticamente, é de Ayesha (Hasiba Ebrahimi), jovem que, desiludida com a perda do seu grande amor, aceita casar-se com o primo, que não ama. Vizinha de Hava, Ayesha sofre semelhante exclusão da vida social, mesmo no papel de noiva. Ela precisa com urgência esconder do noivo que está grávida do namorado anterior.
Os três episódios separados vão confluir para um encontro final, tão silencioso quanto a maior parte do filme, e que indica a similitude dos destinos das mulheres afegãs, independente de suas diferenças de classe e cultura. Não é o grito, mas o silêncio que soa como a linguagem dessas mulheres em estado de aflição.
Na primeira, a humilde Hava (Arezoo Ariapoor), em estado adiantado de gestação, vive escravizada pela família do marido, ele próprio um machão insensível, interessado somente em agradar os amigos. Hava sofre uma queda e não tem quem a socorra.
Sem que haja propriamente uma conclusão desse episódio, já passamos para o segundo, em que a apresentadora de televisão Maryam (Fereshta Afshar) recusa uma proposta para ser modelo. Diferente de Hava, Maryam é mulher culta e relativamente empoderada. Ainda assim, está fragilizada pela recente descoberta de que está grávida do ex-marido, que a traía e agora a assedia tentando reconciliar-se. As memórias do casamento fracassado retornam, inclusive pelo figurino.
A terceira história, a mais rica dramaticamente, é de Ayesha (Hasiba Ebrahimi), jovem que, desiludida com a perda do seu grande amor, aceita casar-se com o primo, que não ama. Vizinha de Hava, Ayesha sofre semelhante exclusão da vida social, mesmo no papel de noiva. Ela precisa com urgência esconder do noivo que está grávida do namorado anterior.
Os três episódios separados vão confluir para um encontro final, tão silencioso quanto a maior parte do filme, e que indica a similitude dos destinos das mulheres afegãs, independente de suas diferenças de classe e cultura. Não é o grito, mas o silêncio que soa como a linguagem dessas mulheres em estado de aflição.
Este é o primeiro filme de ficção de Sahraa Karimi, diretora nascida e criada em Teerã, formada na Eslováquia e na República Tcheca. Ela é a primeira mulher a ter um PHD em cinema no Afeganistão e ocupar cargo de direção da Afghan Film Organisation. Seu estilo é sóbrio, de poucos diálogos e foco centrado nas reações faciais de suas protagonistas. O detalhismo com que reproduz os fragmentos de cotidiano diz muito da sua experiência em documentários sobre a situação das mulheres afegãs. - (Aqui).
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