terça-feira, 5 de abril de 2016
ECOS DO PANAMA PAPERS
A sujeira da lista da Mossack Fonseca
Por Jeferson Miola
A Mossack Fonseca [MF] é uma empresa de gestão financeira com sede no Panamá, um paraíso fiscal por onde circulam trilhões de dólares oriundos do narcotráfico, da corrupção, do comércio de armas, da lavagem de dinheiro e, também, de dinheiro limpo em busca do discutível privilégio da isenção fiscal – daí a expressão “paraíso”.
A MF criou ou vendeu offshore´s [contas bancárias ou empresas instaladas em paraísos fiscais] a vários políticos, banqueiros, agentes públicos e empresários brasileiros – tanto em operações legais [a chamada “sonegação legal” (sic) de impostos aceita pela lei brasileira, desde que declarada no imposto de renda (IR)]; como em operações irregulares, que envolve dinheiro de origem duvidosa.
A divulgação da lista dos clientes brasileiros da MF causa suspense e curiosidade em relação aos nomes ainda não revelados. Considerando os nomes revelados, se pode deduzir que a mídia golpista e a força-tarefa da Lava-Jato terão reduzido empenho em investigar:
- a lista tem políticos e familiares de políticos do PMDB, PSDB, PTB, PDT, PP, PSD e PSB, e nenhum do PT. Com isso, cai a probabilidade de escandalização midiática do assunto pela Globo, RBS, IstoÉ, Veja, Época, Folha, Estadão, Gilmar, Moro e Polícia Federal; e cresce a probabilidade de que o assunto seja abafado;
- fosse Ricardo Lewandowski, Teori Zavascki, Luís Roberto Barroso ou Marco Aurélio Mello o dono de conta em paraíso fiscal – mesmo que declarada no IR –, e não o juiz precocemente aposentado do STF Joaquim Barbosa, a mídia já teria feito o maior escarcéu;
- está na lista o filho do presidente da Fiesp, que explicou que a offshore está declarada no IR. A Fiesp, presidida por Paulo Skaf [colega de PMDB de Michel Temer e sócio no golpe], financia os movimentos golpistas que desestabilizam o Brasil e lidera a campanha de redução de impostos que tem como símbolo um pato – quanta ironia!; (...).
- não consta da lista a offshore Vaincre LLC. Segundo noticiário de fevereiro passado, a Vaincre LLC foi usada como fachada para a construção duma mansão paradisíaca em área de proteção ambiental em Paraty/Rio. Ainda de acordo com notícias da época, a mansão pertenceria à família Roberto Marinho, dona da Rede Globo – fato que a família Marinho desmentiu, porém não esclareceu se usa ou se frequenta tal mansão. Equipes do jornalismo da própria Globo poderiam sobrevoar a mansão com helicóptero [evitando usar o helicóptero do Senador Perrella, amigo do Aécio] para investigar se existem barcos de lata, pedalinhos e pertences dos Marinho na área da mansão;
- do PSDB, como sempre, curiosamente só aparece político morto – Sérgio Guerra, o ex-presidente nacional do partido. Os políticos vivos – e bem vivinhos –, como o Aécio Neves, não está na lista agora divulgada, talvez porque a conta secreta da família dele está em outro paraíso fiscal – de Lienchtenstein – esta sim sem ser declarada no IR até ser descoberta. As notícias não dizem ao certo se ele é o titular ou o controlador desta conta secreta em Lienchtenstein, mas o fato é que a Procuradoria Geral da República, conduzida pelo implacável Rodrigo Janot, quando recebeu a denúncia da conta decidiu pelo arquivamento, e não investigou, como seria esperado. A vida oferece agora uma nova oportunidade para Janot, Moro e a PF investigarem o Aécio, e então desmentirem o que até as pedras suspeitam: que a Lava-Jato foi instrumentalizada e partidarizada para aniquilar Lula e o PT;
- nenhuma surpresa a reação de Eduardo Cunha, que como Aécio e Temer costuma freqüentar várias listas, e que, incrivelmente, apesar disso, se mantém no leme do golpe contra a Presidente Dilma: “desmente, com veemência, estas informações ... e desafia qualquer um a provar que tem relação com companhia offshore”. No dicionário Eduardo Cunha de delinquência, o vocábulo adequado seria usufrutuário de conta secreta, e não o de dono [sic].
Como não tem ninguém do PT na lista de contas secretas da Mossack Fonseca, é bem provável que o assunto apague como uma vela. Ou, mesmo não estando na lista, o PT poderá se tornar o alvo prioritário das investigações. Afinal, o plano é aniquilar o PT: olha o PT, mata o PT! (Fonte: aqui).
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Enquanto o PanamaLeaks (ou Panama Papers) se converte em 'must' mundial, pondo, por exemplo, a Europa em estado de ebulição, tal a amplitude de contas e titulares (o principal dirigente da Islândia e muitos outros - até o pai do primeiro-ministro inglês!), o Jornal Nacional como que o desprezou: não o incluiu nas manchetes iniciais e a ele dedicou alguns parcos segundos. Por que será que isso aconteceu?
Ah, a foto acima estampa o presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, que ostenta alentado histórico de jogadas no âmbito da Mossack Fonseca (AQUI), entre as quais uma iniciativa comovente: presenteou as duas filhas com 15% (cada uma) dos lucros de uma fundação lá contabilizada, cabendo a um filho de SEIS ANOS de idade figurar como beneficiário de fatia de 20%. Amor paterno é isso aí.
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