quarta-feira, 29 de março de 2017

IL GATTOPARDO


"Giuseppe Tomasi di Lampedusa foi um escritor italiano cuja principal obra foi o romance Il Gattopardo, no qual, para enfrentar as transformações da Renascença, mudava-se para tudo continuar na mesma. É o sentido da proposta de lei contra abusos apresentada por Giuseppe Janot di Lampedusa, Il Gattopardo.
Janot foi convidado reiteradas vezes para participar das discussões do projeto de lei do senador Roberto Requião. Recusou. Apresentou sua proposta, que identifica a mesma gama de abusos incluída na proposta Requião. Mas com uma diferença. Os abusos podem ser tolerados se justificados. E as justificativas dos juízes não podem ser questionadas, pois fazem parte da autonomia do cargo, necessária para garantir a independência do julgamento.
Mais ou menos assim.
1. Fulano é primo do cunhado da tia do suspeito.
2. Como tal há suspeitas de que na qualidade de primo da cunhada da tia do suspeito, ele possa ter servido de laranja para uma operação investigada.
3. Para evitar desvio de indícios de provas, que não sabemos quais são, nem onde estão, autorizo a invasão de sua casa e sua condução coercitiva, algemado, na frente dos filhos.
Ou, exagerando:
1. Fulano é apreciador dos sambas de Assis Valente.
2. O réu abriu uma conta-fantasma de nome "Camisa Amarela".
3. Logo, há indícios de ligação entre o admirador de Assis Valente e a conta-fantasma.
Pronto: justificou!
Qualquer abuso é justificável, mesmo pela fundamentação mais furada, porque não cabe a discussão dos argumentos que o juiz empregou para justificar as arbitrariedades cometidas. E, como se sabe, à noite todos os gatos são pardos."





(De Luis Nassif, post intitulado "Janot, o Gattopardo do Ministério Público Federal", publicado no Jornal GGN - aqui.

Um aspecto curioso em praticamente todas as abordagens dos noticiários do establisment sobre abusos de autoridade é o silêncio relativamente à palavra CONSTITUIÇÃO. Os noticiosos em geral, ao informar sobre, p. ex., eventual crítica a propostas atinentes a medidas míopes de combate à corrupção ou a flagrantes excessos da Lava Jato - bem como a propostas parlamentares que contrariem o "ordem das coisas" - 'acusam' desde logo o autor da crítica de pretender cercear a ação do Judiciário e demais atores. Alusão à Constituição Federal, com destaque para o fato de que normas nela expressas são desrespeitadas? Nem pensar. 

Enquanto isso, o guardião...).

....
Em tempo: 
Dica de leitura: "Gaspari vence o troféu 'equilibrista do ano'", também de Luis Nassif - aqui.

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