domingo, 12 de fevereiro de 2012

JORNAL MOVIMENTO


A saga do jornal Movimento

Por Walter Sorrentino

Jornal Movimento, uma reportagem. De Carlos Azevedo, com reportagens de Marina Amaral e Natalia Viana. Considero este um dos melhores livros de 2011 para os que acompanham a experiência de lutas democráticas dos brasileiros.

O semanário Movimento, da imprensa democrática – embora não livre porque exposta a feroz censura –, foi uma experiência sublime do movimento do povo brasileiro por liberdades, democracia e contra o regime militar.
Foi uma saga, difícil, conflituosa e contraditória, mas que jogou papel de enorme valor e logrou manter por anos seguidos um papel que marca até hoje toda uma geração de brasileiros. Eles estão na estrada até hoje, em diferentes papeis, mas marcados para sempre por aquela experiência dirigida por Raimundo Pereira.

Essa história forneceu lições de unidade e luta no seio de vasto conjunto de forças políticas que se articulavam em torno ou dispunham do papel do semanário. Junto com sua extinção essas forças se reorganizaram profundamente, já no alvorecer da liberdade de organização dos partidos políticos. Mas o mundo da imprensa nunca mais foi o mesmo: entre os colaboradores de Movimento estavam os melhores jornalistas do país, cujo papel permanece, com diferentes enfoques, até hoje.

Contar a experiência e refletir sobre ela de modo sistemático e profundo também seria obra difícil. Pois é o que alcançou Carlos Azevedo, um dos melhores repórteres do país, junto com Marina Amaral e Natalia Viana. A essência dos dilemas, o curso tortuoso dos eventos, as difíceis negociações entre forças diferenciadas que atuavam no jornal são retratados com clareza e objetividade, inclusive o tema aparentemente árido, mas fundamental, de como sustentar financeiramente a empresa.

Carlos Azevedo, com sua pena leve e gostosa, enfrenta tudo isso e nos brinda com um livro indispensável para a esquerda lembrar e reter como lições de generosidade, unidade na diversidade, jornalismo sério e competente, espírito democrático e irredento.

Mais ainda: o livro é acompanhado por um DVD com as 334 edições do jornal, um primor em termos de informação sistemática.

Participei de algum modo dessa experiência, durante toda sua duração. Admiro muito Azevedo, grande amigo, do qual só recentemente vim a saber que o trabalho que realizava captando informações da Rádio Tirana para a edição clandestina de A Classe Operária – órgão central do PCdoB – era o que me chegava para transformá-las em impressos distribuídos clandestinamente e, assim, reorganizar a direção partidária após a Chacina da Lapa. Era uma amizade virtual, antes mesmo de nos conhecermos.

Pedi a Azevedo um depoimento sobre a experiência de elaborar o livro. Ele brindou o blog com uma coisa muito rica e significativa, que partilho com todos.

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Para ler o depoimento do Azevedo, clique aqui.

O semanário Movimento foi velho parceiro de análises sociais e políticas nos anos de chumbo. Exemplo de pertinácia, resistência e senso crítico.

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