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"Também não falou o então ministro que viu as questões ambiental e indígena chegar ao paroxismo da indigência e da truculência sem que, da sua boca, saísse um muxoxo."
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Impõe-se incluir no rol acima o descaso do ínclito ex-ministro relativamente à questão penitenciária (800 mil presos, 50% dos quais sem processo instaurado), especialmente no massacre da pandemia do coronavírus. Foi preciso que o Conselho Nacional de Justiça baixasse normas especiais sobre a matéria. É imperioso dizer também que em praticamente todas as suas atitudes o senhor Moro dedicou singular desprezo às diretrizes constitucionais.
Por Reinaldo Azevedo
Sergio Moro concedeu uma entrevista ao Financial Times e afirmou que deixou o governo porque não havia real compromisso de Bolsonaro em combater a corrupção. É claro que é mote eleitoral, que coincide com o que seus seguidores começam a espalhar nas redes.
Ele só não conta que opera um jeito de lavar a biografia, ou autobiografia, de quem, em 16 meses de governo, condescendeu com os mais variados descalabros do chefe, muito especialmente a tara armamentista que, já confessou o presidente na reunião do dia 22 de abril, tem o objetivo de preparar a população para uma eventual guerra civil.
Também não conta que seu "pacote anticrime" era muito mais reacionário — além de conter várias propostas inconstitucionais — do que aquele aprovado pela Câmara, que acabou homologado pelo presidente, e que ele, Moro, queria vetar. Ou que se opôs ao juiz de garantias, necessidade urgente num país em que uma magistrada, como Gabriela Hardt, da 13ª Vara Federal de Curitiba, é tomada como sinônimo da Lava Jato. E, antes dela, o próprio Moro.
Também não falou o então ministro que viu as questões ambiental e indígena chegar ao paroxismo da indigência e da truculência sem que, da sua boca, saísse um muxoxo.
Não! A sua pauta única segue sendo o combate à corrupção, segundo o deletério modelo que inaugurou no país, que destrói institucionalidade, empresas e empregos. Afirmou ao jornal britânico: "Uma das razões para eu sair do governo foi que não estava se fazendo muito (pela agenda anticorrupção). Eles estavam usando minha presença como uma desculpa, então eu saí. A agenda anticorrupção tem sofrido revezes desde 2018."
Arrogante, ele se considerava o garantidor de um governo, como se os votos dados a Bolsonaro -- posso lamentar e lamento, claro! -- tivessem sido dados a ele, Moro. Mais ainda: "Ele [Bolsonaro] mudou o diretor da Polícia Federal sem pedir minha opinião e sem uma boa causa. Não acho que seja possível combater corrupção sem respeitar a lei e a autonomia das instituições que investigam e denunciam crimes".
Ou por outra: enquanto Bolsonaro barbarizava na área social e da segurança pública, o ministro não viu razões para sair. Só deixou o cargo quando um aliado seu foi destituído.
Também a entrevista é detalhe da ofensiva para consolidar Moro como uma alternativa da extrema direita à Presidência, com a ambição de falar também a setores da direita e do centro que se opõem a Bolsonaro. E a agenda de Moro é aquela de sempre: ele contra todos — e contra a própria política — na suposta luta contra a corrupção.
Infelizmente, setores importantes da imprensa, críticos do chamado "gado bolsonarista", não se importam em atuar como gado do moro-lavajatismo, negando-se a registrar as óbvias agressões à ordem legal que se praticam em nome do combate à corrupção. O Brasil tem de sair dessa armadilha. - (Fonte: Folha de S Paulo - Aqui).
segunda-feira, 27 de julho de 2020
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