O político estava há mais de uma hora na tribuna. Humildemente, pedira desculpas a seus pares e à opinião pública pelas deploráveis cenas de quase-pugilato patrocinadas em pleno plenário (beleza: pleno plenário) na semana passada.
Os apartes se sucediam:
'Diante de tal gesto, resta-me dizer: Vossa Excelência é um exemplo para este país!';
'O Brasil se orgulha de contar com um senador de tamanha estatura!';
'A humildade revelada por Vossa Excelência é a demonstração cabal e eloquente de seu caráter impoluto!';
'Vossa Excelência é o orgulho do Brasil! Verdadeiro Estadista!' (Assim, com maiúscula).
Foi então que alguém, no apagar das luzes, solicitou um aparte.
'Vossa Excelência é demais! Sumidade. Expert na arte de transformar limão em limonada. Fez aquele papelão todo e agora está aqui, colhendo elogios fantásticos; se fosse tudo proposital, não seria melhor!'
'Alto lá! Não admito insinuações. Engula o que disse!'
'Eu fiz um elogio a Vossa Excelência, e é essa a retribuição que recebo?!'
'Você me ofendeu, seu canalha!'
'Canalha é você, seu pústula! Desce daí, pra ver uma coisa!'
'Eu vou é lhe descer o braço, seu cretino!'
(A turma do deixa disso entra em ação. Pano rápido).
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