O artigo abaixo foi escrito antes do cancelamento do jantar em Nova York em que o presidente Bolsonaro seria homenageado, o que ocorre agora em Dallas, Texas. A propósito, Dallas é uma das principais cidades a integrar o chamado Cinturão Bíblico, bem mais simpático ao presidente brasileiro... Mas o que importa dizer, além de ressaltar o enfoque dado ao perfil dos adeptos do neoliberalismo por André Araújo, é que o notório empresário João Dória, atual governador de São Paulo e pessoa extremamente familiarizada com a arte de arrecadar recursos, foi quem tentou se aproveitar do 'vácuo' deixado por Bolsonaro em Nova York: para lá seguiu, ávido por holofotes, movido, segundo consta, por sonhos de candidatura presidencial num futuro não tão distante. Espécie de auto-lobby, se é que isso existe.
(Arq.)
O autêntico neoliberalismo à brasileira
Por André Araújo (No GGN)
Para os jecas fascinados com a civilização americana, aprendam a observar as RAÍZES dessa civilização e não suas perfumarias.
Os americanos se consideram CIDADÃOS e tratam o PODER como uma instituição a serviço dos cidadãos, não se rebaixam diante do Governo.
Como consequência:
1.A imprensa americana é CRÍTICA ao Governo em Washington, seja ele de que partido for; não é levemente crítica, é FEROZMENTE CRÍTICA. Imprensa morna, bajuladora, lisa, subserviente, reverencial como o Sistema Globo trata os governos não é o padrão do grande jornalismo americano de opinião.
2.Empresário americano não é puxa-saco do Presidente e de seus Ministros, não se conhece nos EUA “jantar de homenagem” ao Presidente com 1.100 talheres, um grosseiro espetáculo de bajulação rasteira. Existem jantares de arrecadação de fundos para candidatos, é finalístico e não bajulador. Empresário americano, quando quer tratar algum assunto com autoridade, se coloca em nível igual a ela e exige ser atendido como contribuinte, sem rapapés e sabujismo; muitas vezes é agressivo com a autoridade, já fui testemunha disso em vários episódios.
A CULTURA DO MUNDO DE NEGÓCIOS NOS EUA
Então, a cultura liberal de mercado não é só a BOVESPA, é uma cultura de civilização onde existe uma postura que não é de tratamento do Poder como se faz no Brasil, no exemplo degradante desse jantar da Câmara Brasileiro-Americana de Nova York – não confundir com a Câmara Brasil-EUA, com a AMCHAM, nem com o Brazil Council da U.S.Chamber of Commerce -. Essa Brazilian American Inc. é uma central de eventos e deles vive, um espetáculo vulgar de bajulação, porque não tem outra finalidade ou lógica nessa altura dos acontecimentos, não há fato objetivo a homenagear um presidente que não teve tempo de apresentar feitos para serem comemorados. É uma festa de brasileiros para brasileiros que se realiza em país estrangeiro sem que tenha qualquer relação com esse país; o jantar poderia ser numa ilha do Caribe ou em Portugal, papagaios querendo tirar foto com o Presidente para colocar na mesa da sala e mostrar para outros basbaques “viu como estou assim com o home?”
O Presidente faz mal em se prestar a um evento baba ovo desse nível muito baixo na liturgia do cargo de Chefe de Estado de um dos maiores países do mundo, Presidente da 8ª economia é para jantar do G-20 com seus iguais, outros Chefes de Estado, e não com executivos empregados de bancos, advogados de escritórios internacionais e consultores-lobistas, um público de interesses a curto prazo e sem interesse real no futuro do país.
O mundo de negócios dos EUA tem muitos eventos, feiras, summits (Nota deste Blog: summit = cimeira, reunião de cúpula), convenções, MAS todos têm um foco em temas e não foco numa pessoa e tampouco se cultua nos EUA o “negócio de homenagens” como se faz no Brasil, que nada mais é que uma picaretagem onde revistas e meios de comunicação inventam prêmios de “Personalidade do Ano” para executivos a troco de verbas de publicidade. Tem executivo que vive disso e gasta dinheiro da empresa para ganhar prêmios. De uns anos para cá o negócio tem caído, dada a recessão econômica, mas é um meio bem antigo de fazer dinheiro com a vaidade.
A VISÃO DO INTERESSE PUBLICO NO MUNDO DE NEGÓCIOS DOS EUA
Há outro vetor no mundo de negócios dos EUA muito diferente do Brasil. Lá há um respeito pelas instituições e interesse público que faz com que os executivos se dediquem a uma causa pública como obrigação de cidadão. O executivo brasileiro geralmente não está nem aí, seu único foco é ele mesmo; o país, os desassistidos, os pobres que se danem, é claro que há exceções, mas a regra é o egocentrismo e a ganância pessoal, não sobra nada para o país.
As fundações filantrópicas americanas têm em seu conjunto um patrimônio de mais de 400 bilhões de dólares, algumas são mais que centenárias, como a Fundação Rockefeller, que em 1914 financiou a construção da Faculdade de Medicina de São Paulo. Se copia tanta coisa ruim dos EUA e poucos se dão ao trabalho de copiar o lado civilizatório da sociedade americana.
Tenho um exemplo pessoal, minha irmã, que mora no Texas, por ser mãe de uma criança na escola do bairro presta serviço voluntario em asilos. Goste ou não, todas as mães são convidadas para dedicar algumas horas do mês para conversar com os velhinhos nos asilos e dar-lhes conforto moral e humanitário, espera-se de todos algum tipo de trabalho desse tipo, ninguém recusa.
OS INGRATOS NEOLIBERAIS BRASILEIROS
São educados pelo Estado, vão ao exterior com bolsas pagas pelo Estado, depois ficam ricos operando com o Estado e assim que enriquecem passam a atacar o Estado assistencial. Quer dizer, foi bom para eles, mas não pode ser bom para os muito pobres, que são hoje a esmagadora maioria da população brasileira.
Toda uma geração de economistas pés rapados que chegaram de fusquinha para fazer o Plano Real, com as conexões feitas no governo e no Banco Central tornaram-se banqueiros e viraram milionários. TUDO A CUSTO DO ESTADO, porque foi pelas ligações com o Estado que estabeleceram seus canais de enriquecimento. Executada a operação de ficar ricos, voltam-se contra o Estado que lhes deu abrigo e querem seu desmanche, essa é a saga egoísta dos neoliberais cariocas (90% dos neoliberais brasileiros são cariocas). São neoliberais a serviço de si mesmos, do seu grupo social e não do país, não estão nem aí para a catástrofe social onde a recessão atinge substancialmente os mais pobres; a camada de renda garantida de 30 milhões está bem e a economia se ajustou a servir a esse mercado, lançando ao mar os 170 milhões que sobraram. Quando atrapalham demais tem os helicópteros com atiradores para resolver.
Pesquisa feita pela indigesta XP Investimentos demonstra satisfação dos empresários brasileiros com o atual governo, a recessão não os incomoda.
A razão é simples, ajustaram seus negócios para atender a quem tem emprego e renda, o resto do país que se vire. É o autêntico neoliberalismo à brasileira.
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