segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

ESPANTOSO UNIVERSO


Pálido de espanto

Por José Inácio Werneck


Há algum tempo conversei com um amigo, que me disse ser ateu. Não acredita em Deus e ponto final.

- E você? Você acredita em Deus? - perguntou-me, com um ar de quem suspeitava que eu fosse um papa-missas.

Quisera eu que minha resposta pudesse ser simples. Não creio no Deus que conhecemos apenas de ler a Bíblia, no Deus que disse “faça-se a luz”, que criou Adão e de sua costela tirou Eva.

Surpreendo-me mesmo que, nos dias atuais, possa haver fundamentalistas, de qualquer religião, que confiam cegamente no que foi escrito ou transmitido por tradição oral, por homens que um dia supuseram que ouviram ou viram um Deus que lhes falava de dentro de uma moita em chamas ou lhes entregava mandamentos no topo de uma montanha.

Tais convicções infelizmente tem trazido imensa miséria à humanidade, dividida por ódios inconciliáveis em nome de um Deus que supostamente seria a fonte de toda a bondade e sabedoria.

Mas acho simples demais acreditar que existe apenas o mundo natural, aquele que vemos diante de nossos olhos. Pois afinal - e aqui parafraseio uma passagem do apóstolo Paulo na Epístola aos Coríntios - vemos indistintamente, diante de uma vasteza que nossa visão não alcança.

O que vemos do Universo é apenas uma ínfima parcela. Mas dia a dia aprendemos mais coisas, descortinamos mais coisas. Um dia talvez cheguemos à compreensão total.

O homem percebe o Universo através de quatro dimensões - a altura, a largura, a profundidade e o tempo - mas as teorias científicas nos falam de outras dimensões que não distinguimos, embora existam.

Sabemos que o Universo surgiu há 13,75 bilhões de anos, a partir de um ponto inacreditavelmente pequeno que os astrônomos chamam uma “singularidade”, mas não sabemos o que havia no momento do Big Bang, nem o que havia antes do Big Bang.

A imensidão que nos rodeia está repleta de fascinantes fenômenos, de buracos negros, pontos dos quais nem a luz pode escapar, que conteriam “buracos de traça”, passagens que nos transportariam a pontos diferentes dentro de nosso Universo ou de um universo a outro. Um universo ou universos que poderiam existir paralelamente ao nosso, embora não os vejamos.

Os “buracos de traça” ligam dois pontos no “tempo-espaço”, o que significa que em princípio podem permitir tanto a viagem através do espaço quanto através do tempo.

Uma das teses mais exóticas, deduzível da Teoria da Relatividade, de Einstein, é que nosso Universo seria o interior de um buraco negro existente dentro de um outro Universo.

Além do que vemos e percebemos, há um amplo terreno para a imaginação.

Talvez ninguém tenha dito melhor do que Shakespeare, no século XVII: “Há mais coisas no Céu e na Terra, Horácio, do que sonha a vossa filosofia”.

Só em nosso galáxia, a Via Láctea, haveria pelo menos 17 bilhões de planetas parecidos com a Terra.
Estamos falando em uma Galáxia dentro das infindáveis galáxias que existem, dentro de um Universo cujos limites não conhecemos e que pode estar no meio de muitos outros.

É candura extrema acreditar nos textos religiosos ao pé da letra, mas é muita falta de curiosidade afirmar que existe apenas a matéria que vemos e sentimos diante de nós.

Não sou papa-missas, mas, como o poeta que ouvia estrelas, sou pálido de espanto.

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Werneck alude a "buracos de traça", que ligam dois pontos no "tempo-espaço". Há uns bons anos li sobre o fenômeno, mas com outra denominação: "buracos de minhoca".

Quanto à milenar questão da crença/descrença num ser supremo, ante um universo que, como disse Haldane, não é apenas mais estranho do que imaginamos, é mais estranho do que podemos imaginar, transcrevo anotação contida em meu implacável caderno: indagado sobre se acredita em Deus, o competente neurocirurgião Paulo Niemeyer Filho respondeu: "Geralmente depois de dez horas de cirurgia, aquele estresse, aquela adrenalina toda, quando acabamos de operar, vai-se até a família e se diz: 'Ele está salvo'. Aí, a família olha pra você e diz: 'Graças a Deus!'. Então a gente acredita que não fomos apenas nós."

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