A Mona Lisa original, do Louvre, França, e a cópia encontrada no Museu do Prado, em Madri, Espanha
A inesperada sósia
Alcione Araújo
Enquete internacional indagou qual era o quadro mais conhecido do mundo. Afora os não sei, 85,8% disseram: a Mona Lisa; 3,6% citaram Girassóis, de Van Gogh, 2,1% a Primavera, de Botticelli, e 2,0%, O grito, de Munch. Daí, os 6 milhões de pessoas que todo ano se acotovelam na sua sala exclusiva e, em grupos de 50, desfilam diante do quadro, metido num nicho de vidros à prova de bala. Entre as 6 mil obras do Louvre, nenhuma outra é objeto de tal interesse, nem cinco outras do mesmo Da Vinci, na galeria vizinha, ao lado de Rafael, Fra Angelico e Caravaggio. Nem mesmo as suntuosas esculturas gregas Vênus de Milo e a Vitória de Samotrácia. Poucos sabem por que querem ver Mona Lisa: seria emoção estética, curiosidade turística, usufruir um objeto de consumo, ou por ser uma celebridade, a mais famosa obra de arte de mundo?
O óleo sobre madeira de ébano, com apenas 77cm x 53cm, mostra uma jovem sentada, mão direita sobre o pulso da esquerda, apoiada no braço da cadeira. Rosto pálido virado para nós, olhos castanhos miram à direita. A sobrancelha rala amplia a testa. Cabelos nos ombros, cobertos por véu translúcido, vestido escuro. Sobre o ombro esquerdo, manta pregueada. E atrás dela, a estranha paisagem: montanhas, vales, rio, ponte, trilha sinuosa, aridez e desolação.
Mas o decote deixa o alto dos seios à vista. E ela sorri. O diabólico sorriso!
O sorriso sereno e irônico a torna superior a nós. Ele nos controla e domina. Nos observa mais do que a observamos e dá a impressão de nos seguir. Eis o enigma que está sempre presente numa obra de arte. Pelo gosto atual, aquela mulher anônima, recatada e sóbria, não é bonita, nem sexy. É quase triste, o que desaponta e frustra a muitos dos que se acotovelam para vê-la. Não é uma santa ou mártir, não tem história, drama ou tragédia, violência nem sangue, é apenas uma mulher, talvez sorrindo. Cabe indagar: “Por que ela?”
O sucesso de uma obra não depende apenas, nem principalmente, da obra em si, mas de complexa rede de eventos e circunstâncias, econômicas, políticas, ideológicas, tecnológicas etc. Tudo colaborou para Mona Lisa se tornar o mais famoso quadro do mundo – se merece ou não, é outra coisa; não há justiça em arte. Os meios de comunicação, a publicidade e até artistas usaram a Mona Lisa como nenhuma outra obra; divulgaram, massificaram e vulgarizaram.
Há dias, o Museu do Prado achou nos seus porões a cópia da Mona Lisa, feita por um aluno-assistente, ao mesmo tempo que Da Vinci, e no seu ateliê. Com igual paisagem ao fundo, é a mesma mulher, a mesma pose e sorriso. Porém, mais jovem, mais iluminada, e as mesmas roupas mais claras. Em prancha de nogueira, em vez de ébano, 1cm menor, e 4cm mais estreita que a do mestre.
Salai, o mais destacado assistente de Da Vinci, ajudou-o em várias obras. O mestre o acusava de ladrão e mentiroso, mas Salai foi o companheiro até sua morte, além de herdeiro. Não será surpresa se Salai for o autor da sósia. E nos consolaremos com duas Mona Lisa. Mas vamos recuperar a emoção de vê-las? Fonte: ConteúdoLivre).
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A mesma paisagem, a mesma mulher, só que mais jovem e iluminada... Certo, certo, é cópia total, mas há que se levar em conta uma atenuante: o copiador caprichou, esmerou-se, e acabou por prestar uma singela homenagem ao autor e a Gioconda.
quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012
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