sábado, 16 de abril de 2016

O IMPEACHMENT E O PERFIL DE ABRIL


Impeachment: Sincromisticismo, Efeito Copycat e Parapolítica

Por Wilson Ferreira

Em uma sociedade tão midiatizada como a atual, os fatos não podem apenas acontecer: precisam ser emblemáticos, icônicos, simbólicos para ganharem notoriedade no contínuo midiático e se transformarem, de fato, em notícia e, quem sabe, em História.

A esses fatos que disputam a atenção das mídias para poder existir, alguns pesquisadores chamaram de “pseudo-eventos” (Daniel Boorstin), “eventos-encenação” (Umberto Eco) ou “não-acontecimentos” (Jean Baudrillard). Em comum nesses conceitos está a natureza de acontecimentos vazios porque perderam a espontaneidade – são planejados para o timing midiático, incitados para facilitarem a logística de cobertura e plantados nas reuniões de pautas das redações.

Não é novidade para ninguém que, desde o escândalo do Mensalão, o seu julgamento no STF e, finalmente, o rali da Operação Lava Jato, os acontecimentos foram roteirizados de acordo com o tempo da cobertura midiática: prisões sendo executadas em feriado prolongado, vazamentos e delações às vésperas de finais de semana para as revistas semanais repercutirem etc.

Mas há uma novidade com a aproximação dos capítulos finais (o desfecho do impeachment da presidenta Dilma) de um processo iniciado há 10 anos, desde que o deputado Roberto Jefferson denunciou, indiciado na CPI dos Correios, a existência de um “mensalão do Lula” no Congresso.

Boorstin, Eco e Baudrillard: pseudo-eventos, eventos-encenação e não-acontecimentos

Com a divulgação de que a votação do impeachment estaria planejada para o período entre os dias 11 e 21 de abril (com direito a extensa transmissão ao vivo no domingo, dia 17, antecipando datas de jogos dos campeonatos regionais de futebol), o evento começa a ficar cercado de coincidências e sincronismos envolvendo as datas e o próprio significado histórico do mês, abril.

Parece que, além de alinhar as etapas finais do processo de impeachment ao timing midiático, o evento (ou “evento-encenação”, “pseudo-evento” etc.) pretende criar também conexões significativas para torná-lo simbólico e emblemático. Fazer o impeachment ter uma força para além de naturalmente midiática (para pressionar os deputados indecisos e criar o efeito manada do já ganhou): uma força simbólica e oculta a partir de conexões no campo do sincromisticismo no oceano de pensamentos. Campo onde, em determinadas condições, eventos sedimentam-se em egrégoras e arquétipos capazes de produzir “conexões significativas” que dão a acontecimentos políticos e sociais a força de repercussão dentro da psicologia de massas.

Vamos entrar no controvertido campo da chamada hipótese sincromística e do também chamado “efeito copycat”, efeito de imitação produzido pela onipresença midiática.

A hipótese sincromística


Loren Coleman é um dos mais reconhecidos pesquisadores sobre a hipótese sincromística. Sociólogo e psicólogo, Coleman busca no seu blog Twilight Language “conexões significativas” entre eventos aparentemente aleatórios. Ele procura significados ocultos em “coincidências”, onomatologia (estudo dos nomes) e toponímia (estudo dos nomes dos lugares).

Explicando melhor: busca padrões e coincidências significativas que envolvam nomes, lugares, datas, comportamentos etc.


Coleman vem alertando para o “perigo da zona vermelha do mês de abril”. Para ele, o quarto mês do ano tornou-se um campo minado de rememorações de aniversários e lembranças de eventos trágicos que acabam inspirando indivíduos violentos, homicidas e suicidas facilmente vulneráveis a influências de efemérides ou datas, muitas vezes relembrados pela própria mídia.

Datas podem ser causas extremamente ocultas no desenrolar de incidentes, mas podem se tornar estímulos para mais eventos como “efeitos copycat” de imitação – em busca da notoriedade de seus atos, atores sociais desde loucos e homicidas até manipuladores políticos podem secretamente inscrever suas ações nesse “oceano de pensamentos” que busquem energia nessas egrégoras ou arquétipos em um Plano Astral.

Como no mundo real são fatos vazios (não-acontecimentos) porque destinados à difusão imediata pelas mídias pela busca de notoriedade ou impacto, precisam injetar neles essa energia sincromística presente em datas ou períodos do ano. E o mês de abril é um período fértil, onde desde já as últimas semanas vem apresentando estranhas “coincidências”

As “coincidências” de Abril


(a) Dia 17 de abril, data marcada para a votação do impeachment na plenária da Câmara dos Deputados, é marcado pela trágica lembrança do massacre de Eldorado dos Carajás onde 19 sem-terra foram massacrados pela Polícia Militar do Estado do Pará.

No último dia 7 deste mês, dois sem-terra morreram em confronto do MST com policiais em um acampamento no Norte do Paraná.

Convém lembrar que o possível impeachment da presidenta poderá mergulhar o País na violência com o levante de protestos por movimentos sociais – de qualquer maneira, seria uma situação desejável para a geopolítica internacional do petróleo onde os EUA veriam mais um membro dos BRICS mergulhar no caos econômico e político. Estaríamos diante de uma “coincidência significativa”?

(b) A data de 17 de abril também é marcada pela infame e famosa Invasão da Baia dos Porcos, quando um grupo de exilados cubanos financiados e treinados pela CIA tentou derrubar o governo de Fidel Castro em 1961. Mais uma coincidência significativa sobre a importância dos últimos acontecimentos para a geopolítica?


(c) O dia de 21 de abril é colocado como data limite para o rito do impeachment. Mais uma data significativa para a história brasileira – é a data do enforcamento do líder dos inconfidentes mineiros Tiradentes no Brasil Colonial. E também data da morte do presidente eleito indiretamente Tancredo Neves, avô do atual senador Aécio Neves, candidato derrotado pela atual presidenta e um dos articuladores políticos do impeachment.

Também convém lembrar que o domingo do dia 21 de abril de 1985, data da morte de Tancredo Neves, foi uma data controversa para muitos naquele momento. Era um domingo de extensa cobertura ao vivo do Instituto do Coração de São Paulo. Convenientemente, o anúncio da morte foi em pleno horário nobre do programa Fantástico da TV Globo (22h23). O Timing e conveniência fizeram muitos analistas desconfiarem de que o presidente já estava morto há dias, esperando a data significativa de 21 de abril para anunciar o falecimento e torná-lo um evento emblemático e histórico em pleno horário nobre televisivo.

Da mesma forma como o presidente da Câmara Eduardo Cunha conseguiu antecipar a votação para o dia 17, um domingo, quando provavelmente também o desfecho das votações será no horário nobre do Fantástico da Globo – a emissora mais interessada na queda de Dilma por motivos principalmente comerciais ao ver a chegada do Google e Facebook ameaçar a mudança do perfil publicitário que tanto a favorece – sobre isso clique aqui.

(d) Dentro desse período determinado para a votação do impeachment (11 a 21 de abril) está uma sombria data que, para Loren Coleman, inspira muitos homicidas e loucos a cometerem atentados: o aniversário de Hitler no dia 20 de abril. Sincronismo perturbador, sabendo-se que na verdadeira caixa de pandora que a oposição parlamentar abriu para angariar militantes pró-impeachment, entre eles estão neo-nazis e carecas vistos nas manifestações empunhando socos ingleses com bandeiras de São Paulo ou com dizeres “Fora Dilma”, “Hate” (Ódio) ou “Proud” (Orgulho) urrando dizeres como “Comunistaaaaa! Vai pra Cubaaaaa!”.


Isso sem falar em um grupo do Movimento Brasil Livre em protesto anti-Dilma em Santa Catarina fazendo saudação nazi com a indefectível camisa da CBF.

E também lembrar que ratos foram soltos durante a CPI da Petrobrás no Congresso quando o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, entrou no plenário para prestar depoimento no dia 09 de abril. O responsável foi um servidor do vice-presidente da Câmara que também trabalhou como secretario parlamentar do Paulinho da Força. Essa tática de terror era comum entre os militantes nazistas na década de 1930 – por exemplo, na estreia do filme Nada de Novo no Front (1930, filme considerado “judeu-americano”), nazis jogaram também ratos na plateia do cinema.

(e) Massacre da Escola Columbine nos EUA (morte de 13 pessoas) em 1999 e na Johan Fuster School nas proximidades de Barcelona em 2015 (uma professora morta e quatro feridos) também no dia 20.

Para Loren Coleman, são típicos exemplos do efeito copycat de imitação pela data do aniversário de Hitler, o que torna o mês de abril perigoso (“alerta vermelho”) ao inspirar outros incidentes: o atentado a bomba na Maratona de Boston em 2013 (sobre a característica sincromística do atentado clique aqui), o massacre de Virginia Tech em 2007 onde um atirador matou 33 pessoas, o atentado a um desfile da família real da Holanda em 2009 quando um motorista avançou contra o público matando oito pessoas – mais um efeito copycat: o motorista tinha a cabeça raspada no estilo do anti-herói homicida feito por Robert De Niro em Taxi Driver(1976).

(f) E o que torna o impeachment mais emblemático é que 1 de abril culminou com os fatos que levaram ao Golpe Militar em 1964 e a deposição do presidente eleito João Goulart.


Efeito Copycat e Parapolítica


Todas essas “coincidências” que envolvem o mês de abril e o período de votação do impeachment seriam importantes dentro do Sincromisticismo, principalmente porque o evento foi deliberadamente organizado para favorecer uma extensa cobertura midiática tentar torná-lo emblemático, simbólico e histórico.

Por que a “escolha” do mês de abril para o desenlace de uma crise política que se arrasta há 10 anos? Seguindo os pressupostos do Sincromisticismo podemos formular duas hipóteses:

(1) Efeito Copycat 

O impeachment no mês de abril seria ideal  pela força simbólica e notoriedade histórica que a imitação traz. No final, é essa notoriedade que homicidas e terroristas buscam ao aproximar seus atos a datas que foram marcadas por fatos históricos. Em suas mentes ao mesmo tempo calculistas e delirantes pretendem tomar emprestado pelo menos um quinhão desses simbolismos para que seus atos conquistem um importante espaço no continuo midiático.

(2) Hipótese esotérica ou Parapolítica 

O Sincromisticismo parte de um princípio Teosófico ou esotérico: o tecido da realidade seria formado por uma trama de acontecimentos que se conectam no tempo e espaço, criando um “oceano de pensamentos” onde em dadas circunstâncias sedimentam-se em egrégoras e arquétipos, criando “formas-pensamento”. Essas conexões criarão “coincidências significativas” que darão energia psíquica a novos acontecimentos que por sua vez produzirão cadeias de eventos que reforçarão esses verdadeiros “nós” pré-existentes no Plano Astral da humanidade, marcando com força simbólica certos dias ou meses do ano. Portanto nessa hipótese esotérica, a força política do evento do impeachment é retirada do plano das formas-pensamento.

O que significa que certos políticos são mais do que operadores e negociadores de questões terrenas. Seriam como magos negros capazes de intuitivamente direcionar eventos políticos ao encontro desses “nós” no tecido da realidade.  Daí, sairíamos da Ciência Política para entrarmos no campo da Parapolítica. (AQUI).

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Misticismos à parte, o caso é elementar: é equivocado julgar que o golpe tem um alvo: o poder pelo poder. Ou que o golpe visa a entregar o pré-sal a interesses externos. Ou que o golpe pretende desmantelar os direitos e conquistas trabalhistas. Ou que simplesmente tem os programas sociais na alça de mira. Ou que o golpe pleiteia oferecer apoio generoso a tubarões consagrados da mídia e seus parceiros. 

Sim, sim, é equivocado aludir a cada um dos itens citados, isoladamente. Porque o verdadeiro propósito do golpe é a totalidade dos referidos itens - coroados pela IMPUNIDADE ampla, geral e irrestrita, em vista do providencial ostracismo com que a Lava Jato e seus 'empenhados' agentes passarão a ser contemplados. 

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