sábado, 31 de dezembro de 2011
sexta-feira, 30 de dezembro de 2011
A BOSSA DE FÁTIMA CASTELO BRANCO
Em novembro estivemos no Bossa Nova bar, para o show de lançamento do novo cd de Fátima Castelo Branco, compositora e cantora piauiense, onde fomos brindados com bela performance de Fátima, além do auxílio luxuoso de Dandinha, Moisés Chaves, Geraldo Brito e Rosinha Amorim. Uma beleza.
Informe-se mais - e curta algumas músicas - aqui.
O BRASIL COM A PRÓPRIA CABEÇA
"O Brasil ainda tem uma mentalidade colonial, valorizamos aquilo que é do exterior, do Primeiro Mundo. Nós não pensamos com a nossa cabeça, importamos as coisas etc. e particularmente as ideias. Quando o mundo entra em crise, entra em crise todo um modelo, todo um pensamento, todo um conjunto de ideias. A teoria econômica, ortodoxa, convencional, prevalecente entrou em declínio. Então, o que é preciso fazer nos momentos de crise? O Brasil precisa pensar com a própria cabeça e olhar para dentro. Aí você vai descobrir que tem potencial de crescimento, problemas que precisam ser resolvidos, e deixa de olhar para uma miragem. Aquilo em que eles acreditam e desenvolvem vale para eles, não para nós. Então você tem nesses momentos de crise internacional um momento de crise também do pensamento econômico, de um modelo econômico, da estratégia de crescimento daqueles países… Hoje ninguém está querendo copiar alguma coisa da Europa ou dos EUA, que estão em crise em termos de pensamento. Então você vai ter de pensar com a própria cabeça. Essa é a grande mudança que permitiu ao Brasil avançar. Você deixa de priorizar a globalização e passa a priorizar os problemas de interesse doméstico. E enfrentar os problemas domésticos mais para valer. Porque o dinamismo não vai mais vir de fora, tem de ser aqui de dentro. E aquelas coisas de Consenso de Washington… isso já foi lá pra baixo. Então, na verdade, essa crise está derrubando um tipo de hegemonia política e ideológica de um pensamento que existiu. Isso abre espaço para você pensar o País."
(Ioshiaki Nakano, economista, professor da Fundação Getúlio Vargas e diretor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas. Atuou na Unicamp, foi consultor do Banco Mundial e participou de equipes gestoras do estado de São Paulo. O trecho acima foi pinçado de entrevista concedida à CartaCapital. O Brasil deve procurar, mesmo, é fortalecer-se internamente, expandindo os programas sociais, o crédito, os investimentos em infraestrutura, educação, saúde etc. Felizmente estão descartadas/desmoralizadas as diretrizes do neoliberalismo, capitaneadas pelo absolutismo do chamado Livre Mercado e a obsessão do Estado Mínimo).
ANO-NOVO (II)
Por Amorim.
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Em 2011, os banqueiros do mundo consolidaram o modus operandi posto em prática a partir de 2008: invocar o argumento garantidor de gordas vantagens: a ameaça de bancarrota dos países em face do risco sistêmico, consistente em que, se os governos permitirem que um grande (ou mesmo médio) banco quebre, todo o sistema financeiro afundará. Resultado: tome dinheiro! Muito dinheiro, mesmo. E assim, vida que segue: gordos lucros garantidos, dirigentes abocanhando monumentais bônus, e tudo perfeito no melhor dos mundos.
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Charge. 2012. Banqueiros. Fim do mundo. Amorim.
quinta-feira, 29 de dezembro de 2011
OS CULTS DOS EUA
EUA protegem 25 filmes como patrimônio cultural
O Registro Nacional de Filmes dos Estados Unidos anunciou na quarta-feira 25 filmes a serem preservados como patrimônios culturais, entre os quais "Bambi" (1942) e "O Silêncio dos Inocentes" (1991).
A lista inclui também "Forrest Gump", com Tom Hanks na pele de um protagonista que permeia os principais fatos do século 20, e "Os Corruptos", filme noir dirigido por Fritz Lang, que examina a vida doméstica numa cidade fictícia na década de 1950.
A lista contempla longas-metragens, documentários e animações produzidos entre 1912 e 1994. Eles foram escolhidos entre 2.228 filmes indicados pelo público. Agora, o total de filmes protegidos pelo Registro Nacional de Filmes, ligado à Biblioteca do Congresso, chega a 575.
"Esses filmes foram selecionados devido ao seu duradouro significado para a cultura norte-americana", disse o bibliotecário-chefe James Billington em nota.
Outros filmes a serem protegidos incluem: "Faces" (1968), de John Cassavetes, "I, an Actress" (1977), de George Kuchar; "The Cry of the Children", "A Cure for Pokeritis" (ambos de 1912), e "O Garoto" (1921), primeiro longa de Charles Chaplin.
Foram incluídos também "O Preço do Desafio" (1988), de Ramón Menéndez, representando uma safra de filmes latinos na década de 1980, e "Hester Street" (1975), abordando a vida dos judeus nos
EUA.
Outros escolhidos: "Farrapo Humano" (1945), de Billy Wilder, "O Cavalo de Ferro" (1924), de John Ford, e "Norma Rae" (1979). (Fonte: Reuters).
IMPLOSÃO DA UNIÃO
Babel
Por Fernando Canzian
"Para o inglês, tudo é permitido, exceto o proibido. Para o alemão, tudo é proibido, exceto o permitido. E, para o italiano, tudo o que é proibido é permitido." Ao comentário do matemático John von Neumann (1903-57) poderíamos acrescentar que, para os franceses, o bom talvez seja o proibido e que, para os gregos, permitido e proibido são só palavras que dependem de muitas coisas.
É curioso como uma região tão pequena no mundo como a Europa concentre tal diversidade de valores e idiomas, agora amarrada na chamada União Europeia e no euro, moeda comum a 17 países. No fundo, esse é o grande drama europeu, a diferença absoluta no modo de ver as coisas entre um alemão e um italiano, um português e um finlandês.
Em tempos de Margaret Thatcher no cinema, agora parece até visionária a posição da ex-primeira-ministra britânica de manter sua ilha fora da moeda comum.
Para Thatcher, a união monetária nada mais seria do que um conglomerado de países dependentes da Alemanha. E é nisso o que a região está se transformando.
Com a ajuda da temerosa França, que lhe tira um pouco a aura de "patrão", é Berlim quem, de fato, está dando as cartas na região, impondo uma disciplina aos demais que está no DNA dos alemães.
Vai funcionar?
Os chamados eurocéticos acham que não, e não apenas porque alemães e italianos não tenham muito em comum. Isso atrapalha, mas o buraco é mais embaixo. Afinal, a região só prosperou com o euro até a crise justamente por conta de seus desequilíbrios.
Os países mais pobres e periféricos se endividaram pesadamente para comprar a produção dos mais ricos. Até que suas dívidas começaram a chamar demais a atenção, colocando alguns diante do abismo de terem de abandonar o euro. O tudo ou nada de agora deixa poucas opções às economias mais encrencadas.
Elas terão de fazer pesados ajustes, privatizações e reduzir benefícios. A queda da atividade em alguns países está só começando. Os cortes anunciados nesses dias por Itália e Espanha, onde o desemprego entre os jovens é de 29% e de 45%, respectivamente, são bem assustadores e capazes de comprometer de modo importante uma geração inteira.
É evidente que esses países exageraram. O boom imobiliário e de gastos supérfluos que se viu até 2007 em Portugal, Espanha, Grécia e Irlanda não teve precedentes. E a crise só tomou a atual proporção porque a garantia de uma moeda forte e comum numa região tão assimétrica ocultou por demasiado tempo os problemas.
O enorme ajuste que vem por aí levará tempo para ser feito e mostrar resultados. Difícil estimar se a região aguenta sem um rompimento entre seus desiguais.
Ilustração: Arend Van Dam.
quarta-feira, 28 de dezembro de 2011
OLD PHOTO
Acima, Chita entre Johnny Weissmuller, o Tarzan, e Maureen O'Sullivan, a Jane, em uma cena de 1932. Na foto, uma ausência: Boy, o garoto, interpretado por Johnny Sheffield.
Chita morreu aos 80 anos, dia 24, na Flórida. Seu tratador diz que ela (o Chito, e não a Chita, informam agora, mas eu mantenho o a Chita) estava sempre de bom humor e gostava de fazer pinturas com o dedo.
Nos anos sessenta, o Cine Roxy, em Piracuruca (PI), fervilhava ante os atos heróicos de Tarzan e as peripécias de Chita. Era o famoso "Cine Vesperal". Só que não era à tarde, mas às 18h. Frequentemente, faltava luz na cidade, para afição da gurizada; mas quase sempre tudo se iluminava às seis e pouco, produzindo aplausos entusiásticos.
Saudades do velho Cine Roxy, saudades da Chita, Boy, Tarzan e Jane.
2011: PRIMAVERA ÁRABE (II)
a tecnologia foi arma letal
a teocracia, caso impere,
será fatal
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Ilustração: David Fitzsimmons.
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Charge. 2011 primavera árabe. David Fitzsimmons.
terça-feira, 27 de dezembro de 2011
CRUÉIS ESCRIBAS
Observações nada edificantes de escritores sobre autores e/ou obras:
.Gustave Flaubert (Madame Bovary) sobre George Sand (Mattéa)
“Uma grande vaca recheada de nanquim”
.Robert Louis Stevenson (O Médico e o Monstro) sobre Walt Whitman (Leaves of Grass)
“Ele escreve como um cachorro grande e desengonçado que escapou da coleira e vaga pelas praias do mundo latindo para a lua”
.Friedrich Nietzsche (Assim Falou Zaratustra) sobre Dante Alighieri (A Divina Comédia)
“Uma hiena que escreu sua poesia em tumbas”
.Harold Bloom (A Invenção do Humano) sobre J.K. Rowling (Harry Potter)
“Como ler Harry Potter e a Pedra Filosofal? Rapidamente, para começar, e talvez também para acabar logo. Por que ler esse livro? Presumivelmente, se você não pode ser convencido a ler nenhuma outra obra, Rowling vai ter que servir.”
.Vladimir Nabokov (Lolita) sobre Fyodor Dostoievsky (Crime e Castigo)
“A falta de bom gosto do Dostoievsky, seus relatos monótonos sobre pessoas sofrendo com complexos pré-freudianos, a forma que ele tem de chafurdar nas trágicas desventuras da dignidade humana – tudo isso é muito difícil de admirar”
.Gertrude Stein (The Making of Americans) sobre Ezra Pound (Lustra)
“Um guia turístico de vila. Excelente se você fosse a vila. Mas se você não é, então não é.”
.Virginia Woolf (Passeio ao Farol) sobre Aldous Huxley (Admirável Mundo Novo)
“É tudo um protesto cru e mal cozido”
.H. G. Wells (Guerra dos Mundos) sobre George Bernard Shaw (Pygmalion)
“Uma criança idiota gritando em um hospital”
.Joseph Conrad (Coração das Trevas) sobre D.H. Lawrence (Filhos e amantes)
“Sujeira. Nada além de obscenidades.”
.Lord Byron (Don Juan) sobre John Keats (To Autumn)
“Aqui temos a poesia ‘mija-na-cama’ do Johnny Keats e mais três romances de sei lá eu quem. Chega de Keats, eu peço. Queimem-o vivo! Se algum de vocês não o fizer eu devo arrancar a pele dele com minhas próprias mãos.” (Fonte: aqui).
PICLE ILUSTRADO
Picle e ilustração atribuídos a Luis Pimentel e publicados num site português em 2006, que garimpei ao acaso. O picle pode ser do Luis, os desenhos, não (como veremos em postagens futuras).
segunda-feira, 26 de dezembro de 2011
2011: PRIMAVERA ÁRABE
Egito, Líbia, Tunísia, Argélia, Bahrein, Iémen, Síria e outros foram/estão sendo sacudidos pela primavera árabe. O mundo árabe passou a ser dezenas de milhares de praças Tahir, apinhadas de adeptos da democracia. Democracia que corre sério risco: militares egípcios, por exemplo, não querem entregar o poder, e as Teocracias, ao fim e ao cabo, é que poderão prevalecer de ponta a ponta. Em resumo: sai repressão, entra opressão.
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Ilustração: Pavel Constantin.
EXPECTATIVA 2012
Os corsários do patrimônio público
Marco Aurélio Mello - DoLaDoDeLá
Meu exemplar chegou na noite de Natal. Por já conhecer muito do conteúdo, parte por trabalhar como editor de economia e política nos anos das privatizações, parte por acompanhar profissionalmente casos diversos de corrupção e desdobramentos de ações da Polícia Federal, a partir de São Paulo, achei que não encontraria nada de muito escandaloso no relato de Amaury.
Afinal, como meu colega na Record, mais de uma vez falamos sobre o tema e muito do que ele comprova agora com documentos já frequentou as páginas dos jornais e revistas do país, sempre de maneira fragmentada e, muitas vezes, difusa, uma vez que o formato dos veículos e sua periodicidade nem sempre permitem ao repórter dar a abrangência necessária.
Mas fui capturado, logo nas primeiras páginas e, depois de uma breve interrupção ontem à noite, para a ceia e os cumprimentos, retomei a leitura hoje e, de um fôlego só, li de cabo a rabo suas 340 páginas sem me ater tanto ao papelório, já que nunca duvidei da capacidade de Amaury comprovar o que diz.
Surpreendo-me com os poucos jornalistas da grande imprensa que ousaram a tratar do tema, argumentando ser um "cozidão", ou ainda de se tratar de leitura indigesta, porque incompreensível a engenharia financeira dos crimes de lavagem de dinheiro. Do meu lado posso afirmar que tanto um quanto outro argumento são obra de despeito, quiçá de interesses contrariados. A leitura é fácil, o cruzamento de informações redundante o bastante para não nos fazer perder a linha de raciocínio e o texto em alguns momentos é delicioso.
Como, por exemplo, no capítulo em que descreve a foto do semblante de Serra empunhando o martelo segundos antes de desfechar o golpe contra o patrimônio público da Light do Rio, em maio de 1996. "Um sorriso (...) derramado para dentro". Outro ótimo e inédito relato é o da saga das Verônicas. Mas, a cereja vem mesmo no final, quando ficamos sabendo que o fogo amigo dos petistas de São Paulo quase sepultou a candidatura Dilma, em 2010.
A Privataria Tucana é, portanto, um retrato acabado do assalto que muitos políticos, sejam da direita, sejam da esquerda promovem ao patrimônio público. É uma denúncia grave contra aqueles que tratam o que é de todos os brasileiros, como se fosse algo pessoal e transferível para um desses paraísos que não deveriam existir.
Mas vai além do denuncismo, ao propor medidas simples para evitar o uso de contas do tipo CC5 e empresas offshores. Só torço, no fundo do meu coração, para que 2012 amanheça sob a determinação dos brasileiros de combater o crime do colarinho branco, custe o que custar. São os piores ladrões, porque tiram dos pobres o sustento e a dignidade.
domingo, 25 de dezembro de 2011
HAICAI DE BANQUEIRO
fmi? sim, todos recorrem ao fundo
exceto os banqueiros
proprietários do mundo
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Ilustração: Angel Boligan.
MATOU O PAÍS E FOI AO CINEMA
Os monstros da Coreia do Norte
Álvaro Pereira Júnior
Se tiver um tempo livre neste Natal, procure no YouTube: Pulgasari. E prepare-se para ver algumas das cenas mais insanas da história do cinema de horror.
"Pulgasari" é o nome de um filme de ficção científica norte-coreano, de 1985, feito sob instruções diretas de Kim Jong-il, na época ainda um aspirante à sucessão do pai, o déspota Kim Il-sung.
Como 100% da produção cinematográfica da Coreia do Norte, o longa enaltece o regime. Pulgasari é um boneco de arroz que, ao entrar em contato com sangue humano, passa a crescer descontroladamente, e a se alimentar de ferro. Antes que o monstro estraçalhe de vez Pyongyang, o Exército entra em ação e acaba com ele.
Segundo especialistas em cinema norte-coreano (sim, eles existem), "Pulgasari" simboliza o caráter monstruoso e insaciável do capitalismo que, não fosse pela brava resistência da dinastia Kim, tomaria conta do mundo.
O enredo não é grande coisa, mas os bastidores são fenomenais. O filme foi dirigido pelo sul-coreano Shin Sang-ok. Kim Jong-il, ditador morto esta semana, era fã de seu trabalho. Tão fã que mandou sequestrá-lo em 1977, quando Shin estava de passagem por Hong Kong.
Em um primeiro momento, Shin passou cinco meses numa pensão na capital, Pyongyang, sem que ninguém explicasse nada. Tentou escapar e foi preso em uma solitária por três meses. Ao tentar fugir de novo, acabou transferido para um campo de prisioneiros políticos, onde vegetou por inacreditáveis quatro anos.
Um dia, do nada, foi convidado para um jantar com o próprio Kim Jong-il. Ao chegar, deparou-se com sua ex-mulher, a atriz Choi Eun-hee, que tinha sido sequestrada um poucos antes dele, e cujo paradeiro era ignorado desde então.
O caso é contado em detalhes no livro "Kim Jong-il: North Korea's Dear Leader", do jornalista americano Michael Breen.
O querido líder julgava-se um esteta, a porto de ter escrito o tratado "Sobre a Arte do Cinema". Trecho: "Vocês, os diretores de cinema, devem revolucionar-se completamente, e lutar devotadamente pelo Partido e pela revolução, pela vitória da causa do socialismo e do comunismo. Essa é a maneira de se mostrarem dignos da consideração do Partido, e da confiança que ele demonstra em vocês".
A versão final para o inglês de "Sobre a Arte do Cinema" foi feita pelo britânico Michael Harrold, que trabalhou nada menos que seis anos, a partir de 1987, como revisor de inglês para o governo de Pyongyang. Na volta, Harrold escreveu um livro revelador: "Comrades and Strangers: Behind the Closed Doors of North Korea".
Foi parar ali de alegre. Tinha acabado de se formar na Universidade de Leeds quando viu um anúncio de "precisa-se de tradutor". Inscreveu-se sem saber nada sobre o regime. Depois de um ano e incontáveis confusões com a burocracia norte-coreana, desembarcou em Pyongyang.
De cara, uma gafe. Quando os dois oficiais que o esperavam no aeroporto perguntaram o que ele conhecia do país, respondeu: "Até outro dia, não sabia nem onde ficava no mapa".
Pela reação negativa dos anfitriões, Harrold aprendeu aí sua primeira e mais importante lição: a dinastia Kim erigiu um universo paralelo em que a Coreia do Norte é o centro do mundo.
Segundo essa distorção da realidade, povos de todo o planeta admiram a prosperidade e a perfeição do sistema político de Pyongyang.
Cada frase emitida por Kim Il-sung ou Kim Jong-il é aguardada ansiosamente em todo o mundo. Os EUA só têm um objetivo: destruir a Coreia do Norte. E a Coreia do Sul é o inferno na Terra.
Como Harrold suportou seis anos nesse esquema, o livro não explica. Mesmo assim, é uma peça valiosa, o relato de um estrangeiro que viveu sob um regime totalitarista, paranoico e mentiroso, talvez o mais opressivo de toda a história contemporânea. Harrold descreve a solidão da vida dos expatriados na capital, as avenidas amplas e desertas, os bares quase vazios, a pequena comunidade de estrangeiros solapados pelo tédio.
Ele não chega a se posicionar politicamente, e não demonstra grande remorso por ter atuado tanto tempo na máquina de propaganda de um regime tão repressor.
Ler o livro desse inglês e assistir a "Pulgasari" são maneiras de entender um pouco mais os monstros que assombram a Coreia do Norte.
sábado, 24 de dezembro de 2011
sexta-feira, 23 de dezembro de 2011
NATAL (XI)
No alto, cartum de Crist; acima, desenho de McDonald. A despeito das armas de fogo, o menino fez uso, mesmo, anos depois, foi de um chicote, com que expulsou os vendilhões do templo. Hoje, de volta, daria chicotadas a granel em milhares de fariseus espalhados por esse vilipendiado Templo Terra.
NATAL (X)
Nássara, genial cartunista, ilustrador e compositor, dedicou este cartão de Natal a Jorge de Salles, curador e, a exemplo de mestre Nássara, cartunista. Papai Noel ostenta um selo do Atelier Carioca de Humor, que, situado no bairro Laranjeiras, Rio, e coordenado por Jorge de Salles, promovia exposições de artes (notadamente artes gráficas) e preservava acervos culturais. Nássara e Salles faleceram; deixaram excelentes legados.
ECOS DA PRIVATARIA
(Ilustração: os caminhos da lavagem de dinheiro).
A documentação da Privataria
Por Carlos Costa
Antes do Amaury (Ribeiro Jr), vários meios de comunicação (Folha, Isto é, Carta Capital e até mesmo a Veja e o Globo) já haviam denunciado a existência de propina nas privatizações e apontado para as mesmas pessoas citadas no livro. Onde, então, está a novidade do livro? A meu ver, na documentação que dá o mapa e o roteiro de como era lavado o dinheiro das propinas. Esse é um ponto que nunca merecera a devida importância e é disso que o livro fala em duas centenas (de) páginas, com farta apresentação de documentos. Insisto, para mim, esse é o núcleo do livro, sua novidade e seu ponto forte.
Por que a lavagem do dinheiro não mereceu a importância que merecia nem mesmo da CPI do Banestado e por que o livro abre um novo caminho nas investigações? Penso que se seguia, na época, o entendimento jurídico de que a Justiça só podia condenar alguém por lavagem de dinheiro depois de ficar provado "o crime antecedente". Em outras palavras, devia-se provar primeiramente que houve propina para depois provar que houve a lavagem do dinheiro oriundo da propina. Convenhamos que é uma tarefa inglória. Já é difícil provar uma coisa, imagine as duas.
Essa vinculação, estabelecida pela nossa legislação, era até cinco anos atrás um verdadeiro obstáculo jurídico para colocar na cadeia criminosos de toda espécie, quando flagrados lavando dinheiro.
Advogados de narcotraficantes apanhados em transações típicas de lavagem de dinheiro recorriam sempre a essa chicana para livrar a cara dos seus clientes: “se não provou o crime antecedente, não pode provar que houve lavagem”.
Espantosamente, vi alguns jornalistas agindo como advogados chicaneiros do Serra. Não só desqualificaram as provas e aquele que as apresentou como também recorreram à velha chicana: “Amaury não apresentou prova cabal de (que) houve propina, então não pode provar que aquelas transações suspeitíssimas em paraísos fiscais realizadas por pessoas que giram em torno de Serra constituem lavagem de dinheiro”. Esse é o argumento da Folha e do Merval.
O que eles não levam em consideração é que uma jurisprudência criada com base em decisão da 8ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4a. Região, publicada no Diário Oficial da União no dia 3 de maio de 2006 mudou um pouco as coisas. Como adverte o próprio Amaury (p. 54), o TRF/4a. Região acatou o parecer do relator, desembargador Luiz Fernando Wowk Penteado, de que, para a caracterização da lavagem de dinheiro não é necessária a prova cabal do delito antecedente, bastando os indícios de sua ocorrência.
Ora é justamente esta jurisprudência que dá força à investigação de Amaury. E ele tem plena consciência disso, tanto que a menciona. Quanto ao poder probatório dos documentos apresentados, penso o seguinte: Amaury foi até onde um jornalista investigativo podia ir, sem ultrapassar os limites da lei. O resto é trabalho para instituições como a PF, o Ministério Público e/ou a CPI, que podem pedir quebra de sigilos e aprofundar a investigação. Mas ele colocou, nas mãos dessas instituições, a faca e o queijo: forneceu novos indícios da existência da propina e, mais importante, desenhou o mapa e apontou o roteiro do que ele chama de “lavagem de dinheiro à tucana” ou, traduzindo em tucanês, “a metodologia tucana de internação de dinheiro por meio de offshores abertas em paraísos fiscais” (p. 93). (Fonte: blog Luis Nassif).
VIVA TOM
Antonio Carlos Jobim (1927-1994) vai ser premiado pelo Conjunto da Obra na 54º edição do Grammy Awards. A cerimônia de premiação ocorrerá em 12 de fevereiro, no Staples Center, em Los Angeles (EUA). Jobim, que pôs o Brasil no mapa-múndi da música, é um dos nomes contemplados em 2012 com a estatueta do Special Merit Awards, o troféu especial do Grammy na categoria Lifetime Achievement Award.
IRAQUE, PÁGINA VIRADA
Vitória para a paz
Por Mark Weisbrot
(tradução de Clara Allain)
A cobertura do fim da guerra do Iraque é mais um lembrete do papel horrível exercido pela grande mídia em enterrar a verdade, especialmente as verdades mais importantes para o progresso social.
A Guerra do Iraque foi um crime hediondo sob qualquer ponto de vista humano. Mais de 1 milhão de iraquianos estão mortos - a maioria da imprensa nem sequer acertou esse número.
Milhões de pessoas foram deslocadas, feridas ou tiveram suas vidas arruinadas de outras maneiras, e o país ainda se encontra em um caos deplorável. Cerca de 4.500 soldados americanos morreram e dezenas de milhares ficaram feridos, mais de US$ 1 trilhão foi desperdiçado - e para quê?
Para uma guerra que foi baseada em mentiras desde o início e que não teria sido possível não fosse o fato de o governo e a mídia dos EUA terem convencido a maioria dos americanos de que o Iraque estava ligado ao 11 de Setembro. E que possuía armas de destruição em massa, quando, na realidade, não representava ameaça de segurança nem aos EUA nem mesmo a seus vizinhos.
E por que a imprensa não divulga o papel exercido pelo movimento pacifista em pôr fim a esta guerra? Sem essa pressão organizada, é pouco provável que George W. Bush tivesse assinado o acordo que impôs a retirada das tropas e não se sabe se Obama o teria respeitado.
A informação está ali para quem quiser procurá-la, mas poucos a encontrarão no noticiário da grande imprensa que jorra de sua TV, seus rádios ou seus jornais diários.
Essas lições dificilmente poderiam ser mais importantes neste momento, porque o Pentágono, que vem cada vez mais contestando a autoridade do presidente em nossa emergente república de bananas, gostaria de estabelecer bases militares permanentes no Afeganistão, como tentou, mas não conseguiu fazer no Iraque.
Derrotar essa ambição será crucial para encerrar a guerra no Afeganistão, já que o outro lado jamais o aceitará. Igualmente importante é o fato de o governo Obama estar deitando as bases para uma guerra com o Irã - repetindo o padrão que Bill Clinton e, depois, Bush seguiram no longo período de preparação para a segunda guerra do Iraque. Criando falsas ameaças, promovendo a hostilidade, recusando-se a conversar, impondo sanções e procurando isolar o país - já vimos esse filme e sabemos como termina.
E os republicanos estão ainda mais ansiosos para puxar o gatilho: Newt Gingrich afirmou que bombardear as instalações nucleares do Irã não seria suficiente e deixou fortemente subentendido que será necessária uma guerra para promover a "mudança de regime".
Os americanos, de modo geral, se opõem à guerra e não nutrem amor pelo império, como mostram pesquisas. O exemplo mais recente é a ascensão de Ron Paul na primária republicana, com base em sua atitude antiguerra e anti-império.
Mas o establishment de política externa já conseguiu em muitas ocasiões manipular a opinião pública, às vezes justamente por tempo suficiente para iniciar uma guerra que então se torna difícil de encerrar. Ele jamais conseguiria fazê-lo sem a ajuda da grande mídia.
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Há instantes, na TV, o correspondente nos EUA, manifestando-se acerca do mais recente atentado perpetrado pelo terror em Bagdá, com dezenas de mortos, informou: "A repercussão aqui nos EUA foi mínima; na verdade, o Iraque é página virada".
quinta-feira, 22 de dezembro de 2011
PRIVATARIA RECÍPROCA
"Se CPI for aberta, vou avisar que o que está no livro é pequeno. Vai chegar à sociedade a forma como a editora de uma grande revista e veículos de comunicação tiveram dívidas perdoadas depois da privatização."
(Amaury Ribeiro Jr, jornalista, ganhador de vários prêmios Wladimir Herzog e Esso de Jornalismo e autor do livro A Privataria Tucana, que revela desvio e lavagem de mais de 2 bilhões de dólares originários da desestatização de empresas brasileiras no governo FHC, dissecando mecanismos escusos de apropriação de verbas públicas já detectados na rumorosa - e morta por conveniência - CPI do Banestado. A declaração foi proferida ontem em São Paulo, em debate no Instituto Barão de Itararé sobre a Privataria e o silêncio ensurdecedor da mídia em torno do assunto. O pedido de instalação de CPI sobre a Privataria foi protocolizado ontem na Câmara dos Deputados, com 185 assinaturas habilitadas).
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Eles diseram/Amaury Ribeiro Jr Privataria.
O INIMIGO DA MORAL
O inimigo da moral
Por Wladimir Safatle
O primeiro atributo dos julgamentos morais é a universalidade. Pois espera-se de tais julgamentos que sejam simétricos, que tratem casos semelhantes de forma equivalente. Quando tal simetria se quebra, então os gritos moralizadores começam a soar como astúcia estratégica submetida à lógica do "para os amigos, tudo, para os inimigos, a lei".
Devemos ter isso em mente quando a questão é pensar as relações entre moral e política no Brasil. Muitas vezes, a imprensa desempenhou um papel importante na revelação de práticas de corrupção arraigadas em vários estratos dos governos. No entanto houve momentos em que seu silêncio foi inaceitável.
Por exemplo, no auge do dito caso do mensalão, descobriu-se que o esquema de corrupção que gerou o escândalo fora montado pelo presidente do maior partido de oposição. Esquema criado não só para financiar sua campanha como senador mas (...) também para arrecadar fundos para a campanha presidencial de seu candidato.
Em qualquer lugar do mundo, uma informação dessa natureza seria uma notícia espetacular. No Brasil, alguns importantes veículos da imprensa simplesmente omitiram essa informação a seus leitores durante meses.
Outro exemplo ilustrativo acontece com o metrô de São Paulo. Não bastasse ser uma obra construída a passos inacreditavelmente lentos, marcada por adiamentos reiterados, com direito a acidentes mortais resultantes de parcerias público-privadas lesivas aos interesses públicos, temos um histórico de denúncias de corrupção (caso Alstom), licitações forjadas e afastamento de seu presidente pela Justiça, que justificariam que nossos melhores jornalistas investigativos se voltassem ao subsolo de São Paulo.
Agora volta a discussão sobre o processo de privatização do governo FHC. Na época, as denúncias de malversações se avolumaram (...). Mas vimos um festival de "engavetamento" de pedidos de investigação pela Procuradoria-Geral da União, assim como CPIs abortadas por manobras regimentais ou sufocadas em seu nascedouro. Ou seja, nada foi, de fato, investigado.
O povo brasileiro tem o direito de saber o que realmente aconteceu na venda de algumas de suas empresas mais importantes. Não é mais possível vermos essa situação na qual uma exigência de investigação concreta de corrupção é imediatamente vista por alguns como expressão de interesses partidários. O Brasil será melhor quando o ímpeto investigativo atingir a todos de maneira simétrica.
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Corrupção. O inimigo da moral. Wladimir Safatle.
quarta-feira, 21 de dezembro de 2011
VIRTUOSOS DE TOGA
Por Mariano.
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Liminares concedidas após apagadas as luzes, suspeições à flor da pele, auferição de vantagens nebulosas, repulsa ao controle externo. Para ter uma tênue ideia sobre o que ocorre, leia o que se contém AQUI.
BREGRESSOS E GADGETS
Aposentadoria precoce
Ruy Castro
O primeiro gramofone, de cerca de 1900, tocava um disco de cera, a 78 rpm, com som precário e música gravada de um lado só. Eram apenas três minutos de música em cada chapa. Custou para a indústria fonográfica começar a gravar nos dois lados. Mas, dali, o formato se consagrou.
Em 1948, um disco de material mais leve, vinilite, girando a 33 rpm, permitiu sulcos mais delicados, nos quais cabiam de quatro a seis faixas, ou 15 a 25 minutos de música de cada lado, com ótima qualidade de som. Era o LP, ou "long playing". Foi um grande progresso. Pelas décadas seguintes, esse disco expandiu-se em lindos álbuns duplos e triplos ou em caixas com dez discos, num total de, às vezes, horas de gravação ou centenas de faixas.
Em 1985, veio o CD. Embora gravado de um só lado, continha 70 minutos de música. Dali também evoluiu para duplos e triplos e caixas inteiras, estas sem limite de discos e faixas. Um amigo meu comprou pela Amazon a caixa com Mozart completo -170 CDs que, tocados um atrás do outro, dia e noite, sem interrupção, levariam quase oito dias para ser escutados. E olhe que meu amigo nem é tão fã de Mozart.
Até que, há dez anos, ouvi falar de um novo dispositivo, chamado iPod, fabricado pela Apple e capaz de acumular mil músicas. Não dei muita atenção e devo ter me distraído porque, na vez seguinte em que me falaram do treco, ele já podia acumular 40 mil músicas. Pensei comigo: o que vou fazer com 40 mil músicas?
Os amigos nunca me perdoaram: "É um absurdo você não ter um iPod!". Mesmo assim, sobrevivi. E logo agora em que, por cansaço, estava admitindo a ideia de aderir à engenhoca, fico sabendo que o iPod, tão jovem, já se tornou peça de museu e está sendo aposentado pela Apple!
Que pena. Bem, de volta à velha vitrola.
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Vitrola, fitas cassete, CDs e basta, o acervo está de bom tamanho. O sujeito pega um gadget, quero dizer, uma engenhoca que acumula 40.000 músicas e... cadê o encarte? Muitos dos CDs velhos de guerra trazem um caderninho contendo a ficha técnica de cada canção. Maravilha. Ao contrário da infinita, impessoal e exclusiva avalanche de sons. Mas, claro, há quem aprecie.
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