Só o Estado pode dar fim à recessão
Por André Araújo
A partir da central de divulgação de projeções, conhecida como BOLETIM FOCUS, a mídia econômica toma o prognóstico dos departamentos de economia como sinal de sucesso da atual política econômica, ao considerar a projeção sobre uma melhora dos índices uma prova de que a economia saiu da recessão.
A partir desse cenário de faz de conta, a mídia econômica alardeia que a recessão acabou, em coro com o Ministro da Fazenda, sem que haja qualquer indicação de que a realidade reflita o desejo nesse teatro de luz e sombra.
Os economistas-de-manual levam a sério as projeções das consultorias e departamentos de economia de bancos, esse é o mundo deles, o das planilhas e projeções anunciadas sem temor do ridículo, como aquele em que a projeção do PIB de 2017 melhorou, era 0,48%, agora é 0,49%, como se isso tivesse alguma importância e como se um palpite fosse virar realidade, observando que quem faz esses cálculos recebe salário para montar essas tolices.
É uma base de raciocínio extraordinária, baseada em palpites. Tem tudo a ver. A atual política econômica é aquela em que o mercado financeiro, do qual fazem parte os bancos e consultorias, lhes favorece com o setor rentista acima da economia produtiva. São propagandistas de si mesmos, dão palpites de que a economia está indo no caminho certo, porque esse é único caminho que eles conhecem por formação e convicção, além de atender seus interesses.
Esses prognósticos não têm qualquer base real, são “wishful thinking”, desejos de que assim aconteça, é o mesmo processo da torcida que diz ao time “Agora vai, vamos ganhar de 3 a 1”.
Um dos truques dessa torcida é alardear que a inflação está caindo tanto que pode ficar abaixo da meta e que isso é um bom sinal. Mas uma INFLAÇÃO EM QUEDA É SINAL DE MAIS RECESSÃO E NÃO DE MENOS RECESSÃO. Essa é a sinalização UNIVERSAL de prosperidade Quando a atividade econômica ESQUENTA HÁ SINAIS DE MAIS INFLAÇÃO E NÃO DE MENOS.
Portanto, apontar queda de inflação como sinal de recuperação é uma contradição técnica na economia clássica. Os bancos centrais dos países mais importantes consideram alta de inflação como sinal claro de aquecimento da atividade econômica; aqui os “economistas de mercado” veem inflação abaixo da meta como sinal positivo para a recuperação da economia, porque veem nessa inflação menor um incentivo para o Banco Central baixar os juros básicos e em consequência para que os bancos também baixem os juros para as empresas e pessoas físicas. TUDO ISSO É TEORIA DE MANUAL, não acontece no mundo real da economia brasileira. A diminuição da taxa Selic sequer faz cócegas na taxa REAL de juros na mesa do gerente do banco, os bancos NÃO baixam os juros na ponta do tomador porque o BC baixou a Selic, não há essa correlação automática na economia produtiva, MAS essa conclusão está nos manuais onde eles aprenderam economia, continuamente propagandeada pelos comentaristas econômicos da grande mídia como se essa fosse a narrativa de uma realidade que todavia é apenas uma pós-verdade.
Apostar na retomada da economia e no fim da recessão a partir dessa TEORIA é um engodo completo; o fim da recessão depende de forças muito mais fortes do que uma teórica redução de juros pelos bancos aos seus tomadores finais mesmo que isso acontecesse.
Não há, no mundo real, uma COMPETIÇÃO entre bancos para ganhar clientes através de juros mais baixos. Nos anúncios de bancos nos EUA os concorrentes EXPLICITAM AS TAXAS que oferecem para tomadores de empréstimos, (mas) no Brasil isso JAMAIS aconteceu, os bancos não competem por meio de taxas de juros, não é da cultura bancária brasileira; anunciam serviços, atendimento digital, mas nenhum banco oferece taxas de juros mais baixas como apelo para ganhar mais clientes. Muito menos anunciam publicamente redução de taxas.
Os juros são altíssimos no Brasil por razões específicas da economia brasileira, a ideia de que a baixa da inflação leva o Banco Central a baixar a taxa Selic e por causa disso os juros caem na economia produtiva é FALSA e vendida como verdadeira por gente que sabe que ela é FALSA.
A inflação no centro da meta NÃO produz redução de juros na economia produtiva e, se essa baixa acontecer, isso NÃO tem maior impacto na retomada da atividade econômica, porque esta tem outros fatores de maior profundidade que vão muito além da taxa de juros; a economia brasileira não funciona por automaticidade de fórmulas prontas, essa economia tem um histórico de especificidades baseado na formação do País, na sua cultura popular e empresarial, em crenças e hábitos longamente entranhados na psique do brasileiro e na sua forma de tomar decisões sobre consumo e investimento, todos fatores IGNORADOS pelos economistas de manual que dominam a política monetária, cambial e fiscal desde o Plano Real e que insistem em impor política econômica baseada em modelos importados que não reagem da forma que eles esperam no Brasil.
Há ainda uma ironia maior: com a baixa da inflação e a manutenção de juros altos nos bancos, a TAXA REAL de juros aumenta para o tomador: mantida a taxa nominal e reduzida a inflação, a taxa de juros na verdade pune mais o devedor.
O maior dano causado pelo Plano Real à economia brasileira foi a importação de MODELOS estrangeiros, suas fórmulas, teorias e ferramentas, sem adaptação a um longo histórico específico de nossa economia; a economia é uma circunstância como os sábios Keynes e Hirschman nos ensinaram: economia depende muito da política e da psicologia social, não há uma economia universal que funciona igualmente em todo lugar; até a medicina necessita de adaptação a países, culturas, climas, hábitos; a economia também necessita de adaptação: impor meta de inflação sueca ao Brasil é a loucura dessa escola e que nos levou a uma recessão absurda, desastre único no mundo atual para um PAÍS RICO de recursos naturais, de empreendedores, de massa crítica de território e população.
A aposta de que os bancos brasileiros vão ajudar o País a sair da recessão é FALSA porque os bancos não têm nenhum incentivo a emprestar a juros baixos para empresas e pessoas físicas DEVIDO À PRÓPRIA RECESSÃO que tornou 60% dos CPF inadimplentes e grande parte das empresas em altos riscos de crédito já por seu excessivo endividamento.
Então a fórmula de que INFLAÇÃO NO CENTRO DA META conduz a TAXA SELIC EM BAIXA que leva a BAIXA DOS JUROS NOS BANCOS não funciona como saída da recessão porque os BANCOS NÃO VÃO BAIXAR OS JUROS E NEM VÃO EMPRESTAR devido à própria recessão, que aumentou excessivamente o RISCO DE CRÉDITO. Os bancos vão esperar o FIM DA RECESSÃO para voltar a emprestar, eles NÃO SERÃO OS AGENTES DO FIM DA RECESSÃO.
Quem pode dar fim à recessão é o ESTADO, que foi o instrumento ÚNICO do fim das grandes crises de 1929 e subsequentes; na crise de 2008 foi o TESOURO DOS ESTADOS UNIDOS que resolveu a crise com o programa TARP, que emprestou US$780 bilhões assumindo RISCO TOTAL, emprestou duas semanas após a crise, como medida extraordinária e necessária a empresas e bancos. O MERCADO NÃO DÁ FIM A RECESSÃO, a História Econômica está ai para documentar; quem resolve RECESSÃO E DEPRESSÃO é SÓ O ESTADO, é uma das funções maiores do Estado enfrentar crises, algo que particulares não têm força para fazer.
A atual política econômica conta exclusivamente com o MERCADO para comprar concessões e os bancos emprestarem para com isso o País sair da recessão. As concessões, se forem bem sucedidas, NÃO TÊM VOLUME para causar qualquer impacto no emprego e na demanda e os BANCOS não vão irrigar a economia produtiva com empréstimos a juros baixos, e nem esse é um caminho lógico: só se toma empréstimos quando há perspectiva de crescimento, algo que começa na DEMANDA e não no investimento.
Todo um conjunto de ILUSÕES sem amparo na lógica, na história econômica, na história do pensamento econômico, vai empurrando a recessão com a barriga e com um discurso de auto engano, prometendo quimeras e micro feitos que nem sequer tocam no CERNE da recessão, que é falta de capacidade monetária para comprar produtos e serviços, devido a uma política econômica RECESSIVA, que tem como alvo provocar recessão para atingir metas de inflação não importa a que custo, o grande objetivo é proteger os ativos em Reais dos bancos, fundos de investimentos e dos especuladores de Nova York que precisam de inflação baixa e consequente dólar barato para retornar seu capital e ganhos no período.
A atual política econômica brasileira interessa ao mercado financeiro internacional e não interessa ao povo brasileiro, não é uma política NACIONAL em função do Brasil. - (Fonte: AQUI).
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Em passado não distante, os bancos públicos passaram à primeira posição em ativos operacionais no cenário nacional. O Banco do Brasil, campeão em aplicações entre todos os bancos atuantes no País, 'comandante' do agronegócio (e do PRONAF) e do varejo, liderava os demais agentes públicos no apoio a pessoas físicas e jurídicas. O BNDES, verdadeira agência de fomento, atuava em fronts estratégicos para o País. A CEF se esmerava em obras de infraestrutura, com destaque para a construção civil e em particular o Minha Casa Minha Vida. A banca privada, por sua vez, se mantinha pujante, mas sempre mirando seu filão histórico, os empréstimos varejo/produtos pessoa física, e tendo como norte o pré requisito da tendência positiva do mercado: há risco e incerteza quanto ao futuro? Bota o pé no freio, tira o corpo fora!
Nos tempos atuais, enquanto a banca privada se mantém 'na dela', os bancos públicos estão sendo esvaziados - e a Selic, a taxa básica de juros de longo prazo, uma das âncoras do crédito, pode ser elevada a qualquer instante, comprometendo as possibilidades de financiamentos/investimentos de prazos alongados.
A pergunta é: como sair da recessão sem demanda e sem crédito?
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Em passado não distante, os bancos públicos passaram à primeira posição em ativos operacionais no cenário nacional. O Banco do Brasil, campeão em aplicações entre todos os bancos atuantes no País, 'comandante' do agronegócio (e do PRONAF) e do varejo, liderava os demais agentes públicos no apoio a pessoas físicas e jurídicas. O BNDES, verdadeira agência de fomento, atuava em fronts estratégicos para o País. A CEF se esmerava em obras de infraestrutura, com destaque para a construção civil e em particular o Minha Casa Minha Vida. A banca privada, por sua vez, se mantinha pujante, mas sempre mirando seu filão histórico, os empréstimos varejo/produtos pessoa física, e tendo como norte o pré requisito da tendência positiva do mercado: há risco e incerteza quanto ao futuro? Bota o pé no freio, tira o corpo fora!
Nos tempos atuais, enquanto a banca privada se mantém 'na dela', os bancos públicos estão sendo esvaziados - e a Selic, a taxa básica de juros de longo prazo, uma das âncoras do crédito, pode ser elevada a qualquer instante, comprometendo as possibilidades de financiamentos/investimentos de prazos alongados.
A pergunta é: como sair da recessão sem demanda e sem crédito?
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