No II Festival de Cinema, há pouco realizado em Paulínia (SP), foi exibido o documentário 'Caro Francis', sobre o jornalista e escritor Paulo Francis, morto em 1997.
Dirigido por Nelson Hoineff, grande amigo de Francis, o filme se concentra nas aparições do jornalista no Jornal da Globo, no Manhattan Connection (GNT) e em imagens do arquivo pessoal da família dele.
Hoineff fez questão de ressalvar: a obra é parcial. Feita por um amigo sobre um amigo (à la Álvaro Moreyra: as amargas, não).
Não vi o documentário. Li dezenas de comentários a respeito. Elogios e pauladas acerca da opção de Hoineff e bem mais sobre o caráter e o estilo de Francis.
Louvações e impropérios à parte, listo algumas sacadas de Francis quando em Nova York, começo dos anos setenta ('Paulo Francis Nu e Cru', 1976, Editora Codecri):
.As profundezas do espírito nunca estão super-populadas (cortesia de Saul Bellow).
.Os físicos italianos B. Bertotti e A. Cavalieri alegam que só há 2% de galáxias luminosas no universo, Jaguar. O resto é reflexo e matéria morta. Menos que o juro que se paga para viver.
.Um traficante de cocaína em Nova York fatura 10 mil dólares por semana. Descontos na fonte para a polícia.
.Sabe por que você não é canhoto, Jaguar? Porque inside (dentro) mamãe, além de ficar de cabeça para baixo, você permaneceu encostado na parede esquerda do útero, o que deu à direita maior campo de manobra e de fortalecimento muscular. A direita sempre leva todas as vantagens.
.Diz o Dr. R. D. Laing que os esquizofrênicos têm mais a ensinar aos psiquiatras sobre o mundo interior do homem do que vice-versa. Laing é inglês e está atrasado. Precisa vir à América Latina.
.Há dois dias que não vejo a cara de ninguém e não falo com ninguém. Por comparação, estou me achando ótimo.
.Não existe nada que eu queira na vida. Atingi um nível de entendimento das coisas que considero satisfatório. Quer dizer, sei que sou ignorante, mas que tenho a base para deixar de ser naquilo que me interessar. O problema é que menos e menos me interesso por tudo. Considero programa ficar num sofá, sem fazer nada, nem lendo. A cabeça corre sozinha, forma conceitos, imagens, contradições, impressões etc. Nada fica ou me estimula ao esforço de completar o sugerido ou iniciado. Será a menopausa intelectual dos 40 anos, ou uma forma (ainda) branda de esquizofrenia?
(A caricatura de Francis, acima, é de Reginaldo FORTUNA).
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