Enquanto o país pega fogo, o STF delibera sobre pipoca no cinema
Por Paulo Nogueira
As redes sociais repercutiram intensamente nesta quarta a agenda do STF.
A posteridade terá dificuldade em entender. É o triunfo da insanidade.
Nestes dias dramáticos em que uma jovem democracia enfrenta a iminência de um golpe nascido da vingança de um psicopata metido em múltiplas roubalheiras, o STF deliberou sobre se as pessoas podem entrar com pipoca no cinema.
Também a questão da meia entrada foi discutida.
De novo: não é piada.
Faz mais de quatro meses que o procurador Janot pediu ao STF o afastamento de Eduardo Cunha. Faz ainda mais tempo que as autoridades suíças entregaram, de bandeja, provas de contas secretas de Cunha na Suíça.
Tais contas significavam não apenas corrupção extrema. Mostravam, além disso, que Cunha mentira sob juramento no Congresso ao dizer que não tinha contas no exterior.
Em tais circunstâncias, o bom senso – para não falar a decência – impunha que o STF julgasse em caráter de urgência o caso Cunha.
Mas nada.
Os eminentes jurados estão ocupando seu tempo com a pipoca no cinema.
É um escárnio para o Brasil. Uma bofetada. Melhor: uma cusparada.
Eduardo Cunha teve tempo, graças ao STF, de fazer todas as coisas típicas de seu arsenal de manobras sujas. Acelerou o processo de impeachment na mesma medida em que retardou as ações da Comissão de Ética da Câmara que deve – ou deveria — julgá-lo.
O pior é que nem Dilma e nem Lula têm como se queixar do STF. Em conjunto, indicaram oito dos onze integrantes da corte que está aí abusando da paciência dos brasileiros.
Não está nesta conta, evidentemente, Joaquim Barbosa, indicado por Lula e hoje vivendo de palestras. JB, que foi um monstro da plutocracia no Mensalão, hoje é ignorado pela mídia, porque anda falando coisas que nenhum jornal ou revista quer publicar. Ele fez severos alertas, no Twitter, em relação ao impeachment, por exemplo.
Outro dos nomeados por Lula, Toffoli, hoje um militante togado da direita, disse há alguns dias que falar em golpe é ofender as instituições brasileiras.
Falei já disso. Toffoli mereceu uma esplêndida resposta de Marcelo Rubens Paiva. Nossas instituições, disse MRP, são uma merda.
Elas se autodesmoralizam sem que ninguém tenha o trabalho de ofendê-las.
O STF, por exemplo. Ao darem prioridade a pipocas no cinema em detrimento de Eduardo Cunha, o que os senhores ministros esperam? Receber aplausos, juras de amor e reverência? Pedidos de autógrafos e de selfies na saída das sessões?
Se tivéssemos instituições respeitáveis não estaríamos na iminência de ver um partido degradante como o PMDB na beira de tomar o poder depois de uma cruzada descarada da plutocracia em nome do “combate à corrupção”.
E nem teríamos que suportar as pipocas aparecerem no topo da agenda do STF.
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(Fonte: Diário do Centro do Mundo - aqui).
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Em tempo: o ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, anunciou nesta data - aqui - que levará ao plenário da Corte o afastamento do deputado Eduardo Cunha. Cumpre uma vez mais lembrar que:
a) o pedido de afastamento foi apresentado ao STF no final do ano passado, pelo Procurador-geral da República;
b) Eduardo Cunha, como todos testemunham, concluiu com elevada eficiência e eficácia a 'missão' que lhe foi confiada e espera ter o seu empenho reconhecido, o que, aliás, já vem acontecendo no âmbito do conselho de ética.
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