Clima: Até aonde vai a paciência com reuniões do clima?
Eric Camara
Gatos escaldados, depois do banho de água fria que tomaram em Copenhague, negociadores e a própria secretária-executiva das Nações Unidas para o Clima, Christiana Figueres, falam em "resgatar confiança" e "encontrar denominadores comuns" em Tianjin, na China.
A reunião curta é a última chance para os mais de 3 mil participantes tentarem aparar as arestas mais pontudas antes do encontro de Cancún, no México, entre 27 de novembro e 10 de dezembro.
Na chamada COP 16, mais uma vez, o mundo voltará a se lembrar que enquanto a ciência é cada vez mais clara sobre os riscos das atuais emissões de carbono desenfreadas, o único plano para controlar o problema - o Protocolo de Kyoto - está dando os seus últimos suspiros. A partir de 2012, não temos mapa.
Quando, em 2009, representantes de 193 países se encontraram em Copenhague, a expectativa era de que, ao cabo de duas semanas, presidentes e líderes de governo (que não por acaso compareceram em peso ao evento) fossem abanar para o mundo as folhas do rascunho pós-Kyoto.
Em vez disso saíram, uns à francesa, outros meio apologéticos, com um tal "Acordo de Copenhague", que na prática, em vez de avançar, atravancou o processo. Até hoje, ninguém sabe direito como incluí-lo na Convenção da ONU para Mudança Climática.
Passados dez meses, pouca coisa mudou. Uns dizem até que se mudou, foi para pior. O Senado dos Estados Unidos engavetou o projeto de lei do clima proposto pelo presidente Barack Obama. Aquele mesmo que muitos já diziam que seria um avanço pequeno, depois das mudanças que sofreu nas mãos dos deputados.
A Europa, em crise, continua como aquele aluno no colégio que se encolhe na carteira e torce para o professor não lhe dirigir uma pergunta, porque não sabe a resposta. Até o movimento ambientalista perdeu um pouco o rumo. Antes, a palavra de ordem era pressionar. E agora? Se pressionar demais, é capaz de degringolar tudo...
E se Cancún repetir Copenhague? Um dos mais experientes negociadores europeus, o alemão Artur Runge-Metzger, já disse que o processo todo pode se tornar "irrelevante" para o resto do mundo. Não é à toa que Christiana Figueres pede para que todos se concentrem nos objetivos possíveis de se atingir.
A ideia é avançar em Cancún e coroar o processo em 2011, na África do Sul. Seria o momento em que finalmente os líderes revelariam ao mundo o que vão fazer para evitar que o planeta entre em uma era de mudanças incontroláveis.
Por outro lado, se Tianjin e Cancún naufragarem, não há plano B - pelo menos por enquanto - e continuaremos trilhando a tal "estrada sem fim" que Figueres citou no seu discurso de abertura.
Mas as pessoas, cada vez mais conscientes dos riscos apontados pela ciência, vão ter paciência para mais quantas COPs?
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As pessoas vão ter paciência para mais quantas COPs?
Como diria o outro: "Todas. O consolo é que, 'A longo prazo, todos estaremos mortos'".
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